Aos 44 anos, o músico lança a autobiografia ‘Um Lugar ao Sol’, um livro onde fala da vida pessoal e dos motivos que levaram ao fim dos Delfins
Aos 44 anos, o músico lança a autobiografia‘Um Lugar ao Sol', um livro onde fala da vidapessoal e dos motivos que levaram ao fim dos Delfins.
O que é que pretendeu com esta autobiografia: arrumar a casa, exorcizar fantasmas ou simplesmente fechar um capítulo de vida?
Este livro não foi ideia minha, foi um desafio que me foi lançado por uma pessoa que leu no Correio da Manhã a notícia de que os Delfins iam acabar. A primeira reacção que tive foi dizer não, mas com o tempo cheguei à conclusão de que um livro deste género até me podia ajudar, não só no tal arrumar de casa, mas também a fixar muitas memórias de vida antes que elas começassem a fugir com a idade (risos).
Mas escrever uma autobiografia aos 45 anos não é muito cedo?
No início eu também achei que sim. Aliás, até comecei por pensar em escrever esta autobiografia como se tivesse 80 anos, o que era capaz de ser um exercício engraçado, mas depois achei que, pelo facto de os Delfins terem começado muito novos e tendo o seu início correspondido a um mito da indústria musical portuguesa, havia muito para contar.
Isto de ir ao baú das memórias foi confortável para si ou foi doloroso?
Doloroso não (risos). Acho que as coisas boas e más têm de ser equacionadas da mesma maneira. O que tentei fazer nesta autobiografia foi não embandeirar em arco as coisas boas que me aconteceram, mas também não dramatizar as más. E acho que consegui fazer um relato muito cru e muito directo sobre tudo o que me aconteceu, bom e mau.
Emocionou-se muito a escrever este livro?
Claro que sim. Em algumas partes emocionei-me mas eu não sou uma pessoa saudosista. Para além do mais, neste livro falo de alguns locais com os quais ainda hoje me reencontro pelo facto de continuar a viver em Cascais. O liceu onde andei, por exemplo, é o liceu onde anda o meu filho, assim como a sala de ensaios onde os Delfins começaram era ao lado do Santini, espaço que ainda hoje existe. Ainda há pouco tempo, o Duarte, o filho do avô Santini, me dizia que quando dormia em casa dos avós, por cima da geladaria, nos ouvia a tocar.
É uma pessoa bem resolvida com o seu passado?
Completamente. Não mudava uma vírgula naquilo que fiz na minha vida ou na minha carreira, mas conselhos posso dar (risos). Eu sempre tentei ser dono do meu destino e nunca acreditei que ele estivesse escrito. Acredito, por exemplo, que os meus filhos e os meus pais têm neste livro a história engraçada de uma vida e de uma geração. Quem ler este livro percebe facilmente que eu não falo só de mim, mas de muitas das pessoas que se cruzaram na minha vida.
Neste exercício de escrita que é uma autobiografia, conseguiu separar bem o Miguel Ângelo, o homem e o pai, do Miguel Ângelo, o músico e o vocalista dos Delfins?
Sim, não foi difícil, até porque em alguns momentos tentei olhar-me mesmo de fora. E acho que consegui.
Ficam muitas histórias por contar? Há aspectos da sua vida que não quis, de todo, abordar neste livro?
Acho que ficou muito pouco por contar. O que aconteceu foi não ter dado tanta importância a alguns aspectos da minha vida, simplesmente porque achei que não tinham interesse.
Como por exemplo?
Como o meu divórcio ou o período em que a banda enfrentou grandes dificuldades por causa do bar que tínhamos em Cascais, o Lótus. Mas devo dizer, por exemplo, que, nos anos 90, alguns dos elementos dos Delfins tiveram problemas com drogas e eu falo disso abertamente neste livro. Acho que devia essa transparência aos fãs que sempre nos acompanharam e também aos miúdos que estão agora a começar.
Tendo os seus filhos nascido com os Delfins no activo como é que foi quando teve de lhes comunicar o final da banda?
A Máxima nasceu estava eu a ensaiar no S. Luiz, em Novembro de 1991, e o Martim nasceu em pleno reboliço dos Delfins, em 1995. Quando lhes comuniquei que a banda ia acabar disse-lhes a seguir que a música ia continuar na minha vida. Por isso não houve nenhum drama familiar.
Eles sempre lidaram bem com o pai figura pública?
Sim, mas são muito envergonhados. Não gostam de entrevistas e de fotos.
Algum deles seguirá música?
Julgo que não, mas isso também não me incomoda. A Máxima está a tirar hotelaria e o Martim vai seguir qualquer coisa ligada às informáticas. Mas ela em particular, porque vive comigo, desde os 16 anos vive muito o meu dia-a-dia.
O Miguel também está a viver um novo capítulo na sua vida pessoal.
Sim. Tenho uma pessoa há um ano e meio que só por acaso está ligada também ao mundo da música. É uma relação que me faz sentir muito bem.
Neste livro, o Miguel Ângelo lembra quando os Delfins fizeram capa dos maiores jornais nacionais. A verdade é que a determinada altura a imprensa deixou cair os Delfins, que viraram quase um ódio de estimação. Porque acha que isto aconteceu?
Acho que, nos anos 90, os Delfins tiveram uma grande exposição mediática. Eu próprio andava cansado de me ouvir (risos). Quando entrava num shopping lá estava a dar o ‘Sou como Um Rio'. E acho que os média também se ressentiram dessa exposição. Aliás, nós próprios também nos ressentimos. Foi por isso que a determinada altura parámos e lançámos as nossa carreiras a solo. Quando os Delfins voltaram em 2000 foi com um disco em que quase assumimos um alter ego para fugirmos de nós próprios. E esse disco não foi bem compreendido.
Esta biografia chama-se ‘Um Lugar ao Sol'. Sente que faz parte da história da música portuguesa?
Não, não sinto isso. Para mim, ‘Um Lugar ao Sol' foi poder, em Portugal, ser profissional da música. Sou arquitecto, tenho o curso, mas o meu grande sonho sempre foi a música.
E os seus pais sempre viram com bons olhos essa vontade?
Sim. A minha mãe sempre me percebeu bem até porque ela quis ser fadista, o meu avô é que não a deixou. E depois, o facto do meu pai também ter decidido a meio da sua juventude mudar de vida para a área das artes plásticas também ajudou a que lá em casa houvesse uma compreensão muito grande.
O Brasil chegou a chamar-vos os U2 portugueses. Alguma vez se sentiu o Bono português?
(risos) Isso aconteceu por altura da primeira viagem que fizemos ao Brasil. Foi uma surpresa ver o destaque que a imprensa brasileira nos deu. Fomos ao Jô Soares e até ao programa da Xuxa. O Brasil foi, aliás, uma das grandes hipóteses que nós tivemos de internacionalização.
E por que é que não resultou?
Nós chegámos a ter um convite para ir trabalhar para o Brasil durante seis meses. Mas pelo facto de isso nos obrigar a ir viver para lá optámos por não ir.
Porquê?
Porque todos nós tínhamos casamentos e filhos recentes e era muito complicado sair do País durante tanto tempo. Achámos que isso ia dar cabo das nossas vidas pessoais. Como as coisas corriam bem do ponto de vista financeiro, porque dávamos muitos concertos, resolvemos não ir. Não éramos ricos mas vivíamos confortavelmente. O que aconteceu é que, por ironia do destino, seis anos depois estava tudo divorciado (risos).
Diz no livro que a determinada altura percebeu que sentia dificuldades em comunicar com o Fernando Cunha (guitarrista). Foi difícil encarar essa realidade?
Foi, mas foi acontecendo aos poucos. Eu sempre vi os Delfins como uma banda pop, mas sempre como um laboratório para experimentar coisas novas. E o Fernando deixou de se interessar por isso.
Fala numa ‘amizade podre'. Ainda se falam?
Sim, falamo-nos, mas não nos damos como nos dávamos naquele tempo. É evidente que as relações pessoais entre nós acabaram por sair afectadas. Houve uma altura em que o Fernando alegou o contrato assinado por todos os elementos da banda no qual ele era o director musical e isso foi a gota de água para o grupo ter acabado.
No final destes 25 anos de carreira com os Delfins sente-se triste ou aliviado?
Tenho a consciência de como importante foi a minha vida nestes 25 anos. Estou muito satisfeito com o que fiz e estou contente em saber que tenho mais 25 anos pela frente e que aos 80 anos, provavelmente, farei a segunda parte desta autobiografia.
O que está a fazer agora?
Estou a produzir uma banda portuguesa chamada Os Lábios e estou incluído num novo projecto musical, que irá sair no início do ano e que faz uma nova abordagem da música portuguesa dos anos 60.
INTIMIDADES
Quem gostaria de convidar para um jantar a dois?
O autor da WikiLeaks. Ele é, sem dúvida, o homem do momento. Acho que um jantar só nem chegava.
Não consigo resistir a...
Chocolates da Cadbury!
Se pudesse, o que mudava em si, no corpo e no feitio?
No feitio acho que mudava a minha teimosia, mas acho que com a idade estou a ir lá. No corpo... não sei. Gostava de ter mais cabelo, mas tenho dúvidas que ter uma cabeleira como o Elton John não seja piroso.
Sinto-me melhor quando...
As coisas me correm bem.
O que não suporta no sexo oposto?
Aquele corporativismo que existe entre elas.
Qual é o seu pequeno crime diário?
O que lamento é não ter mais tempo para ler.
O que seria capaz de fazer por amor?
Subir ao monte mais alto.
Complete. A minha vida é...
Uma viagem da qual ainda só vou a meio.
Fotogaleria de Miguel Ângelo
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