Mãe de Renato vai viver para perto do filho
Odília Pereirinha levou dois livros, revistas e uma manta para Renato Seabra, que continua internado no Bellevue Hospital.
Dois livros, revistas e uma manta branca "para o frio", grande preocupação de Odília em relação ao filho, tudo no saco com que a mãe do modelo entrou ontem na ala psiquiátrica do Bellevue Hospital. "Deus queira que os médicos não o deixem sair dali. Protegido da cadeia", já confessou aos amigos Dulce e João, emigrantes que a têm ajudado em Nova Iorque, conta ao CM fonte próxima da família. "Não quer que ele a veja chorar, faz tudo para se mostrar forte" - e, além das visitas, "escreveu uma carta ao Renato a dizer que estará sempre com ele. Conta meter baixa psiquiátrica e a seguir reformar-se para viver perto dele, durante e depois do julgamento", onde estará acusado de matar Carlos Castro
Odília esteve ontem à tarde quase duas horas com o filho. À saída recusou falar ao CM, por estratégia imposta pelo advogado até 1 de Fevereiro, quando o Supremo disser se Renato vai a julgamento, e porque crime, mas teme o pior. O modelo arrisca 25 anosperpétuahomicídio em 2º grau. "Ela espera que o Governo português ajude e que ele cumpra pena no nosso país. Tem de ajudar", não se cansa de dizer. A mãe tem recordado a amigos o que disse a Renato, antes do crime, quando este se queixou da má relação com o cronista, num telefonema que lhe fez de Nova Iorque. "Ela disse ao filho que não voltasse ao quarto do hotel", onde o jovem acabou por assassinar e castrar Carlos Castro com um saca-rolhas, no último dia 7, e "fosse para casa da Dulce", em Newark, onde Odília está agora a dormir.
A mãe de Renato tem confessado aos amigos que o filho "é frágil", segundo a mesma fonte, embora não o visse "perturbado com quase nada". E recorda "como ele chegava arrasado do concurso de moda", quando algo corria mal, e ela lhe fazia "massagens até ele adormecer". O único problema que Odília conhecia no filho era ser hipocondríaco. "Tinha pavor das doenças, achava estar sempre a descobrir nódulos no corpo". De resto, a obsessão de Renato era "com o corpo. Escultural. Passava a vida a tomar banho e a pôr cremes". O aparecimento de "qualquer borbulha" destabilizava-o.
"Eu sou forte e ele precisa de mim", não se cansa de repetir a mãe aos amigos, embora esteja "mais magra e não durma".
AMIGA ACOLHE MÃE DE RENATO EM NEWARK
Segundo o CM apurou junto de amigos de Odília Pereirinha, a mãe de Renato Seabra está a viver em casa de uma amiga, conhecida por Dulce, na zona de Newark. Esta amiga acompanhou ontem Odília até ao Bellevue Hospital, no centro de Nova Iorque, onde esperou pelo final da visita. Depois saíram novamente juntas e regressaram à zona conhecida pela presença da comunidade portuguesa.
SANIDADE EM CAUSA
A cargo de David Touger, um advogado judeu com muita experiência em casos de crimes violentos, a defesa de Renato Seabra vai apostar na tese do homicídio involuntário, alegando insanidade momentânea. O objectivo é reduzir a pena a que Renato possa vir a ser condenado. Neste caso, a pena de prisão a aplicar variaria entre os seis e os 25 anos.
Segundo o CM apurou, a defesa vai socorrer-se da equipa de psiquiatras que tem observado o modelo. No parecer clínico foi apontada uma perturbação psicológica, anterior ou na sequência do homicídio de Carlos Castro. Por esta razão, os médicos têm mantido Renato na ala psiquiátrica do Hospital de Bellevue, considerando que aquele é incapaz de perceber a gravidade do crime pelo qual está indiciado.
Maxine Rosenthal é a procuradora que tem a cargo a acusação, que aponta para homicídio em 2º grau (cuja pena pode variar entre os 25 anos e a prisão perpétua). A 1 de Fevereiro, o juiz do Supremo Tribunal decide se há julgamento, já depois de 23 eleitores escolhidos entre o povo de Nova Iorque terem votado sobre se Renato Seabra deve ser julgado pela acusação de homicídio em 2º grau. Assim que receber alta médica, o homicida confesso é transferido para o complexo prisional de Rikers Island.
"RENATO ESTÁ BASTANTE DOENTE E DEVIA ESTAR MUITO ALTERADO"
A decisão de manter Renato Seabra hospitalizado, sob detenção, foi interpretada pela população de Cantanhede como uma prova de que o manequim "está bastante doente" e estaria "muito alterado" quando praticou o crime. Isabel Vaio acredita mesmo que o jovem "sofreu horrores" desde que ingressou no "mundo obscuro da moda". E quando ligava à mãe "a queixar-se de que não dormia, provavelmente não o fazia com medo de que lhe acontecesse alguma coisa de mal", interpreta Isabel Vaio, que acredita que o jovem "caiu numa argolada".
Na cidade, o sentimento geral é o de que "o rapaz está a morrer aos bocados". Num tom diferente, Patrícia Reis lamenta que "tenha acabado com a vida dele e com a da família". A população tem demonstrado estar solidária com Renato Seabra e a família, mas ontem começava já a revelar sinais de cansaço relativamente ao caso. "Só esperamos que a verdade venha ao de cima", sustentam.
DEPOIMENTO DE DETECTIVE
Segundo o detective John Mongiello, da Polícia de Nova Iorque, que esteve no local do crime, Renato Seabra tinha a intenção de matar Carlos Castro. O detective conta que viu o corpo do cronista, nu, deitado no chão. O rosto estava coberto de sangue e de ferimentos e os testículos tinham sido cortados.
AGREDIDO COM VIOLÊNCIA
John Mongiello refere ainda, na acusação, que Renato Seabra confessou ter agredido Carlos Castro de várias maneiras: estrangulou-o, apunhalou-o com um saca-rolhas, pontapeou-o, atirou o cronista de cabeça contra a televisão e no fim cortou-lhe os testículos. Perícias confirmam agressões.
PORMENORES
MÃE NÃO ACREDITA
Odília foi quem fez a mala a Renato, a seguir ao Natal, para as férias com Carlos Castro nos EUA, mas a homossexualidade do filho nunca a convenceu. "Ele contava tudo à mãe e falava muito de raparigas". Odília "dizia-lhe sempre para não se esquecer de andar com preservativos no bolso".
LEGADO
Em carta escrita a 7 de Fevereiro do ano passado, para ser lida após a sua morte, Carlos Castro encarregou o amigo Miguel Villa de zelar por um espólio de dez mil slides com imagens.
MENSAGENS
Antes de viajar para os EUA, Carlos Castro dizia que estava a viver uma "imensa felicidade" e chegou a mostrar aos amigos mais íntimos as mensagens enviadas por Renato Seabra para o seu telemóvel.
NOTAS
INFERNO: RIKERS ISLAND
Renato Seabra vai ficar preso, assim que tiver alta médica, no complexo prisional de Rikers Island, a cadeia de alta segurança do estado de Nova Iorque. Fica numa ilha com 167 hectares.
ACUSAÇÃO: MAXINE ROSENTHAL
A acusação do estado de Nova Iorque contra Renato Seabra está a cargo da procuradora distrital adjunta Maxine Rosenthal, que tem uma vasta experiência em crimes sexuais violentos.
CASTRAÇÃO: USA SACA-ROLHAS
Segundo o depoimento do detective John Mongiello, da Polícia de Nova Iorque, e que serve de acusação, "os testículos do senhor Castro foram cortados". Foi utilizado um saca-rolhas.
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