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Músicos abandonam concertos no Kennedy Center após mudança de nome para “Trump-Kennedy”

Presidente da instituição nomeado por Donald Trump acusa artista de “manobra política”.

30 de dezembro de 2025 às 17:36

A decisão de renomear o histórico John F. Kennedy Center, em Washington DC, para “Trump-Kennedy Center” continua a gerar polémica no meio artístico norte-americano. Nas últimas semanas, vários músicos e companhias artísticas anunciaram a desistência de atuações previamente agendadas, em sinal de protesto contra a mudança aprovada pelo conselho de administração da instituição. 

O mais recente caso envolve a banda de jazz The Cookers, um septeto de músicos lendários nomeado para os prémios Grammy, que cancelou um concerto na passagem de ano com apenas dois dias de antecedência, de acordo com o jornal The Guardian

Embora o grupo não tenha indicado explicitamente a razão da desistência, publicou onde sublinha que “o jazz nasceu da luta e de uma insistência implacável na liberdade: liberdade de pensamento, de expressão e da plena voz humana”.  

A renomeação do centro cultural provocou indignação generalizada e até desafios legais, apesar de a nova designação ter sido rapidamente colocada na fachada do edifício. Pouco depois, o baterista e vibrafonista Chuck Redd cancelou também um concerto de véspera de Natal.  

Em resposta, Richard Grenell, presidente do Kennedy Center nomeado por Donald Trump, ameaçou processar o músico por um milhão de dólares, acusando-o de realizar uma “manobra política” prejudicial a uma instituição artística sem fins lucrativos. 

“A decisão de se retirar no último momento - explicitamente em resposta à recente mudança de nome do Centro, que honra os extraordinários esforços do Presidente Trump para salvar este tesouro nacional - é uma intolerância clássica e muito dispendiosa”, disse Grenell na carta, que foi obtida pelo Washington Post. 

Outros artistas seguiram o mesmo caminho. A cantora folk Kristy Lee anunciou o cancelamento de um concerto marcado para o próximo mês, afirmando que não consegue atuar num palco onde a história americana é “apagada ou rebatizada para servir o ego de alguém”. 

Também a companhia Doug Varone and Dancers retirou duas apresentações previstas para abril, declarando que não pode pedir ao seu público que entre numa instituição que considera ter perdido a sua identidade original. 

Richard Grenell reagiu às sucessivas desistências acusando os artistas de intolerância e afirmando que os espetáculos tinham sido programados pela “anterior direção da extrema-esquerda", que, segundo ele, privilegiava ativistas políticos. Para o responsável, boicotar a instituição em nome da defesa das artes é um sinal de radicalização ideológica. 

Entre os membros dos The Cookers, o saxofonista Billy Harper foi particularmente crítico, afirmando que jamais atuaria num espaço que, na sua opinião, representava racismo aberto e a destruição deliberada da cultura musical afro-americana. As suas palavras evocam a longa tradição do jazz como forma de resistência e expressão cultural num país marcado por desigualdades radicais.  

Washington DC, conhecida historicamente como “Chocolate City” devido à forte herança afro-americana, foi berço de figuras como Duke Ellington e Marvin Gaye. Para muitos artistas, a polémica em torno do Kennedy Center ultrapassa a simples mudança de nome e simboliza um conflito mais profundo entre política, cultura e memória histórica nos Estados Unidos. 

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