Veio Setembro e a RTP1 trouxe séries às noites de semana. À segunda, retomou uma série de ficção bem conhecida, ‘Prós & Contras’, que "debate" uma questão para que o sistema que nos oprime mantenha a aparência de solidez e possa continuar a oprimir-nos sossegadamente.
Quase todas as semanas, lá se blá-bleia um problema candente para o qual o governo do momento já tem "propostas" e "soluções". E lá se senta, em lugar cativo, um governante ou seu porta-voz, na mesinha do lado esquerdo ou na do lado direito. O Governo agradece e Fátima Campos Ferreira permanece. O ‘Prós & Contras’ chegaria para a RTP existir.
À terça, passa ‘Mulheres Assim’. O episódio de estreia foi ao jeito de comédia de enganos: quatro personagens dialogam sem que das palavras surja verdade, antes complicações nas relações entre si. O segundo episódio desviou para a família duma personagem secundária, e passou para o drama em tom ligeiro.
Foi também de enganos este drama, com a nova protagonista sem saber quem era por causa duma amnésia esquisita que lhe deu às voltas de carro numa rotunda. A série tem enganos a mais: é mal escrita e a intriga acumula pormenores irrealistas, dando vontade de rir pela falta de graça e de interesse nas situações e nos diálogos; está mal realizada; a música é uma xaropada; usa a repartição do ecrã como "modernice" sem sentido para o género, o estilo e para a própria narrativa.
Às quartas, passa a série ‘Os Boys’, sobre a corrupção na política, nos negócios e também no jornalismo. O tema é uma lufada de ar fresco. À parte um telefilme de 2003 (de que fui argumentista), o cinema e a TV portugueses têm tido aversão a ficcionar a política nossa contemporânea, prática comum nos EUA, Inglaterra ou França.
‘Os Boys’ ataca questões do momento, como os negócios corruptos entre governos e construtoras, o tacticismo e os interesses na base das decisões políticas, os advogados sem escrúpulos, os jornalistas ambiciosos que se ligam aos poderosos, as chantagens, as ilegalidades e crimes (roubo de documentos, etc.), a demagogia no discurso político servindo para manter o poder e enganar o povo.
Como o argumento é bem melhor que o de ‘Mulheres Assim’, os actores servem-no bem. Há algumas incongruências (no dias das eleições é proibido caçar, por exemplo), mas, sendo a série no género cómico, aceitam-se detalhes errados numa farsa bem construída.
A série rechaça o habitual recurso ao humor do tipo revista. Não é feita de piadas ou sketches, como de costume, mas uma ficção que revela pela hipérbole cómica a triste realidade da política sistémica que vemos às segundas-feiras na mesma RTP1.
Guerra nos media contra a Justiça
Antes, a dona candidinha dava entrevistas como quem bebe água. O desprocurador-geral, um pantomimeiro governamental, falava por cá dá aquela palha e almoçava com os donos do regime. O juiz Rangel pavoneava-se na imprensa e na TV. A dona Morgado derrama lágrimas pela imprensa compensando o deserto na luta contra a corrupção. Que paz! O sistema dorme e ressona de barriga cheia.
Mas, ai!, um juiz que o sistema odeia por não ser dele e ser juiz de leis discorre sobre a vida pessoal – e a pátria dos negócios escuros e dos escarros impressos comove-se e estremece: o juiz tem de ir embora!
Os donos disto tudo compram jornais e metem os seus obedientes cães de fila baptizados de generais prussianos passeando à beira-Tejo, entrevistando e opinando nos seus jornais e canais contra o juiz que disse uma frase, uma frase!, sobre si mesmo mas que se calhar, se calhar!, era menção indirecta, indirecta!, ao ex-marechal e parceiro dos donos disto tudo.
Pedir desculpa agora para não pedir mais
Para ilustrar o número de quem sofre dum cancro, a RTP mostrou e mencionou o estádio dum clube de futebol. A imprevidência ou estupidez não têm limites. Como era coisas da bola, a RTP apressou-se a pedir desculpa. Pena que não pedisse ou não peça quando fez ou faz fretes ou reportagens lindas sobre o poder que a mantém viva e irreformável.
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