Éinjusta, deselegante e discriminatória a pena de três jogos de suspensão aplicada pelo Conselho de Disciplina da FPF ao árbitro Jorge Sousa. Foi-lhe aplicado esta semana o castigo por ter posto na ordem um jogador de futebol dirigindo-se--lhe, é verdade que autoritariamente – mas não é essa a sua função? – em termos isentos de perfídia, isentos de deseducação e de vulgaridade tendo em conta (e foi isto, precisamente, que os doutos juízes e conselheiros da justiça desportiva não tiveram em conta!) que o sobredito cidadão Manuel Jorge Sousa nasceu no Porto. Lá nasceu há 42 anos e lá, no Porto, deve ter sido criado desde o berço pelo que, à luz da Academia da Língua Portuguesa – que não existe mas devia de existir – está o árbitro em questão superior e civilizacionalmente autorizado a proferir a palavra "c……" no princípio, no meio ou no fim da cada frase, como soar melhor, sem que se lhe possa atribuir intenções de ofender quem quer que seja ou de se ofender a si próprio por recorrer a baixezas, a grosserias ou a coisas ainda piores.
A condenação absurda de Jorge Sousa começa logo por incorrer num gravíssimo erro formal. A gravação das suas palavras não foi autorizada por um juiz!!! E, no entanto, já todo o país as ouviu. Ora aqui está o famosíssimo erro formal que, em tempos não muito distantes, serviu para safar das garras da lei uma catrefada de acusados de um outro processo em que o vernáculo era rei e senhor num rol infindo de palavras, de metáforas pecaminosas e de interjeições da mais variada estirpe que nada valeram em tribunal mas que continuam disponíveis no Youtube para os estudiosos destas coisas do linguarejar das nossas regiões.
Ao infeliz Jorge Sousa bastou-lhe uns poucos "c……." para se ver castigado pela FPF que tem sede em Lisboa e está, por certo, contaminada pelos falares de uma Capital de snobes onde as frases mais ouvidas nas suas ruas terminam invariavelmente num horrível "ok" – será por causa dos turistas? – e não em "c……" que sempre é nosso porque é português. Deixem que vos relate um caso que vivi há meia dúzia de anos e que ajudará, espero, a ilibar Jorge Sousa perante a opinião pública. Conversava eu com uma simpática portuense que era professora de Língua Portuguesa no secundário quando, ao trigésimo oitavo "c……" em cinco minutos de diálogo, lhe perguntei sem agastamento mas com curiosidade. "Oh senhora doutora, não serão ‘c…….’ a mais?" E que resposta sublime recebi: "Oh, não ligue, sabe que no Porto ‘c……’ é como se fosse uma vírgula!" E com isto logo se me calou a sobranceria alfacinha. E por isto não posso aceitar o castigo a um árbitro só porque abusou das vírgulas quando utilizava o discurso direto numa ação pedagógica. Liberdade para Jorge Sousa!
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