O Governo decidiu dar tolerância de ponto à Função Pública no dia 12 de Maio, a pretexto da visita do Papa a Fátima. Dois deputados do PS mostraram-se indignadíssimos: Tiago Barbosa Ribeiro ficou ‘estupefacto’ com tal coisa num ‘Estado laico’ e Isabel Moreira considerou que a decisão reflectia a ‘imaturidade’ da nossa democracia. Realmente, não há como o PS (enfim, partes dele) para ressuscitar o jacobinismo que esteve na origem do culto de Fátima. Nem o PCP e o BE criticaram a decisão do Governo.
O que Ribeiro e Moreira não perceberam e o PCP e o BE perceberam, para além da generalidade do PS, é a oportunidade que assim se abre para a geringonça fazer o pleno. Com a esquerda conquistada à partida, a geringonça foi, aos poucos, graças às suas políticas ortodoxas, conquistando a direita, em especial as elites económicas. Fátima é excelente para chegar àquele bom povo que ainda tem um medo epidérmico dos ‘comunas’. O PS trabalha para as eleições, com a sociedade portuguesa toda na palma da mão.
As reacções do PCP e do BE mostram a armadilha em que se meteram: enquanto durar a popularidade do Governo, têm de aceitar quase tudo o que ele fizer, para não parecer que contribuíram para destruir esta frente tão popular. Com o actual ambiente, no dia seguinte a porem em causa a geringonça, seriam esvaziados pelo PS em eleições.
Mas ao mesmo tempo, a crescente subordinação do PCP e do BE vai-os descaracterizando fatalmente. Fátima é um dos momentos altos do anti-comunismo do século XX. O PCP é um partido comunista e o BE é um partido de origens comunistas. Esta normalização de Fátima a que se prestaram normaliza-os perante pessoas que os detestam, mas também é uma enorme traição à sua história. Por enquanto, são obrigados a seguir a popularidade do Governo. Mas se continuam assim, chegará o dia em que não se distinguirão do PS.
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