Ana Rita Clara: “Gosto de ser posta à prova”
Abandonou a carreira de socióloga para dedicar-se aos ecrãs. Agora diz que não quer outra coisa. Aos 30 anos, Ana Rita sonha chegar longe.
Abandonou a carreira de socióloga para dedicar-se aos ecrãs. Agora diz que não quer outra coisa. Aos 30 anos, Ana Rita sonha chegar longe.
- Está a apresentar o ‘Mundo das Mulheres’, na SIC Mulher, devido a Adelaide de Sousa, mas esta não é a primeira vez que faz substituições. Como se sente em relação a isso?
- É verdade, também já substituí a Rita Ferro Rodrigues, no ‘Contacto’, e a Sílvia Alberto, no ‘Êxtase’. É uma honra para mim estar a substituir profissionais como estas, são nomes com muita experiência, força e, acima de tudo, muito carácter. É um privilégio substituí-las, e se me fizeram o convite é porque acharam que eu tinha capacidade para ocupar esse lugar. Acho que, mais do que substituir um apresentador, tem que se ser fiel a si próprio e ter o seu estilo.
- Não teve receio de as substituir, já que o público já estava habituado ao registo das outras apresentadoras?
- Agarro os desafios sem medo do que vai acontecer, até porque devemos também agarrar as oportunidades; mas não vou às escuras, procuro sempre conhecer os formatos e há que haver uma adaptação aos mesmos.
- Antes da SIC esteve na NTV. Foi aí que se estreou?
- Curiosamente, a primeira vez que apresentei em televisão foi na SIC Radical, ainda estava a estudar Sociologia na Universidade do Minho, e a minha mãe inscreveu-me. Quando o ‘Curto Circuito’ começou, eu nem sequer conhecia o formato, fizeram castings e eu fui uma das finalistas. Adorei a experiência, senti-me como peixe na água. Descobri um mundo novo e, sobretudo, uma profissão. Fiquei encantada, ainda mais porque na altura em que comecei a apresentar ainda estava a terminar a licenciatura e queria fazer outras coisas. Senti que era um universo no qual eu queria fazer o que mais gostava: conversar e comunicar com as pessoas.
- Quando foi para a NTV?
- Depois desta experiência na SIC Radical é que veio o contacto para o novo canal que surgiu no Porto, a NTV, que mais tarde deu origem à RTPN. Como sou do Norte, optei por deixar Lisboa e terminar a minha licenciatura no Minho, porque sempre tive muito bem definidas as minhas prioridades. Fui convidada para fazer um novo programa na NTV, um ‘talk show’ juvenil, o ‘XPTO’, curiosamente à mesma hora do ‘Curto Circuito’. Foi o início de um percurso que tem vindo a ser gratificante.
- Começou com o mais difícil, que são os directos.
- A adrenalina é completamente diferente. Também gosto muito dos outros registos mas os directos são outro tipo de desafio, e eu gosto de ser posta à prova. Estive no ‘XPTO’ durante quase um ano e depois surgiram outras propostas. Fiz um programa que se chamava ‘Ultra Sons’, sobre música nacional. Aí veio ao de cima outra paixão, a música. Tínhamos todos os tipos de pessoas, bandas de música, designers... Senti que o País não era apenas o Porto, fervilhava de cultura. Foi uma fase muito importante. Apresentei outros programas, até que cheguei a ter uma edição especial do ‘Top Mais’, para a RTP 1, com a Isabel Figueira e o Francisco Mendes. No final de 2005, surgiu o convite do Nuno Artur Silva, das Produções Fictícias, para fazer uma gala do ‘Inimigo Público’, no Cineteatro Tivoli. Correu tão bem que fui convidada pelo Nuno e pelo Manuel Fonseca, director de programas da SIC, para voltar e apresentar o ‘Inimigo Público’ com o Rui Unas – foi um reencontro depois do ‘Curto Circuito’ – e a Joana Cruz.
- Isso implicou uma mudança do Porto para Lisboa...
- Mudei-me do Norte para a capital e estreei-me num novo canal. É uma lógica completamente diferente, porque havia a questão das audiências. Outro estilo diferente de fazer televisão, um enorme desafio e um grande prazer. Depois de entrar na SIC nunca mais parei.
- Gostava de ter um programa seu?
- Já tive oportunidade de ter projectos em que não estava a substituir ninguém e as coisas correram igualmente muito bem. Como aconteceu com o ‘Inimigo Público’, o ‘Cinco Estrelas’, as emissões especiais e vários programas ao longo dos quatro anos que estou na SIC, além dos programas que apresentei na RTPN.
- O que gostava mais de fazer?
- Gosto muito dos directos mas os programas em diferido também são agradáveis, no sentido em que dá para produzir muitas coisas completamente diferentes, e a televisão também tem que ter isso. Identifico-me muito com o tipo de formato que estou a apresentar agora, ‘Mundo das Mulheres’, um talk show, porque gosto de conversar, sobretudo de comunicar. Gosto de programas com diferentes temas, dessa versatilidade, e acho que também seria interessante ter um programa de entrevistas. Mas tudo tem o seu tempo, e um programa de entrevistas, à semelhança do da Marília Gabriela, de grande sucesso, também tem a ver com o enorme percurso de uma mulher que é uma gigante da comunicação. E eu acho que o meu caminho tem que ser feito um passo de cada vez, para atingir uma certa maturidade, e aí, então, as coisas terão o seu espaço.
- Considera-se versátil?
- Sim. Já fiz tantos registos diferentes, desde um ‘Rock in Rio’, ou um ‘Contacto’, ou um ‘Êxtase’, mas depois já estou numa emissão especial da SIC de cariz mais popular...
- Como socióloga e amante da cultura, porque não um programa que abrangesse estes dois temas?
- Temos que nos adaptar aos tempos. Não dá para ter um programa em televisão numa estação generalista, a não ser num canal temático, apenas sobre cultura. Por isso, acho que isso não é possível.
- Que entrevistados gostaria de ter no seu programa?
- A Marília Gabriela seria uma delas, um grande desafio, aliás gigantesco. Acho que me sentiria muito pequenina ao lado de uma senhora que considero tanto. Quanto a homens, gostava de entrevistar António Lobo Antunes. Seria interessante falar com políticos e outras pessoas de diversas áreas em conversas intimistas, de uma forma descontraída, que fossem imprevisíveis. Podem ser também anónimos, que têm histórias incríveis para contar.
- Sair do Norte para Lisboa foi uma mudança muito grande?
- Na altura estava a viver no Porto mas sou natural de São João da Madeira. Foi difícil afastar-me da minha família e amigos – mas eles estão sempre presentes na minha vida. Sempre fui muito independente, e isso foi também, felizmente, base de uma educação, de uma forma de estar na vida e um ambiente familiar de construção individual. Sempre me deram espaço e sempre me apoiaram muito. A ida para Lisboa foi, naturalmente, nos primeiros tempos, uma adaptação estranha. Faltava conhecer os espaços e sentir-me mais ambientada, mas tudo se ultrapassa. Desde que entrei para a SIC nunca, felizmente, deixei de ter trabalho, só quando o ‘Êxtase’ terminou é que pude respirar um bocadinho e parar.
- O que fez quando parou?
- Nunca estive realmente parada, porque entretanto criei a minha própria produtora de ‘new media’. A Drop Produções foi criada para agarrar novos projectos. Tenho uma série de amigos e excelentes profissionais a trabalhar comigo. Fiz os canais de TV on-line para festivais de música que emitiram o Super Bock Super Rock, que foi um grande êxito, e depois para o Sudoeste. Era o rosto desse canal on-line e foi um grande sucesso. Depois fiz um DVD para a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Gostaria que a minha produtora se especializasse em ‘media’, nestas novas formas de comunicação on-line, mas que divergisse para outras coisas e que me possibilitasse fazer outros projectos em televisão.
- Mas continuou a apostar na sua formação profissional.
- Tirei um master em Gestão Empresarial e Editorial dos Media e tirei alguns cursos de apresentação. Agora vou, entretanto, fazer um workshop de realização de documentários.
- Também tem experiência na área da representação. Gostaria de enveredar por esse caminho?
- Tive formação de técnicas teatrais, entrei numa curta-metragem, umas peças de teatro, e apesar de terem ficado muito lá atrás no tempo tenho-as sempre presentes em mim. Agora, acho que se tivesse um convite para fazer uma série ou uma novela teria que pensar duas vezes. Se surgisse o convite para o cinema ou o teatro... são coisas que me farão pensar. Não deixo de agarrar os desafios quando acredito que os tenho que fazer e que é o momento certo e que estou preparada para os fazer.
- Deixou a sua família no Norte. Como é a sua relação familiar?
- Os meus pais são os reis da minha vida. A minha mãe é a minha melhor amiga, é a crítica mais directa e frontal que já conheci. Diz-me tudo, desde o cabelo aos sapatos, à pergunta que fiz, à forma como mudei de tema... Tudo. Acho isso muito importante e preciso disso. Gosto dessa frontalidade nas pessoas e não sou nada ligada a deslumbramentos. Trabalho é trabalho, e eu tenho que o construir o melhor possível. Os meus pais e o meu irmão são observadores atentos, gostam do meu trabalho, felizmente, mas são muito críticos.
- Vive em Lisboa sozinha?
- Sim, sozinha.
- Tem namorado?
- Podemos falar de outras coisas?! Não falo dessas coisas (risos).
REFLEXO
- O que vê quando se olha ao espelho?
- Uma pessoa positiva, feliz com o que já realizou mas com muito ainda por concretizar.
- Gosta do que vê?
- Sim. Porque me sinto bem na minha própria pele.
- Alguma vez lhe apeteceu partir o espelho?
- Não, dizem que dá azar... Não sou superticiosa mas é sempre melhor evitar...
- Quem gostaria de ver reflectido no espelho?
- Nunca pensei nisso.
- Pessoa de referência?
- A nível pessoal, a minha mãe, porque é a minha melhor amiga e também uma grande crítica do meu trabalho. A nível profissional, o Jay Leno, o Larry King ou a Marília Gabriela. Mas há muita gente que me serve de exemplo.
- Um momento marcante da sua vida?
- O convite para a SIC mudou a minha vida. Foi então que tive a certeza de que comunicar era o meu caminho.
- Qualidade e defeito?
- Teimosia quanto baste e muita determinação.
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