A insólita história de quando Victor Espadinha gravou 'Ouvi Dizer' para os Ornatos Violeta
Episódio aconteceu no Porto, em 1999, quando o cantor tinha 60 anos de idade.
Tinha Victor Espadinha 60 anos de idade e já uma incursão pela música que dispensava apresentações (o melhor exemplo era esse sucesso 'Recordar é viver', de 1978), quando recebeu um convite inesperado. Estávamos em 1999.
"Um dia a editora Universal chamou-me e disse-me que havia uma banda do Porto que queria gravar a minha voz numa música. Eu disse logo: Epá, não me obriguem a ir ao Porto para gravar num disco que não é meu" começa por contar à Vidas. "Foi quando me disseram: 'Olha que eles pagam dois mil euros!'. Em 1999, ganhar dois mil euros era muito dinheiro. Então lá fui eu, quando ainda pensava que era para gravar uma canção inteira" diz. A banda em questão era os Ornatos Violeta que sobre si tinha todas as atenções pelo facto de dois anos antes, em 1997, ter lançado um dos mais inovadores discos da história da música portuguesa, 'Cão'.
E se o convite tinha sido inesperado, mais insólito foi o encontro com o vocalista, Manel Cruz. "Quando cheguei ao Porto, ele passou-me para a mão um guardanapo de papel com meia dúzia de frases escritas à mão para gravar":
"A cidade está deserta/ E alguém escreveu o teu nome em toda a parte/ Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas/ Em todo o lado essa palavra/ Repetida ao expoente da loucura/ Ora amarga, ora doce/ Para nos lembrar que o amor é uma doença/ Quando nele julgamos ver a nossa cura".
Victor Espadinha entrou em estúdio, gravou e aquilo saiu tão bem que nem o produtor, Mário Barreiros, o deixou repetir. "Ou seja aquilo ficou gravado à primeira. Disse adeus a todos e vim-me embora com dois mil euros no bolso, provavelmente os mais fáceis que ganhei na minha vida. A música, 'Ouvi Dizer', veio a ter um sucesso enorme que acho que ninguém estava à espera", recorda Victor Espadinha. Daquele episódio viria a ficar, no entanto, "uma mágoa": o facto "deles nunca me terem convidado para um concerto", remata.
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