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SOU O ROMÂNTICO DE CAPA E ESPADA

De um dia para o outro, o português Nuno Melo tornou-se num dos maiores casos de sucesso em terras brasileiras. Graças ao seu romantismo, o taxista Constantino é aplaudido na rua e corre riscos de se tornar num dos actores principais de ‘Senhora do Destino’. A telenovela da Globo arranca segunda-feira na SIC.

11 de setembro de 2004 às 00:00

A sua participação em ‘Senhora do Destino’ está a ter grande sucesso no Brasil…

Não acho bem isso (risos). As pessoas são simpáticas, são agradáveis, simpatizam com a minha personagem. É mais por ele ser romântico…

Faz de Constantino, um taxista. É isso que cativa os espectadores?

Não. É mais por ele ser muito romântico, pela questão inter-racial. É um homem que vem para o Brasil e tem uma postura interessante de se integrar. Ele não tem uma classe social definida, é muito delicado, cavalheiro, lê poesia, e apaixona-se por uma mulher negra, o que no Brasil ainda dá que falar.

Ainda há polémica com as relações inter-raciais?

É diferente de Portugal. Existem muitos casos mas o peso, ao nível da sociedade, é diferente. Temos que nos lembrar que os brasileiros são 180 milhões, é muita gente. Mas estou a agradar devido à personagem que faço, um romântico à antiga, de capa e espada, que enfrenta o Cigano, marido da sua amada…

De resto, o Nuno Melo e o Ronnie Marruda (actor que interpreta Cigano) filmaram cenas de pancadaria dignas de nota…

Sim. Já filmámos várias e são muito vistosas em televisão.

Não. Houve uma altura em que pretenderam filmar uma grande cena de pancadaria e a produção apareceu com três duplos. Disse logo que não e pedi para fazer tudo sozinho, pois não gosto nada de trabalhar com duplos. Claro que me ‘machuquei’ um bocadinho, ficaram muito preocupados, mas prefiro enfrentar os desafios que me são dados.

A sua personagem tem alguma particularidade?

Ele enfrenta todos os perigos, em nome do amor. O que vai dar muito que falar, aliás já começou a ser comentado, são as cenas de amor…

O primeiro beijo entre Constantino e Rita (Adriana Lessa) é uma cena muito ardente. Depois, o marido descobre e aquilo vai dar muita confusão.

Fala-se que as mulheres gostam muito de si. Tem notado isso na rua?

(risos) As pessoas são muito simpáticas na rua, isso é verdade. Faço aquilo que aqui chamam o ‘galã coroa’, um homem que já não tem idade para essas coisas, mas diz poemas de Fernando Pessoa, tem cabelos brancos e sotaque português…

OS FÃS

Já lhe aconteceu algum caso particularmente divertido com alguma fã?

Os brasileiros vibram muito com as telenovelas e há actores que quase nem podem sair à rua. Para mim, o mais curioso é as pessoas ficarem espantadas por ser português, pois pensavam que era um actor brasileiro. Todos os dias alguém me aborda…

Estava ciente do impacto que a telenovela tem no Brasil?

É completamente diferente do que se passa em Portugal. Nem tinha a consciência do peso do horário nobre. Aqui no Brasil, a novela das 20h00, como é o caso de ‘Senhora do Destino’, tem sempre muitas estrelas. E até gostava de ter um bocadinho mais de incidência na história.

Gostava de ser mais famoso?

A minha personagem está a crescer a pouco e pouco, mas gostava de ter ainda mais trabalho. Não me preocupo com a fama, preocupo-me sim em levar a personagem até ao fim. Acredito que ‘grão a grão enche a galinha o papo’.

As pessoas na rua dão-lhe conselhos?

Isso acontece quase todos os dias. Estão contentes, mas querem mais, já imaginam um final em que vou ficar com a Rita, em que dou cabo do marido dela…

AMORES BRASILEIROS

É verdade que tem uma namorada brasileira?

Que disparate! A minha namorada é bem portuguesa, e até já esteve aqui algumas vezes comigo. Estou cá há três meses, e já recebi a visita da minha namorada e da minha filha, de 16 anos.

Então, os boatos do seu namoro com Adriana Lessa (a actriz que faz de Rita na telenovela) surgem por as pessoas confundirem a realidade com a ficção?

Sim, isso aqui acontece muito. Sai-se à rua e inventam logo histórias. Isso é a coisa mais comum e às vezes cria algumas situações desagradáveis, pois tenho pessoas em Lisboa. Mas é a vida...

De qualquer forma, esta não é a primeira vez que trabalha no Brasil…

Sim, é verdade. Já trabalhei há muitos anos na co-produção ‘Cupido Electrónico’, que foi feita aqui no Brasil. Mas esta é a minha primeira novela da Globo.

Com este sucesso, o que pode mudar na sua carreira?

Pode mudar para melhor ou para pior. Estava satisfeito com a minha carreira até agora, tanto no teatro como no cinema. E digo isto porque já há uns anos que preferia não fazer televisão em Portugal, pelo rumo que esta tomou. Agora, fazer televisão no Brasil é outra coisa.

E se tiver mais propostas do Brasil?

Não sei, não faço ideia. Sempre fui muito de escolher o trabalho que me agrada, vou para Angola, para Timor, desde que o trabalho me agrade.

Como é a vida quotidiana de um actor português no Brasil? Tem problemas em lidar com a violência?

Não sou propriamente o cidadão comum. Tenho uma boa casa, um bom carro, vivo bem. Mas aqui, qualquer pessoa que tenha dinheiro tem acesso a todos os bens da vida burguesa Temos consciência da violência mas sempre lá ao longe, através dos jornais…

Então, o saldo é positivo?

Claramente, o Rio de Janeiro é a cidade maravilhosa. Há muita pobreza, mas vive-se aqui muito bem.

AS ESTRELAS

Em ‘Senhora do Destino’ trabalha com actores consagrados, como Suzana Vieira, a protagonista da história…

Dizem que é a telenovela com mais estrelas por metro quadrado.

Que aprendizagem retira desses contactos?

O melhor é o contacto humano, pois a forma de trabalhar é igual em todo o mundo. Sou profissional há 25 anos e estive sempre a trabalhar. Nunca estive parado. É tudo igual, uns são melhores outros são piores e cada trabalho é sempre uma aprendizagem, embora reconheça que trabalhar em televisão no Rio de Janeiro e, em particular, na TV Globo é aceder a um nível superior.

É verdade que os brasileiros trabalham com um ritmo mais acelerado?

Por acaso até gostava que fosse um bocadinho mais. Estou habituado a trabalhar muito. A diferença não está no ritmo, mas sim nos meios. Estou a trabalhar numa telenovela em que há cinco equipas de realização e três cidades cenográficas externas, portanto é possível gravar muita coisa ao mesmo tempo.

E as mulheres brasileiras? São particularmente bonitas?

Há de tudo. As bonitas estão todas nas telenovelas e na televisão.

Com 43 anos de idade e 25 de carreira, Nuno Melo já mostrou trabalho na televisão, cinema e teatro. Foi o Caniço de ‘Chuva da Areia’ e filho de Camilo em ‘Camilo e Filho. Lda’. No teatro fez vários trabalhos com o grupo Artistas Unidos e no cinema destacou-se em ‘Tarde Demais’ e ‘A Janela’.

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