A edição de hoje
'Complô' é uma reflexão sobre a discriminação e o sistema prisional português.
O DocLisboa está à porta – a 23ª edição deste festival internacional de cinema documental decorre de 16 a 26 deste mês – e entre os filmes que integram a programação do evento está a nova aventura do realizador João Miller Guerra. ‘Complô’ (86 minutos) gira em torno da vida atribulada de Bruno ‘Ghoya’ Furtado, o músico e ativista que nasceu em Portugal mas que, como tantas pessoas nas mesmas circunstâncias, não tem nacionalidade portuguesa – com os contrangimentos que daí advém, incluindo o facto de não poder ir visitar os seus filhos a Inglaterra, sob o risco de não poder voltar ao País. Ao CM, o realizador conta que conheceu Bruno Furtado em 2009, quando rodava o documentário ‘Li Ké Terra’ e quando o rapper – que já tinha estava preso – estava em fuga. “Ele deixou-me filmá-lo e ficou esta ideia, em potência, de contar a história do Bruno e das situações de discriminação que ele denuncia, nas suas músicas e não só”, conta João Miller Guerra.
Quando o cantor – que se destaca no ‘rap crioulo’ e tem álbuns gravados – foi libertado, o projeto pôde andar para a frente. “Filmei durante quatro anos, acompanhando o Bruno, enquanto gravava temas novos e refletia sobre o período passado na prisão”, continua o realizador, que diz que “é preciso assumir que em Portugal há racismo” e que “a situação prisional é tudo menos ideal, uma vez que as pessoas saem de lá piores do que entraram”.
O filme, da produtora Uma Pedra no Sapato, fez a sua estreia absoluta em julho, no Festival Internacional de Cinema de Marselha, e agora apresenta-se no DocLisboa antes de fazer o circuito comercial, em sala, em novembro. “Sei que não posso ambicionar muito: o filme não deverá estar muito tempo em cartaz, mas gostaria que suscitasse algum debate em torno das questões que levanta. Que nos pusesse todos a falar sobre discriminação e sobre o sistema prisional que temos no País, e que é tão falho”, conclui João Miller Guerra.
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