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Árbitro, jogador e dirigente

A Associação de Futebol de Leiria (AFL) tem nos seus quadros um árbitro, que é ao mesmo tempo jogador e dirigente de uma das equipas do campeonato distrital.

30 de dezembro de 2004 às 00:00

Luciano Pedrosa Gonçalves foi ‘denunciado’ depois de apitar um jogo de futsal entre duas equipas da série onde milita o seu clube, mas quer o visado quer os responsáveis pelo Conselho de Arbitragem (CA) da AFL desvalorizam a revelação.

“É um rapaz com muito jeito, que tem todas as condições para estar no futebol.” O facto de apitar um jogo com equipas da mesma série do Centro Recreativo de Alcanadas, onde integra os órgãos sociais da secção de futebol, “foi um lapso nosso, mas vamos tentar que não volte a acontecer”, justifica Júlio Viegas, presidente do CA da AFL.

“As pessoas estão a aproveitar-se de um erro para ter protagonismo”, adianta, por sua vez, Luciano Gonçalves, de 24 anos, salientando que “fala-se de muita coisa a este propósito, mas que não tem qualquer sentido”.

O jovem confirma que está inscrito como jogador na equipa de Futsal do Alcanadas, mas afiança que nunca jogou. “A inscrição foi feita por necessidade de completar o grupo”, justifica.

Quanto à função de dirigente, esclarece que aceitou integrar órgãos sociais do clube, quando um grupo de sócios decidiu criar uma secção de futebol no Centro Recreativo de Alcanadas.

A entrada na arbitragem aconteceu há dois anos, mas Luciano Gonçalves jura a pés juntos que nem lhe passou pela cabeça que pudesse existir incompatibilidade. E defende os serviços da AFL.

“O erro foi meu. A Associação tem tantos clubes e tantos atletas, que pode não ter feito o cruzamento de dados” para detectar a irregularidade, refere.

Embora considere que a sua participação como dirigente ou atleta não iria interferir no seu desempenho como juiz, Luciano Gonçalves já tomou uma decisão radical.

“Vou anular de imediato a inscrição como atleta e deixar de ser dirigente do clube”, garantiu ao Correio da Manhã o jovem, que apita sobretudo jogos de futebol de 11 do Campeonato Distrital da AF Leiria e de Futsal da 2.ª Divisão da mesma região.

“Quero estar na arbitragem a cem por cento, pois é essa a minha aposta para o futuro”, adianta Luciano Gonçalves, que aspira a progredir no quadro de árbitros da AFL e sair da categoria de estagiário para afirmar-se no Futsal e no Futebol de 11.

SITUAÇÃO VIOLA ARTIGO 29

A situação em que se encontra o jovem Luciano Pedrosa Gonçalves viola o Regulamento de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O presidente do Conselho de Arbitragem da AFL, Júlio Viegas, garantiu ao CM não havia problemas pelo facto do jovem ser dirigente e árbitro, mas não é isso que está escrito no manual da arbitragem portuguesa.

De acordo com António José, chefe de serviços da FPF, a condição de árbitro é incompatível com o exercício de cargos dirigentes em clubes da mesma modalidade e isso está bem explícito no Artigo 29.º do regulamento. A fiscalização do cumprimento destas normas, ainda segundo este responsável, cabe aos organismos regionais.

AS MALHAS QUE O FUTEBOL TECE

EMPATE

O desafio que levou à denúncia da situação do desportista Luciano Gonçalves opôs a Golpilheira (Batalha) ao Bárrio (Alcobaça) e terminou num empate. Na altura, ninguém se queixou.

SILÊNCIO

O cruzamento de interesses no mundo do futebol nacional, por vezes, escapa até aos dirigentes. Um árbitro, por exemplo, apitou um jogo onde esteve o filho e só se soube mais tarde.

DIFICULDADE

A dificuldade em recrutar novos árbitros propicia a ocorrência de situações de incompatibilidade como esta. Os clubes indicam os nomes dos candidatos, mas nem sempre dizem tudo.

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