Maria José Nogueira Pinto, presidente da mesa do conselho nacional, acusou um deputado de a agredir e constatou que o melhor é a cisão no partido. Atribuiu todas as responsabilidades a Paulo Portas. A crise só deverá terminar em congresso.
O senhor deputado Hélder do Amaral lançou-se pelas minhas costas e, efectivamente, magoou-me nas costas e no ombro. Vi nele duas coisas: um conselheiro e um deputado a agredir a presidente e uma mulher que merece consideração e respeito.” A acusação, em directo para as televisões, foi proferida ontem por Maria José Nogueira Pinto, presidente da mesa do Conselho Nacional, no rescaldo de uma das mais conturbadas reuniões de sempre do partido, realizado domingo em Óbidos. Mais, Nogueira Pinto não tem problemas em atribuir responsabilidades a Paulo Portas pelos incidentes no final do encontro. E acusa-o de querer “assaltar o poder” no CDS-PP e de instigar os incidentes, num clima de “coacção psicológica e física”.
Afirmando que nunca assistiu a um “espectáculo tão degradante”, Maria José Nogueira Pinto atacou Paulo Portas e garantiu: “Se se confirmar que o partido é um território onde alguns assaltam o poder, aqui não sirvo nada nem ninguém.” Acusou-o ainda de ter trazido para o partido o “pior da memória do PREC [Período Revolucionário em Curso]” e diagnosticou uma cisão interna no partido: “A melhor hipótese que o CDS tem é a cisão. Não vou escamotear o que se passou ontem, o partido foi enxovalhado publicamente e a reputação do CDS foi profundamente ferida.” Ou seja, não há volta a dar. O CDS “está estilhaçado”, como afirmou ao CM uma fonte centrista.
Quanto à alegada agressão de que foi alvo e questionada sobre se ia agir judicialmente contra Hélder do Amaral, Maria José Nogueira Pinto acrescentou que “não lhe iria dar essa importância”. Num tom crítico e algo dramático, Nogueira Pinto acusou ainda os apoiantes de Portas de serem “cães de fila”. E avisou que o partido “não é dos cães de fila de ninguém”, não podendo ser usado como “instrumento de poder”. Confrontada sobre o facto de estar ou não a generalizar a expressão “cães de fila” aos membros do conselho nacional, a dirigente e vereadora recusou a ideia, mas lembrou que aquele órgão partidário não representa todo o partido. Só um congresso.
Nogueira Pinto defendeu que o requerimento das mais de mil assinaturas de Leiria tinha prevalência sobre o conselho nacional. E até se aconselhou com o Conselho de Jurisdição Nacional, órgão para o qual Paulo Portas vai recorrer. A dirigente também assegurou que as eleições directas estão aprovadas. Falta é consagrá-las nos Estatutos. Por isso, haverá um congresso electivo e estatutário, ou seja, um dois em um. O regulamento do congresso será votado no próximo conselho nacional, ainda sem data, e os portista querem que seja esta semana. Se no conselho, o regulamento for chumbado, Nogueira Pinto avisa que será uma “golpada” de Portas.
"BATOTEIRA E MENTIROSA"
Ora, esta polémica no CDS durou quase 12 horas, no passado dia 18, com requerimentos, recursos, interpelações, apupos e vaias de parte a parte. Quando Nogueira Pinto disse que haveria congresso extraordinário, depois da vitória das directas por 65% dos votos, a confusão foi total. Chamaram-lhe “batoteira”, “mentirosa” e “vigarista”. E houve de tudo, até, palavrões como “filhos da p...”, pessoas em cima das cadeiras, exaltadas e aos berros. E, enquanto uns conselheiros se acercavam da dirigente nacional, outros discutiam no fundo na sala num ambiente muito tenso. “Uma imagem sinistra”, desabafou ao CM um conselheiro sob o anonimato.
E se Nogueira Pinto recordou os tempos do PREC, Telmo Correia falou em RGA. Certo é que tudo está filmado e gravado. E a troca de acusações vai continuar.
"OS BEIRÕES NÃO BATEM NAS MULHERES"
José Hélder do Amaral, 39 anos, líder da distrital do CDS-PP de Viseu, assegurou ontem ao CM que não agrediu a presidente da mesa do conselho nacional, Maria José Nogueira Pinto. “Os beirões não batem nas mulheres”, afirmou o parlamentar, responsável pelo movimento de apoio às eleições directas no partido e apoiante de Paulo Portas.
Segundo o conselheiro, quando Maria José Nogueira Pinto decidiu terminar os trabalhos – ou sair e “pegar na mala” como declarou Telmo Correia – a confusão instalou-se. “Eu apenas estava a tentar fazer com que o engenheiro Anacoreta Correia, por ser amigo de Maria José Nogueira Pinto, a ela chegasse para a retirar daquela situação.”
Diz-se “tranquilo” e sublinha: “Pago como beirão para não entrar numa guerra, mas depois pago para não sair.” Nesse sentido, promete para hoje uma reacção, “com respeito e educação para Maria José Nogueira Pinto, mas com firmeza”. E até já pediu à direcção para usar a mesma sala que a dirigente para lhe dar resposta na sede do Largo do Caldas.
Mas quem é, afinal, Hélder do Amaral? Militante desde a década de 80, foi apoiante de Manuel Monteiro contra Basílio Horta. “Tive problemas com Basílio Horta, mas hoje temos uma amizade”, recorda. Casado e com dois filhos, Mariana de três anos e João de um, é um sportinguista. “Talvez a única boa notícia deste fim-de-semana tenha sido a vitória do Sporting contra o FC Porto”, confessa. Na bancada do partido chamam-lhe o ‘Obama do CDS’, aludindo ao candidato norte-americano democrata, rival de Hillary Clinton.
"É UMA MENTIRA. NÃO INSULTEI NINGUÉM"
“É uma mentira. Não insultei ninguém.” São palavras de António Pires de Lima, ex-vice-presidente do CDS-PP e apoiante de Paulo Portas à liderança do partido. O conselheiro nacional do CDS-PP e presidente do conselho de administração da Unicer desmentiu categoricamente ao CM ter dirigido palavras insultuosas, como, por exemplo “filho da p...”, à presidente do conselho nacional, Maria José Nogueira Pinto.
Segundo Pires de Lima, quem foi queixar-se às televisões e quem estava indevidamente no conselho nacional, “foi a filha de Narana Coissoró”. Nas palavras do empresário, Maria Helena Gonçalves, filha do dirigente Narana, “andou a propagar essas informações”. Segundo garantiu, manteve sempre uma postura cordata e silenciosa. “Nem sequer intervi. Estive calado durante toda reunião. E até quando se gerou a confusão permaneci sentado”, explicou.
Todavia, Pires de Lima confessou que “realmente houve muitos protestos” e que “foi uma reunião muito acalorada em que muita gente se exaltou. “Quando ela [Maria José Nogueira Pinto] interrompeu os trabalhos houve realmente uma série de pessoas que se levantaram em protesto contra essa decisão”. Sobre o deputado Hélder Amaral, que Maria José Nogueira Pinto acusou de agressões físicas, Pires de Lima foi taxativo: “O dr. Hélder Amaral não tem histórico de ter agredido alguém na vida.” Relativamente à expressão de Maria José Nogueira Pinto, “o partido não é dos cães de fila de ninguém”, comentou: “É coerente com o comportamento da dra. Maria José Nogueira Pinto, que não tem respeito pelos conselheiros nacionais. Não foi isenta.”
O conselheiro nacional manifestou-se muito apreensivo quanto ao futuro do CDS, dizendo que “está no ponto da credibilidade zero e que há mais de um ano se dedica a discutir temas internos que não dizem nada aos portugueses”. Uma cisão no partido? “Espero que não, mas só posso falar por mim.”
"ASSEGURAR AS TIJELAS"
Narana Coissoró, membro da direcção, considera que Paulo Portas decidiu avançar para a liderança, mas que “dividiu o partido” e que os seus apoiantes estão a “tentar assegurar as tigelas para a próxima legislatura”. É assim que interpreta a evolução do partido. E afiança que, no conselho nacional, a confusão instalou-se e à volta de “cinquenta conselheiros” cercaram Maria José Nogueira Pinto. Depois, teve de ser criado um corredor para a proteger. “Um dia triste para o CDS”, afirmou.
ZEZINHA "DEVE DEMITIR-SE"
Miguel Mattos Chaves, da comissão política, exigiu ontem a demissão de Maria José Nogueira Pinto (Zezinha como é conhecida) da presidência do Conselho Nacional. Segundo Mattos Chave, a dirigente teve um “comportamento impróprio” na reunião de domingo. “Porque não admito faltas de respeito e prepotências [...] venho publicamente exigir a sua demissão do cargo de presidente do conselho nacional do CDS-PP”, disse.
LÍDER CONTA "ASSALTOS"
RIBEIRO E CASTRO
O líder do CDS-PP, Ribeiro e Castro, afirmou ontem que vai bater-se “tenazmente” contra qualquer assalto ao poder. “Ninguém nesta direcção está agarrado ao poder”, garantiu o líder, salientando que há duas semanas manifestou abertura à realização de um congresso “sem nenhuma necessidade de o fazer”. Em resposta ao deputado Telmo Correia, que ontem tinha acusado Ribeiro e Castro e a presidente do conselho nacional, Maria José Nogueira Pinto, de estarem “desesperadamente agarrados ao poder”, o líder respondeu que actua de acordo com as regras. “Não aceito assaltos ao poder, bato-me tenazmente contra eles”, disse.
TELMO DESAFIA CASTRO
DEPUTADO CRÍTICA LÍDER
O deputado Telmo Correia desafiou ontem o presidente do partido a tirar “consequências e ilações” do conselho nacional de domingo, sublinhando que Ribeiro e Castro apenas teve o apoio de “um terço” dos conselheiros.
“Normalmente os democratas sabem ler os votos e tirar deles consequências”, afirmou Telmo Correia, negando estar com estas declarações a pedir a demissão do líder do CDS-PP
Telmo Correia acusou ainda Ribeiro e Maria José Nogueira Pinto de estarem “desesperadamente agarrados ao poder” e quererem manter os seus lugares “a qualquer preço”.
- Lamento profundamente que a direcção do CDS tenha tido mau perder: quando percebeu que perdeu, bateu com a porta e foi-se embora. Eu fico.
- O dr. Paulo Portas mentiu no encerramento dos trabalhos [...] Há mentiras que foram ditas e há factos que foram omitidos.
José Ribeiro e Castro
- Se se confirmar que o partido é um território onde alguns assaltam o poder, aqui não sou nada nem ninguém.
Maria José Nogueira Pinto
- O partido não é dos cães de fila de ninguém.
- O senhor deputado Hélder Amaral lançou-se nas minhas costas e no ombro. Vi nele duas coisas: um conselheiro e um deputado a agredir a presidente do conselho nacional.
- O dr. Paulo Portas trouxe para dentro do partido o pior da memória do PREC [...]. Não me lembro de assistir a espectáculo tão degradante.
- O deputado Hélder Amaral é uma pessoa responsável, educada, é um senhor, é impensável esse tipo de comportamento.
- Os beirões não batem nas mulheres.
ANACORETA SEM SUCESSO
Anacoreta Correia tentou abordar as questões da Ota e da Energia Nuclear no conselho nacional de domingo, mas sem sucesso
FTDC APOIA NOGUEIRA PINTO
A distrital de Coimbra da Federação dos Trabalhadores Democratas-Cristãos (FTDC) manifestou o seu apoio a Nogueira Pinto
CAMPELO ACUSA PORTAS
Daniel Campelo acusou Portas de lançar uma OPA ao CDS para o tornar num partido “de um homem só ou de um grupo restrito”
"PROTAGONISMO BALOFO"
A distrital o Porto da Federação dos Trabalhadores Democratas-Cristãos (FTDC) acusou Nogueira Pinto de “protagonismo balofo”
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