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Carne de bovino sob pressão: a fileira procura soluções para garantir futuro

A conferência AgroInovar, organizada pelo novobanco em parceria com a AGROGES, reuniu em Évora produtores, indústria, distribuição e especialistas para analisar o setor.

11 de dezembro de 2025 às 12:49

A produção de carne de bovino em Portugal vive um momento paradoxal. Os preços atingiram níveis historicamente elevados, mas essa valorização não representa estabilidade. Entre volatilidade, pressão do consumidor, dependência de mercados externos e desequilíbrios dentro da própria fileira, a conferência AgroInovar mostrou um setor dividido entre oportunidade e vulnerabilidade. Para muitos participantes, esta é uma fase de transição que exige decisões firmes e visão de longo prazo, sob pena de se perder o trabalho feito na última década.

A iniciativa, promovida pelo e pela e integrada no , decorreu no Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia. A sessão juntou produtores, indústria, distribuição e especialistas num debate centrado em três perguntas-chave: como competir num mercado globalizado, como reforçar produtividade e eficiência e como transformar sustentabilidade em valor económico real. A presença de agentes tão distintos permitiu uma discussão mais completa, revelando pontos de consenso, mas também fragilidades que continuam por resolver.

Preços disparam, mas a fileira continua vulnerável

Um dos alertas centrais veio da análise de Miguel Vieira Lopes, da AGROGES. A valorização dos animais vivos foi intensa nos últimos dois anos, mas a subida não foi acompanhada de forma equivalente pelo preço da carcaça nem pela evolução do preço final ao consumidor. Em causa está o limite imposto pelo poder de compra das famílias, que impede aumentos sucessivos no retalho e força a distribuição a absorver parte do impacto. A discrepância entre o valor do animal e o valor da carne no talho cria um desalinhamento que a fileira não tem conseguido resolver.

Segundo Miguel Vieira Lopes, os preços na produção reagem rapidamente à escassez ou abundância, enquanto no consumidor há um teto evidente. “A pressão está hoje mais na comercialização do que na produção”, sintetizou. A consequência é uma fileira exposta a ajustes bruscos e com margens comprimidas em vários elos. Alguns produtores presentes lembraram que, mesmo com preços elevados, os custos operacionais – alimentação, energia, mão de obra, certificações – subiram em paralelo, anulando parte do ganho.

Da análise da AGROGES emergem ainda três riscos relevantes. O primeiro é a possibilidade de desconexão entre produção, transformação e distribuição se o aumento da oferta não for acompanhado por capacidade de compra e processamento. O segundo é a crescente atratividade económica da exportação de animais vivos, que pode reduzir o volume disponível no mercado interno. O terceiro é o impacto da diminuição de animais na indústria, que perde escala, competitividade e eficiência. Em conjunto, estes fatores confirmam um equilíbrio frágil que exige coordenação.

Produtividade é o trunfo que falta desbloquear

Apesar dos desafios, existe margem real para reforçar competitividade. Vários intervenientes insistiram na necessidade de aumentar eficiência e consistência produtiva. Joaquim Capoulas, presidente da , defendeu que o maior salto imediato reside no melhoramento genético, sublinhando a importância de reforçar programas de apoio à aquisição de reprodutores para garantir qualidade e uniformidade. Recordou que a falta de homogeneidade continua a limitar o valor das carcaças e a dificultar o trabalho dos industriais.

Também Clara Moura Guedes, CEO da , reforçou que inovação e sustentabilidade são caminhos económicos, não apenas ideológicos. O grupo tem investido em tecnologia, maneio e bem-estar animal e apresentou um projeto que resultou num aumento de produtividade de 25 por cento. “O investimento tecnológico permite aumentar a eficiência e isso faz toda a diferença quando queremos produtos com valor acrescentado”, afirmou. A empresária destacou ainda que a formação das equipas e a redução do stress animal têm impacto direto na qualidade final da carne, algo cada vez mais valorizado pelos mercados.

A necessidade de uma estratégia de fileira mais coordenada foi outro ponto consensual. Sem previsibilidade na produção, regularidade na distribuição e volume consistente na indústria, cada elo continuará a resolver isoladamente problemas que são estruturais. A fileira precisa de escala, mas também de organização, comunicação e alinhamento estratégico.

Produtores, indústria, distribuição e peritos debateram o presente e o futuro da fileira do gado bovino em Évora
Produtores, indústria, distribuição e peritos debateram o presente e o futuro da fileira do gado bovino em Évora

Há procura, faltam animais

A distribuição trouxe ao debate a perspetiva mais visível para o consumidor: o preço final. José Cabral, diretor da Unidade de Negócio Talho da , recordou a forte sensibilidade ao preço das famílias portuguesas. “Há muitos portugueses que vivem com o ordenado mínimo”, disse, explicando porque não é possível repercutir aumentos da produção no preço da carne.

José Cabral revelou que a MC compra cerca de 80 por cento da carne a produtores nacionais sempre que existe disponibilidade. Em 2024, o grupo adquiriu 17 mil animais e queria reforçar esse número em 2025, mas não conseguiu devido à escassez no mercado interno. Quando há necessidade de importação, sublinhou, ela resulta de uma questão operacional e não de preferência comercial. E garantiu que “o nível de controlo que aplicamos ao produto importado é igual ou superior ao aplicado à produção nacional”.

A conjugação de procura consistente, falta de animais e limites do preço final cria uma pressão estrutural que só poderá ser superada com maior eficiência produtiva e coordenação entre produção, indústria e retalho.

O Alentejo como território estratégico

No encerramento, Roberto Grilo, vice-presidente da , trouxe uma leitura territorial e política da fileira. Pela primeira vez, o Conselho Regional reconheceu formalmente a agricultura como setor estratégico, um passo que, segundo Roberto Grilo, chega tarde, mas chega com força.

O Alentejo concentra 36 por cento da produção nacional de bovinos de carne e ultrapassou as 37 mil toneladas em 2024. Para o responsável, esta fileira representa soberania alimentar, gestão da paisagem e identidade cultural. Afirmou que o país não pode abdicar desta produção e que os fundos regionais e nacionais devem refletir essa prioridade, sobretudo num contexto de alterações climáticas e exigências ambientais crescentes.

Financiamento e tecnologia como alavancas de futuro

Outro eixo central da conferência foi o financiamento. José Gonçalves, diretor de Marketing Empresas do novobanco, destacou que a agricultura continua a investir acima da média nacional, mas que a modernização exige capitais próprios, acesso a fundos europeus e soluções de crédito adaptadas ao setor. Lembrou que o banco tem trabalhado para aprofundar conhecimento técnico interno, criar produtos específicos e apoiar as empresas na preparação de candidaturas e investimentos.

O banco apresentou uma oferta que conjuga instrumentos de curto prazo – como a antecipação das ajudas do até 90 por cento e soluções de liquidez – com linhas de investimento de médio e longo prazo que recorrem a garantias do e do . José Gonçalves afirmou que “a conferência foi muito rica e permitiu-nos reforçar a nossa abordagem para responder melhor às necessidades reais das empresas”. Acrescentou que a transição tecnológica e a descarbonização são oportunidades que o setor não deve perder, sob pena de comprometer competitividade futura.

Foi ainda sublinhada a importância de preparar com antecedência os projetos para o , alinhando plano de negócio, requisitos dos avisos e capacidade de execução. A clareza na definição dos investimentos e a robustez financeira continuam a ser fatores decisivos para aprovação.

Um setor com margem de evolução

A deixou clara a fotografia do momento: a fileira da carne de bovino vive uma fase de oportunidade, mas não de conforto. Enfrenta volatilidade, escassez de mão de obra, limites de consumo e necessidade urgente de ganhar eficiência. Porém, dispõe de conhecimento técnico, vontade de modernizar e uma nova pressão positiva para coordenar estratégias. A próxima década será decisiva para saber se a fileira consolida o crescimento ou se volta a enfrentar ciclos de retração.

O futuro dependerá da capacidade de unir produção, indústria e distribuição em torno de um objetivo comum: criar valor de forma consistente e sustentável, garantindo que Portugal continua a ter um lugar relevante no mercado da carne de bovino.

As soluções do novobanco para o setor agrícola

O disponibiliza instrumentos de curto prazo, como a antecipação das ajudas do IFAP até 90 por cento, crédito campanha e soluções de factoring e confirming para reforço de liquidez. Na área do investimento, oferece leasing automóvel e de equipamentos com vantagens fiscais, bem como linhas de sustentabilidade e descarbonização com garantias do Banco Português de Fomento e do Fundo Europeu de Investimento. Dispõe ainda de financiamento associado a fundos europeus, permitindo antecipar incentivos aprovados e complementar capitais próprios na execução dos projetos.

José Gonçalves, diretor de Marketing Empresas do novobanco
José Gonçalves, diretor de Marketing Empresas do novobanco

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