Thiago Rodrigues: "Hoje é mais difícil acreditar no amor"
Há dois anos que o ator deixou a TV brasileira e atravessou o oceano para se estabelecer em Portugal. Thiago diz estar a adorar mas sofre diariamente com saudades do filho, Gabriel.
Está a viver em Portugal há três anos. É definitiva esta mudança?
Eu abri um mercado aqui, mas tenho o mercado no Brasil a funcionar e, invariavelmente, vou para lá. Na verdade, a minha vontade é viver entre cá e lá, mas para já estou a gostar muito de trabalhar em Portugal...
Como é que surgiu o convite inicial?
Em 2017 vim para Portugal a convite da Globo Portugal para fazer as reportagens do programa ‘Sem Cortes’. Foi na altura em que saí da Globo...
Porquê?
Tinha pedido para sair porque estava há 16 anos a fazer as mesmas coisas, sem poder fazer cinema, séries e coisas diferentes de novelas. Mas depois do programa decidi que ia passar mais um tempo por cá, programei mais seis meses. E quando isso aconteceu tanto o Ricardo (Pereira) como a Dalila Carmo abriram-me portas... algo para o qual eu nem tinha pensado. A Dalila apresentou-me pessoas da TVI e o Ricardo da SIC e eu recebi o convite para fazer o ‘Valor da Vida’. E achei formidável...
Foi complicado deixar a sua vida no Brasil?
Eu tinha um plano de seis meses e já estou em Portugal há dois anos [risos]. Claro que não é fácil sair do ambiente de conforto que eu tinha... mas o pior foi mesmo estar longe do meu filho, Gabriel, de dez anos. Na prática é o único problema. Eu sou muito desligado de coisas materiais, gosto muito de viajar e não me prendo a coisas, mas estar longe do meu filho é difícil.
Muitos colegas explicam que a razão de terem deixado o Brasil prendeu- -se com a insegurança do Rio de Janeiro e de São Paulo...
Isso não é uma das razões que me levaram a sair de lá. Eu sou nascido e criado no Rio por isso eu sei onde está o perigo. Sempre me soube safar disso e nem nunca fui assaltado. Mas é uma realidade porque é uma cidade que vive no perigo [faz uma pausa]. Contudo, não adianta eu estar aqui a dizer isso porque sou pai, apesar de eu estar a salvo o meu filho não está.... e isso é não me deixa em paz.
O seu projeto de estreia em Portugal foi ‘Valor da Vida’. Sai satisfeito agora que chegou ao fim?
Muito, muito, muito... [risos]. O Vasco era um cara que estava sempre diante de escolhas muito difíceis e ele enrolava muito. E isso irrita qualquer pessoa [risos]. Mas adorei fazer...
Adaptou-se facilmente ao nosso ritmo de trabalho?
Sinceramente, eu não vi grandes diferenças. Claro que a infraestrutura da Globo é muito maior, onde trabalham 5 mil pessoas, porque ali eles têm que comunicar com 200 milhões de pessoas... Mas o método de trabalho, assim como os profissionais, têm igual profissionalismo.
E agora... fale-me deste homem que interpreta em ‘Prisioneira’?
É bem diferente. O elenco é muito bom, os colegas são muito interessantes... eu faço de um piloto de uma empresa de aviões que passa por um trauma, uma situação limite com a filha que o vai mudar. E mais não posso dizer... exceto que o Gustavo tem um amor secreto pela mulher do amigo, ou seja, pela Joana Ribeiro. São estes os conflitos que vão ser a génese do meu personagem.
Fala muito das saudades do seu filho...
[interrompe] Porque são muito grandes. Eu às vezes fico a pensar se não seria mais importante para ele eu estar lá. Mas eu sei que no futuro ele vai-me agradecer eu ter vindo fazer isto, até porque pode ser importante para ele.
Falam todos os dias?
Quase todos, pelo Facetime. É estranho mas já me habituei.
Já se viram entretanto?
Ele veio para cá o ano passado em julho... e este ano vem novamente nas férias da escola. Vem um mês. E eu também estive no Brasil um mês e meio depois do fim das gravações de ‘Valor da Vida’. E assim isto torna-se menos difícil...
É muito próximo do seu filho?
Sempre fui. Ele foi planeado, algo que sempre quis ter...e sou muito agarrado a ele. E falamos sobre tudo. É o mais complicado, o destino de uma criança depois de uma relação terminar? Falo do desfecho da sua relação com Cris Dias...
Sem dúvida. Mas ele sempre ficou em primeiro lugar.
Apesar de a sua relação de 11 anos ter falhado continuou a acreditar no amor?
Claro, mas é mais difícil acreditar no amor neste mundo tão fugaz.
Está em Portugal há dois anos. Ainda está solteiro?
Sim...
É fácil?
[Risos] Eu vivi uma relação de 11 anos com a mãe do meu filho e hoje a gente tem uma amizade muito boa... e depois disso preferi cuidar um pouco mais da minha carreira, pensar nas coisas que quero realizar... e não penso muito nisso até porque as coisas, eu acredito, acabam por acontecer. Além de que quem muito procura tende a não achar. Por isso, se eu achar uma mulher ótimo, senão está tudo bem também...
O coração nunca palpitou por uma portuguesa?
Às vezes ele palpita [risos]. Mas até agora não tenho nada especial. Namoro atualmente com o meu trabalho.
No Brasil é um sex symbol. Como lida com este rótulo?
Isso aconteceu quando eu comecei. Mas nunca foi nada muito importante na minha carreira. E ainda bem porque eu não estudei para ser sex symbol, mas sim para ser ator.
Tem fãs em Portugal, como é óbvio. No que é que diferem dos fãs brasileiros?
O assédio no Brasil, sobretudo fora do Rio de Janeiro tem... alguma fisicalidade [risos]. Mas aqui eu sinto educação, especialmente das pessoas vindas de Cabo Verde, Angola... mas eu sempre lidei bem com assédio porque eu entendo porque é que acontece. É natural que causemos algum fascínio e curiosidade. Se não quisesse que isto acontecesse eu teria ido fazer outra coisa qualquer...
Falemos disso então. Hoje quando olha para trás sabe porque é que quis ser ator?
Em 2004 foi o meu primeiro trabalho na Globo, mas eu entrei na escola de teatro em 1998, aos 18 anos. Mas nem eu sei o que me levou a isto. Eu sempre fui um cara muito comunicativo, talvez por isso eu ache que se não tivesse sido ator teria sido advogado... porque são duas profissões muito parecidas, fala-se muito e defende-se por vezes o impensável. Como nós com os personagens. Além de que na minha família há mesmo muitos advogados [risos].
Foi fácil dizer aos seus pais que queria ser ator?
Foi. Eu sempre tive apoio. A minha mãe mais. O meu pai tinha algum receio e queria que eu tivesse um plano B...que eu nunca tive [risos]. Eles tinham um pouco de receio porque é uma profissão meio inglória.
Estamos a falar dos seus pais. Como é que eles lidam com o facto de o filho viver tão longe?
Não é fácil para eles... mas sentem também muito orgulho do filho, rompendo com o local de conforto dele e se aventurar do outro lado do Atlântico e estar a conseguir conquistar o seu espaço. A saudade existe, mas há também muito orgulho.
A saudade é muito importante quando se muda de país?
É a palavra... Mas saudade para mim, confesso, só mesmo do meu filho Gabriel [fica sério]. O resto depois administra-se.
Está com 38 anos. A idade preocupa-o?
Não, nada. Eu inclusivamente gosto muito de ver os anos passar. A vida fica mesmo mais gostosa. E aproveita-se melhor. Também porque eu, apesar de ter ganhado idade, não fiquei com o rosto marcado por ela...
A cultura brasileira está muito virada para o culto do corpo. Trabalha-o muito?
Quando tenho tempo vou ao ginásio... não é o caso agora. Mas aqui tenho que me cuidar porque a comida é muito boa, por isso durante a semana tento portar-me bem. Mas garanto que em Portugal tenho mais três quilos do que no Brasil [risos].
Agradecimentos The One Palácio Avenida
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