A despedida juntou caras conhecidas do mundo do desporto, do jornalismo e da cultura, áreas a que Agostinho dedicou 72 anos de carreira, mas também anónimos que acompanharam o longo percurso do profissional de rádio, televisão e cinema.
Ao longo da manhã, foram muitas as personalidades que prestaram a última homenagem ao jornalista. Mas a igreja acabou por ser pequena para acolher todos os admiradores do radialista, que se despediram com um forte aplauso. Muitos não contiveram a emoção, como o apresentador Júlio Isidro que, visivelmente comovido, não conteve as lágrimas e disse apenas estar a despedir-se de "um pai".
Sportinguista ferrenho, a paixão de Artur Agostinho pelo clube de Alvalade era tão conhecida como a sua imparcialidade nos relatos de futebol que o tornaram conhecido e querido pelo público. Ontem, para além da bandeira do Sporting que envolveu o caixão, o adeus ao antigo director do jornal ‘Record' fez-se também de bandeiras e lenços vermelhos, de adeptos benfiquistas que recordaram um homem sem clube aos microfones. "Era um locutor incomparável. Quando eram 23h00 em Dili, 15h00 em Portugal, nós tínhamos esperado o dia inteiro para ouvir os relatos porque sabíamos que era o Artur", conta o admirador Leopoldino Soriano sobre a década de 60 em Timor-Leste.
A surpresa da morte foi grande para amigos como Nicolau Breyner. "Morreu uma criança, tinha um espírito muito jovem e capaz de embarcar em aventuras. Era um professor e uma referência para todas as gerações", disse.
A cultura, a humildade e a justiça para com os colegas de profissão, que o tratavam por ‘mestre', foi apontada por todos que com ele trabalharam. O futuro director de informação da RTP Nuno Santos, que colaborou com Artur Agostinho na Rádio Comercial, sublinha "a generosidade ilimitada, a capacidade de ensinar, mas também de aprender, que lhe permitiu uma vida rica".
"NÃO QUERIA SER ESTRELA"
Com 72 anos de carreira, Artur Agostinho deixa memórias a várias gerações. "Era um bom comunicador, pela cultura e pela humildade com que o fazia, sem querer ser estrela", considerou Maria José Folque, vizinha do jornalista. "O País fica sempre a dever a estes homens, e vou recordá--lo como um homem de carácter".
FÃS TÊM SAUDADE DE O VER NA TV
"Era uma pessoa inteligente e muito humilde", elogia Maria de Fátima, uma das centenas de fãs que ontem estiveram presentes na despedida ao apresentador, que faleceu aos 90 anos. "Não aparentava a idade que tinha, no entanto, agora via-o pouco na televisão", lamentou a admiradora.
CINTRA APONTA "GRANDE PERDA PARA O SPORTING E PARA O PAÍS"
Artur Agostinho dedicou grande parte da carreira a acompanhar o universo desportivo, não só pelos relatos de futebol mas também nas páginas do ‘Record', que dirigiu durante 13 anos. Ontem, os candidatos à presidência do Sporting Dias Ferreira e Bruno de Carvalho foram presenças discretas no adeus ao jornalista, onde estiveram ainda o treinador José Couceiro e o ex-líder do clube de Alvalade Sousa Cintra. Este apontou "a grande perda para o Sporting e para o País de um homem da cultura e do saber, que privilegiava os amigos". O antigo jogador do Sporting Hilário e o seu colega benfiquista José Augusto também estiveram no funeral.