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Conheça as falhas de comunicações que deixaram vítimas do fogo do Pedrógão Grande sem assistência

Registo das comunicações revela falhas em momentos cruciais da tragédia.

27 de junho de 2017 às 11:48

O registo de comunicações dos meios de socorro, bombeiros e GNR durante o fogo de Pedrógão Grande mostra que várias pessoas ficaram sem assistência por falha na transmissão de alertas. várias delas estavam em situação aflitiva, cercadas pelo fogo, mas o pedido de ajuda não chegou ao posto de comando que coordenava o combate aos incêndios que mataram 64 pessoas.

O CM teve acesso ao ofício que a Autoridade Nacional de Proteção Civil enviou ao gabinete do Primeiro-ministro, em resposta ao pedido de António Costa sobre as falhas no sistema de comunicações.

A ANPC enviou um relatório que detalha os momentos em que se registaram falhas no sistema de comunicações - são 30 momentos em que as diferentes entidades reportam problemas no envio e receção de mensagens cruciais.

Em vários momentos de sábado - dia em que começou o fogo -  e até à segunda-feira seguinte, houve falhas graves no sistema, especialmente na rede SIRESP, que deveria pôr em contacto polícias, bombeiros, meios de socorro e proteção civil.

O que se percebe nas gravações é que o sistema falhou repetidamente desde o final da tarde de sábado e durante a madrugada de domingo, a altura em que morreram a maior parte das vítimas. O que contradiz o que disse Vaz Pinto, comandante da Proteção Civil, que num dos briefings com jornalistas disse que o SIRESP "não tinha tido falhas superiores a um minuto". Na altura, o responsável garantiu que as comunicações não comprometeram o socorro.

Esta espécie de "caixa negra" da Proteção Civil resulta do Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO) da ANPC. Regista, entre outros parâmetros, a sequência ordenada dos principais acontecimentos e decisões operacionais.

Entre as dezenas de situações reportadas, há desde as simples constatações de falha de rede à impossibilidade de contacto com o posto de comando perante vítimas em perigo. O documento em anexo neste artigo lista todas as ocorrências, mas saltam à vista os casos que envolvem vidas em risco: 

De acordo com o documento da Proteção Civil, pelas 19h45 de sábado, cerca de cinco horas depois do início do fogo, acontece a primeira falha. É a esta hora que o inferno das chamas cerca várias aldeias e encurrala os condutores que circulavam na EN 236. O 112 informa que estão três pessoas cercadas pelo fogo numa casa devoluta da aldeia de Casalinho. Mas as tentativas de contacto com o CDOS e o Posto de Comando não resultam;

Cinco minutos depois, pelas 19h50, o CDOS de Coimbra tenta contactar o Posto de Comando para dar conta da situação aflitiva de pai e filho, em Troviscais. Não consegue fazer a ligação;

As gravações dão conta de que os meios presentes no local trocaram várias vezes de frequências rádio e houve pedidos para reposicionar as antenas. Mas, pelas 21h28, há um novo alerta que não chega ao Posto de Comando - em Ramalho,  Vila Facaia, há uma habitação a arder, com uma vítima queimada;

Tal como não se consegue avisar o Posto de Comando da aflição de um homem de 75 anos que, pelas 21h47 pediu ajuda por ter a casa a arder, em Sarzedas do Vasco;

Situação parecida repete-se às 22h45. Um homem pede ajuda porque está com a mulher a fugir de casa, que arde. A senhor está refugiada dentro do carro. O Posto de Comando não recebe a mensagem;

Ao início da madrugada de domingo, pelas 1h02, o CDOS de Leiria pede intervenção urgente da PT para solucionara as constantes quebras nas comunicações. Solicita o apoio para levantar as vítimas mortais que estão na EN236, uma vez que é necessário desobstruir a estrada para a circulação dos veículos de socorro.

Pouco depois é reportada uma avaria no veículo que repete o sinal do SIRESP. Um outro veículo para reforçar o sinal só tinha hora prevista de chegada ao teatro de operações pelas 4h00;

Pelas 8h07, a Força de Intervenção Rápida da União Europeia pede para abastecer os veículos de combustível usando os meios da câmara de Figueiró dos Vinhos. Mas o município não tem contactos, tal como o de Pampilhosa da Serra. Um telemóvel de um funiconário deste último município é o ponto de contato que permite o abastecimento.;

Às 11h10, é reportado que arde uma casa com uma idosa lá dentro, em Pinheiro da Piedade. Comunicações falham. Pelas 11h30, chaga a comunicação de que três pessoas, uma menina, uma adulta e uma idosa estão a ser assistidas no local e têm de ser retiradas.

Pelas 21h40 é reportado que "a sobrecarga de comunicações" impede contacto telefónico com os presidentes de câmara de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. O CDOS de Leiria convoca os autarcas por sms para um briefing 

Ao longo de todo o dia de domingo, são várias as situações reportadas de falhas de comunicação entre o posto de comando, os centros de operação distritais (CDOS) e operacionais no terreno. Pelas 3h32 de segunda-feira técnicos da PT estavam no local a avaliar os estragos nos cabos que deveriam assegurar as comunicações.

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