Dudu: "O Marco dizia que eu ia ser a pessoa mais conhecida de Portugal mesmo que não quisesse"
Um ano após a morte do cantor, Eduardo Ferreira, o herdeiro surpresa, recorda o amigo e fala sobre a divisão da herança.
Um ano depois da morte do Marco Paulo e atendendo à amizade que partilharam, qual é o seu primeiro sentimento quando pensa nele?
Tenho muitas saudades. Ainda hoje tenho no telemóvel as músicas que ele mais gostava. Assim que entrava no meu carro, punha-as logo a tocar. Fazíamos os passeios todos a cantar. Há dois anos, assinou-me um disco que ainda hoje está no mesmo sítio onde ele o deixou, mesmo ao lado do meu banco no carro.
Está a pensar assinalar a data de 24 de outubro [dia da morte do artista] de alguma forma?
Em princípio, no dia 24, nós, os amigos mais próximos, vamos a uma missa em Fátima. Havia uma coisa que o Marco Paulo me dizia sempre: “Não deixes o meu nome cair no esquecimento”. Aliás, ele dizia isso a todos os amigos.
Muito se escreveu ao longo deste último ano. Acha que a memória do Marco foi desrespeitada?
Houve alturas em que eu acho que sim, que ele foi desrespeitado. Quando se descobriu que eu era herdeiro, a generalidade da comunicação social foi muito maldosa comigo e com ele, até mais com ele. Quando começaram a dizer que tínhamos um caso amoroso e que o Marco tinha um namorado ou um amante secreto, ele já não estava cá para se defender. Eu sei que a comunicação social precisa de vender, mas não pode valer tudo.
O Eduardo saltou do anonimato para se tornar conhecido do país inteiro de um dia para o outro. Como é que lidou com isso?
Foi tudo muito violento. Eu aparecia todos os dias nas televisões e nas revistas: “Amantes”, “amantes” e “amantes”, era só o que se lia. A isso juntavam-se comentários muito desagradáveis.
Alguma vez pensou em procurar ajuda ou terapia?
Houve uma altura em que decidi procurar ajuda sim, mas como tenho um suporte familiar muito grande acabei por desistir. O meu pai, a minha mãe, o meu irmão, a minha mulher, os meus tios e os meus amigos foram fundamentais. E depois houve outra coisa muito importante para mim: eu sempre tive a consciência tranquila. Outro qualquer tinha-se matado.
Chegou a escrever-se que a sua corporação [Sapadores de Braga] estava contra si!
Isso foi tudo mentira. Aliás, o meu trabalho foi outro grande suporte para mim. Os meus colegas foram sempre espetaculares e fizeram questão de me protegerem de tudo o que se estava a passar. Houve alturas em que eles saíam em serviço na minha vez só para evitarem que eu pudesse ser apanhado pelas câmaras ou pelos fotógrafos. Não foi nada fácil. Aliás, eu entrei agora no Big Brother para me dar a conhecer e para ver se acabavam as especulações de uma vez por todas. Claro que o prémio de 30 mil euros era apetecível e toda a gente precisa de dinheiro, mas eu queria era que as pessoas soubessem quem eu de facto era. E ainda bem que eu entrei porque o feedback foi excelente.
Alguma vez se deslumbrou pelo facto de se ter tornado famoso?
Não, muito pelo contrário. No início custou-me muito ver a minha cara, a da minha mulher e a do meu filho nas revistas. Ainda agora estive de férias no Algarve e a minha família foi toda fotografada. Eles não têm culpa do que aconteceu. Aqui a noticia sou eu. Agora começo a juntar algumas peças do puzzle. O Marco dizia-me muitas vezes: “Tu vais ser a pessoa mais conhecida de Portugal, mesmo que não queiras”.
Mas quando lhe dizia isso, o Eduardo já sabia que era seu herdeiro?
Não. Sabe porque é que as pessoas ficaram muito surpreendidas quando apareceu o meu nome? Porque eu nunca tinha partilhado nada e ninguém me conhecia de lado nenhum. A verdade é que eu cheguei a ir três vezes com o Marco aos Globos de Ouro. A questão é que simplesmente optava por não publicar nada. Eu não fazia questão de mostrar nada aos outros.
Falemos da herança então. Já se escreveu que vai avançar para tribunal contra os outros dois herdeiro, o António Coelho [compadre] e o Marco António [afilhado]. Porquê?
Em princípio vou avançar. Tenho 99,9 por cento de certezas que isso vai acontecer. Não há forma de chegarmos a acordo. Vou falar em números hipotéticos: se eu quero receber 20 e eles só me querem dar 5, obviamente que não pode ser.
Quando é que se reuniu pela última vez com eles?
Foi no dia em que entrei para o Big Brother [22 de julho]. Estivemos todos juntos à mesa e eles ficaram de dar uma nova resposta. Estamos à espera.
E como é que foi esse encontro entre vocês?
Foi tranquilo. Trataram-me muito bem e acho que só têm que tratar. Nesse aspeto não posso queixar-me de nada.
Mas qual é a proposta que neste momento está em cima da mesa?
Eu não posso falar disso, até porque eu quero ver se ainda levo isto a bom porto. Não sei se será possível, até porque isso vai obrigar-me a gastar mais dinheiro em advogados. Eu já gastei muito desde que me tornei herdeiro do Marco Paulo. Para já não herdei nada. Só estou a pagar. Só posso dizer que a proposta que me fizeram é irrisória, nunca podia aceitar.
E quanto é que já gastou?
Não vou precisar números, mas já gastei uns milhares. Ainda por cima tive de meter baixa quando tudo isto rebentou porque fui muito julgado e foi difícil trabalhar. Acabei também prejudicado em termos financeiros quando até tinha um salário bastante razoável.
Mas esse dinheiro que despendeu foi do seu bolso ou teve que pedir ajuda?
Por acaso tinha, mas felizmente também tenho um bom suporte familiar. Os meus pais disponibilizaram-se logo para me ajudar, até porque eu também tenho as minhas despesas e uma casa para pagar.
Nessa reunião que tiveram foi dado algum prazo aos outros herdeiros para apresentarem uma nova proposta?
Não, mas não podemos estar indefinidamente à espera. O que está em causa neste momento são as contas bancárias. O património está registado e já está apurado, não há como fugir, mas as contas estão uma grande confusão. Por isso é que eu digo que o mais certo e irmos para tribunal porque aí vai ter que se apurar mesmo tudo.
O António Coelho é considerado o cabeça de casal neste processo de herança. Quantas vezes falou com ele desde que o Marco morreu?
Falei uma vez com o Toni e foi tudo muito cordial. Falámos apenas sobre a morte do Marco, numa altura em que já se sabia que eu era herdeiro. Depois disso nunca mais contactámos e até acho estranho que eu seja o único a falar sobre o Marco. Eles deviam vir a público defender a honra e a memória dele depois de tanta coisa que já se escreveu. Falar do Marco seria sempre homenageá-lo.
Quando soube do património do Marco nomeadamente ao nível dos imóveis, ficou surpreendido. Esperava mais ou menos?
É um património muito bom, não é qualquer português que tem aquilo.
E aqueles milhões todos que se falaram ao início?
Lá está... eu nunca tive acesso às contas, por isso não sei. Mas alguém terá lançado esses valores. Na minha opinião não vieram do nada.
Mas acredita mesmo que o Marco Paulo tenha no banco os milhões que se chegaram a escrever?
Ele ganhou muito dinheiro, sobretudo nos anos 80 e 90, era um homem muito poupado, mas 80 milhões como se disse parecem-me exagerado. Se fosse nos EUA ainda poderia acreditar, em Portugal acho que não é possível.
Aquilo que o Eduardo pretende agora é em bens ou em dinheiro?
Eu prefiro em dinheiro que é para depois não ter mais ligação nenhuma com o resto da família. Quero acabar com isto e seguir a minha vida.
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