O programa “Sono da Verdade”, da SIC, que tem como objectivo ajudar as pessoas a ultrapassarem certos traumas através da hipnose regressiva, foi ontem criticado por professores universitários e especialistas em hipnose que salientaram em carta aberta os danos que o programa pode provocar nos seus participantes e recordaram que estes poderão, mesmo tendo dado consentimento prévio, apresentar reclamação legal.
A crítica foi feita por José Marto, presidente da Imaginal - Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e Experimental, por Mário Simões, director do Curso de Pós-Graduação de Hipnose em Clínica Médica, da Faculdade de Medicina de Lisboa, e por Vítor Rodrigues, presidente da direcção da Alubrat - Associação Luso-Brasileira de Psicologia Transpessoal, secção de Psicoterapias.
Na carta, alertam “ser perigoso passar a ideia de que muito, ou tudo, pode ser resolvido em sessões terapêuticas de curta duração”. Alberto Lopes, o hipnotizador do “Sono da Verdade”, reage: “Claro que é possível curar e já o fiz em imensas situações de fobia e só com uma sessão. Eles não querem admitir isso porque a hipnose é ameaçadora para alguns terapeutas com a mente fechada, pois preferem ver os pacientes dependentes de fármacos e dos seus consultórios durante anos. Se o senhor Marto não tem capacidade de curar, lamento mas vai ter que ler o meu livro sobre hipnose que sai este mês. Talvez aprenda alguma coisa.
E acrescenta: “Conheço o trabalho do dr. Mário Simões. É pena não o conhecer pessoalmente. Além de ser um excelente ser humano, é um magnífico profissional e um dos homens ligados à parte clínica que dá a cara pela hipnose de forma séria. Agora, o sr. Marto só quer protagonismo. Já nas ‘75 horas de Hipnotismo’ (SIC), ele foi lá valer-se dos seus conhecimentos teóricos e disse que os jovens não estavam hipnotizados”.
PROTAGONISMO
Outra questão colocada é a dos pacientes serem informados de que durante a hipnose podem ter menos controlo sobre si. “O sr. Simões desconhece a hipnose. Se conhecesse, saberia que mesmo em trânsito hipnótico, existe um senso crítico no fundo de cada um de nós e, caso o terapeuta ou hipnólogo fizesse algo que fosse contra a sua índole moral ou interesse vital, acabaria por acordar ou não obedecia rigorosamente a nada”.
Os peritos perguntam ainda se o programa prevê o acompanhamento clínico de quem a ele se submete ou se os intervenientes são “abandonados à sua sorte”. “Claro que sim e salienta-mo-lo desde o início. Tenho algumas pessoas que foram ao programa a ser acompanhadas. Todos os que participam têm uma consulta grátis e até reduzi para metade o preço por sessão. Agora, levo 100 euros por cada consulta e 50 para os do ‘Sono da Verdade’. Deliberadamente inflacionei as consultas, pois não consigo atender toda a gente”, disse.
Este profissional deixou bem ciente não ter formação académica, considerando-se “autodidacta”. “Tenho uma formação secundária, não tenho títulos académicos. Tudo o que sei aprendi com um grande senhor da hipnose, com 30 anos de experiência. Tirei os meus cursos de especialização em Espanha, na Bio-Informação e cursos de hipnose clínica com psicólogos. Agora, onde aprendi as bases foi com o Prof. Rusten, que me acompanhou nas ‘75 horas de Hipnotismo’ e faleceu recentemente”, frisa.
“É preciso ter coragem como médico para fazer prevalecer a hipnose. Agora, esse senhor José Marto diz-se presidente dessa associação que nem sei se existe. No fundo, só quer protagonismo”, refere, adiantando que José Marto até tentou que a SIC o entrevistasse. “E agora qualquer coisa que eu faça em prol do hipnotismo, ele acha sempre que é errado. Ele ficou muito constrangido por a SIC ter convidado o psicólogo José Abreu e não ele para o programa. Quem é ele para achar que devia lá estar? O que tem ele feito em prol do hipnotismo?”.
O OBJECTIVO É ESCLARECER
Maria João Simões é a apresentadora do programa “O Sono da Verdade” que a SIC estreou no final de Março, com uma equipa formada por especialistas em hipnose tendo em conta uma época em que a oferta de medicinas alternativas ganha terreno na sociedade. É um programa de entretenimento com o objectivo de esclarecer as dúvidas que a hipnose regressiva suscita.
Todos os sábados, pelas 23h30, 4 pessoas são convidadas a libertarem-se de traumas ou bloqueios, que podem ter tido origem nesta ou noutras vidas , através da hipnoterapia.
Durante 30 minutos o hipnoterapeuta - Alberto Lopes- conduz o participante pelos caminhos da memória até chegar ao acontecimento que originou o problema e através da confrontação com esse momento convida-o a libertar-se desse fardo. Maria João Simões está com um consultor residente, familiares, amigos e eventuais testemunhas dos convidados têm igualmente voz activa em todo o processo.
A ideia original do formato é abrir um espaço de discussão pública sobre um tema que ao longo de séculos tem levantado alguma polémica e muitas dúvidas.
À SEMELHANÇA DO BOMBÁSTICO
O “Sono da Verdade” parece estar a seguir o caminho do programa “Bombástico”, também da SIC, que instalou a polémica no seio de magistrados, juízes, advogados e políticos manifestamente contra o programa devido à postura do apresentador José Carlos Soares que colocava em causa as instituições de direito. O Conselho Superior de Magistratura “tomou uma posição institucional” contestando o formato e sugerindo à Alta Autoridade para a Comunicação Social para verificar se havia ou não violação da lei. Também a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, na ocasião, avançou com uma acção em tribunal “cujo objectivo era repor a verdade”, referindo-se a casos levados ao ‘Bombástico’ - o da criança retirada ao pai e da menor vítima de abuso sexual pelo professor - em que o apresentador colocou em causa as sentenças do juiz chegando mesmo a rasgar um acórdão em público.
'A DISCUSSÃO É BENÉFICA'
“Eu não sou especialista na matéria por isso não a vou comentar. Contudo, a SIC tem a acompanhar o formato especialistas - nomeadamente o professor - nessa área que nos dão as garantias e segurança necessária para termos o programa no ar”, disse ao CM Manuel Fonseca, director de programas da estação de Carnaxide. Apesar de considerar que esta “matéria deve ser discutida por especialistas, o responsável pelos programas revelou “achar interessante e benéfico” trazer a lume o debate. Lembrou ainda “o período em que se desaconselhou as pessoas a comer azeite a favor da manteiga porque era melhor e que, presentemente, todos dizem que afinal a dieta mediterrânica é de facto a mais salutar”.
Para concluir, Manuel Fonseca garante que “as discussões entre especialistas acabam sempre por beneficiar o público em geral”.
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