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Luciano Amaral

Luciano Amaral

Professor universitário

Foi-se um sonho lindo

10 de outubro de 2016 às 00:30

É o fim de um sonho lindo. O sonho de quem viveu este ano de geringonça como um novo 25 de Abril, com a esquerda toda junta a governar, ‘o Passos’ devolvido à oposição e aquela espécie de Salazar de Boliqueime substituído por um porreirão para quem tudo é maravilhoso em Portugal. Pois, foi lindo enquanto deu para ‘repor rendimentos’. Agora já não há nada para repor e a economia continua a comportar-se como o célebre cavalo morto que se recusava a andar por mais que o chicoteassem.

O sonho do fim da austeridade deu lugar às manhas e manigâncias do costume: os perdões fiscais ou os impostos delirantes, como aquele sobre a comida com açúcar ou gordura. Serve de fraco consolo uma pessoa ter visto do início que era mais ou menos aqui que tudo iria chegar. O consolo é fraco porque a alternativa à geringonça é também deprimente. Convém que se entenda uma coisa: as verdadeiras políticas económicas do país, que são a política monetária e a política orçamental, não são feitas no país. A política monetária é feita em Frankfurt, onde está o Banco Central Europeu, e a política orçamental em Bruxelas, onde está a Comissão Europeia (CE). Sim, o parlamento português vota um orçamento, onde se metem os impostos e as despesas. Mas se a CE não gostar, tem de arranjar outros.

A geringonça é sobretudo culpada de vender a ilusão de que poderia ser de outra forma – mas diga-se que PSD e CDS são culpados de venderem a ilusão de que estavam a fazer uma notável política reformista. Não estavam. Estavam obedientemente a fazer aquilo que lhe mandavam. Quem queira perceber o crescimento dos populismos e a destruição dos sistemas políticos europeus que olhe para aqui. E, se for genuíno na sua preocupação, comece a pensar o impensável. É que não há-de ser o Mandela português, lá da ONU, a salvar-nos desta embrulhada para que tanto contribuiu.

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