Gozando o fresco da noite, falamos dos incêndios, de doenças, passamentos, a falta de água. A conversa esmorece, e então o Pimenta, com intenção igual à de quem espevita as brasas da lareira, anuncia que quando falecer quer que o embrulhem num lençol, acha burlesco ir o defunto aperaltado, de gravata, camisa de seda, calças vincadas, sapatos a brilhar.
- Alguém sabe se também lhes vestem roupa interior?
Há sorrisos acanhados. Um diz que com certeza não, seria ridículo, outro pensa que sim, acha decente, é então que alguém recorda a Guida Raposeira que Deus tenha.
A devoção dessa boa alma era lavar os mortos e vesti-los a preceito, até ao dia em que a funerária quis para si o serviço e o pagamento. Desapontada, arranjou vingança: oferecia–se para fechar a capela depois do velório, e a sós com o defunto, inspecionava-lhe a roupa.
Dali a pouco corria o boato: estes tinham vestido à mãe uma saia rota, a tia daqueles ia sem meias, o pai dos outros nem sapatos levava, mas uns chinelos, o Bernardo ia sem ceroulas.
Durou pouco o alívio quando ela própria faleceu, porque a curiosidade ficou e os boatos não param.
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Tão distantes, que já nem exóticos parecem, antes medievais.
O razoável funcionamento da caixa cerebral que armazena os dados.
Mais vezes do que – fosse ela de santo – a paciência aguenta.
Veio a droga, veio o martírio, sobram as ameaças.
Em vez de agradecer os conselhos, mostram má cara.
Um vasto número de portugueses, embora consiga ler um texto, tem dificuldade de interpretá-lo.