Ator que dá vida a Acácio em ‘Sol de Inverno', na SIC, assume que gosta do registo cómico, mas reconhece que já precisa de interpretar um papel com uma "carga emocional grande".
Procura nas suas memórias afetivas inspiração para as personagens cómicas que o catapultaram para a fama. Tinha dez anos quando sentiu o apelo para a representação, com o filme ‘O Destino Marca a Hora'. Representar é um talento que divide com a encenação e a escrita. Depois de ‘Queres Namorar Comigo?', seguir-se-á ‘O Homem Que Acordou com uma Nuvem na Cabeça'.
CorreioTV - O Acácio de ‘Sol de Inverno' [pai de Fátima - Luciana Abreu] é uma personagem que lhe tem dado gozo ‘pintar'?
João Ricardo - Sim. A aferição a esta personagem tem sido diferente. No início foi-me dito que entraria só em três episódios, mas parece que vai continuar.
E a personagem evoluiu...
Podemos dizer que sim. A nível de texto, começo a implantar algumas coisas minhas, que acho que podem ter graça, e mesmo do estudo que fiz da personagem. Estive no Norte.
E como foi essa pesquisa?
Tinha uma avó que era de Estarreja (Aveiro) e utilizava muito esta coisa dos ‘v' e dos ‘b' - como o ‘binho' (vinho). E depois alguns nomes e trejeitos das gentes do Porto, que a personagem utiliza, vieram por assimilação. Por exemplo, o culto a St.ª Maria Adelaide ou os nomes que nós conhecemos mas que geograficamente não existem no nosso imaginário, como ‘Cedofeita'. Acho bonito. As pessoas no Norte têm muita afetividade nas palavras.
E leva tudo isso para Acácio?
Às vezes quem escreve intelectualiza muito as figuras populares.
Os autores dão espaço para o improviso?
Depende da contracena. Neste momento, estou a contracenar com a Luciana Abreu. Ela tem aquela raiz nortenha, que se expõe muito, portanto transmite aquilo que está no imaginário da sua infância e, para mim, é mais fácil ir ao seu encontro. Nós, atores, só brilhamos se o outro nos fizer brilhar. É uma questão de generosidade mútua.
Com Acácio, temos um seguimento do Armando, de ‘Laços de Sangue'?
Tento modificar alguma coisa. E neste pensei vou pôr-me careca, era só para 2 ou 3 episódios, e propus que a personagem tivesse uma cabeleira que ficasse mal. Curiosamente, há um indivíduo que trabalha na rua dos Fanqueiros, em Lisboa, que tem uma cabeleireira assim [risos]. Isto para dizer: esta figura popular existe. Para quê intelectualizar?!
Acha que, de algum modo, está conotado a este tipo de personagens?
Para ficar contente comigo, penso: já fiz o Armando Coutinho e, agora, o Acácio. Portanto, tenho um leque e qualquer dia posso fazer um espetáculo. É bom as pessoas conhecerem-me neste registo, para depois, numa próxima novela, ou num próximo trabalho, poder ter autoridade para dizer quero mudar e experimentar fazer outras coisas. Espero ter essa a oportunidade. Mas agradeço à SP e à SIC estas personagens que me projetaram, sem dúvida.
Acha que este Acácio terá o mesmo impacto?
Será que sou eu que estou deslumbrado? Que às vezes me atrevo a dizer que vai ter mais impacto?! Em três dias no ar tive logo feedback das pessoas. Se calhar porque o público já está fidelizado com a novela. Mas acho que as pessoas simpatizam muito com o ator João Ricardo.
E que outro registo gostava de experimentar?
Gostava de interpretar um serial killer e uma mulher. Uma mulher que só no fim se descobrisse que é homem. Gostava que não fosse uma personagem cómica. Que fosse uma história sobre a tragédia de uma mulher [homem] sem filhos, que fosse bastante feminina, com os seus rituais de maquilhagem. Gostava de fazer uma coisa com uma carga emocional grande.
E porquê um serial killer?
Gosto do bom gosto e do lado sádico da projeção do mal, mas com a tal dignidade. Ou seja, poder dizer ‘amo-te' e ao mesmo tempo estar a pensar ‘mas mais tarde vou dar cabo de ti'. Todos temos um lado terrível escondido [risos].
Vê as telenovelas em que participa?
Vejo um episódio e depois pergunto às pessoas se gostaram. Sinceramente não gosto de me ouvir, não gosto de me ver. Quando estou a fazer, divirto-me, mas depois acho que podia ter feito outra coisa.
Ter contrato de exclusividade com a SIC é uma segurança?
É um agradecimento. Se a TVI estivesse em pé de igualdade com a SIC, e se me desse muito mais dinheiro, não tenho dúvida de que optava pela SP e pela SIC. Já trabalhei na TVI, mas foi esta casa que me fez. Foi esta casa que me projetou e estou agradecido à Gabriela Sobral e ao António Parente. São duas pessoas que tenho no coração. E depois, nesta casa já conhecem as minhas birras. Sinto que as pessoas têm carinho por mim. E nunca me cortaram as pernas, pois sempre tive os meus projetos.
É reconhecido na rua?
Sim e fico muito vaidoso.
O público vai ao teatro?
Acho que para mal de alguns colegas, as pessoas vão ao teatro quando há caras que veem na televisão. É um erro, mas é a realidade. Há uns anos tive a sorte de me puxarem para projetos televisivos.
Os atores são mal pagos?
São. Estamos numa profissão em que temos de ler, de viajar, em que damos o que temos às pessoas, e para dar precisas de ser feliz. Não é o poder de compra que dá a felicidade, mas permite-te saber, ter poder de argumentação. Tenho muitos colegas que neste momento passam fome e procuram trabalho. E são bons atores e boas atrizes.
Quantos estão no desemprego?
Há muitos, não tenho ideia do número. Se pensarmos que numa novela cabem 30 atores... depois há os veteranos e ainda os que saem do conservatório - que entram numa novela e depois em outra, atingem a ribalta, mas depois desaparecem. Como se preparam as pessoas para isto?
Tem-se falado num sindicato, qual a sua opinião?
A sindicância é sempre a força. Tem é que se criar uma estrutura. Como é que alguns ganham muito - e eu não me queixo, porque ganho acima da média - e outros pouco? Como vamos criar estabilidade? Um padeiro tem uma tabela. Criar uma tabela? Bom, mas também é como os jogadores de futebol, se jogas na primeira divisão ganhas mais. É complicado.
Quais são os seus próximos projetos?
Estou no Teatroesfera, uma coisa que se chama ‘Fábrica de Sonhos', e ando com a Ana Sofia Gonçalves [ilustradora] a divulgar o livro que escrevi, ‘Queres Namorar Comigo?'. Tem sido muito gratificante.
O que o levou a escrever um livro infanto-juvenil?
Fascina-me o teatro para a infância. Dizem que o homem é aquilo que foi na infância e eu acho que não tenho o complexo de Peter Pan, mas tenho um filho de oito anos e aprendi a redimensionar-me, a voltar a brincar...
A escrita vai estar cada vez mais presente na sua vida?
Sim. Sou intrinsecamente feliz com os papéis que faço, com as histórias que invento.
E gosta de encenar?
É o lado que acho que me dá pinta como intelectual. É engraçado para as pessoas que não imaginam que consiga fazer uma coisa tão disciplinada.
É indisciplinado?
Sou muito disciplinado e acho que a ideia contrária me prejudica um pouco.
Do que não abdica?
De dar um beijo a quem me apetece ou dar um colo a quem precisa.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.