Associados da APED têm tomado medidas concretas no uso eficiente do plástico, as quais, só em 2018, deram origem a uma poupança anual global de material virgem superior a 3.300 toneladas
08 de novembro de 2019 às 15:11A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) fomenta junto dos seus associados a adoção de diversas medidas com o objetivo de contribuir para um consumo e produção mais sustentáveis e cumprir as metas da Estratégia Europeia dos Plásticos para 2030. Faz também parte do Grupo de Trabalho do Plástico criado pelo Governo e está ligada a outras iniciativas de cariz ambiental. Assim, entrevistámos Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, para conhecer melhor o trabalho desta associação.
O que está a APED a fazer junto dos seus associados para que estes tomem medidas que contribuam para a redução do uso de plástico?
O papel da APED e dos seus associados será fundamental para a consciencialização e informação do consumidor sobre o uso racional do plástico. Assim, a APED tem promovido, junto dos seus associados, a adoção de medidas que contribuem para padrões de consumo e produção mais sustentáveis e para o cumprimento das metas definidas na recente Estratégia Europeia dos Plásticos para 2030. Fizemos parte, aliás, do Grupo de Trabalho do Plástico criado pelo Governo para debater, refletir e definir o futuro nesta matéria. E celebrámos com o Ministério do Ambiente um acordo voluntário para promover o uso eficiente do plástico.
Neste âmbito, tem sido adotado um conjunto de iniciativas voluntárias pelas empresas do setor relacionadas com o uso do plástico, considerando, acima de tudo, que o combate deve ser feito de forma sustentada e informada. São exemplo as campanhas de sensibilização sobre a problemática dos plásticos, o investimento no ecodesign em produtos de marca própria, a disponibilização de artigos com maior incorporação de material reciclado, a venda de produtos a granel e a substituição gradual do plástico de origem fóssil por outros materiais. Estas iniciativas representam, no conjunto dos associados da APED, uma poupança anual estimada de material plástico superior a 4.300 toneladas, permitindo evitar um total de 368 milhões de unidades de artigos em plástico descartável.
O que é a vossa carta de sustentabilidade?
A carta de sustentabilidade é um documento de referência para a atuação setorial no eixo da sustentabilidade. Nesta carta destacamos os quatro princípios pelos quais o setor se pauta, nomeadamente a melhoria contínua do desempenho ambiental, a cooperação na cadeia de fornecimento, a oferta responsável e bem-estar social e a colaboração com todas as entidades relevantes com que a distribuição se relaciona na sua atividade.
Fale-me um pouco do vosso compromisso circular?
Num planeta de recursos finitos, a escassez de matérias-primas e as alterações climáticas obrigam-nos a repensar um novo paradigma de produção e consumo, de forma a expandir o ciclo de vida dos produtos e materiais que os constituem para um horizonte de inesgotabilidade. Isso levou-nos a criar este documento para espelhar o nosso compromisso de continuar a abraçar o modelo de economia circular, deixando muito claro o empenho do setor neste desafio. Com base nesta premissa, continuamos a apostar na inovação e na eficácia dos processos, de forma a aumentar a produtividade, a reduzir a pegada ambiental e contribuir para o bem-estar social.
Os associados da APED estão a aderir a artigos com maior incorporação de material reciclado?
Claramente! Em 2018, diferentes insígnias lançaram sacos de plástico feitos com 80% de material reciclado pós-consumo, permitindo a poupança anual global de material virgem em mais de 3.300 toneladas.
Sabe se existe um aumento da venda de produtos a granel?
Tem havido uma aposta das empresas na disponibilização de produtos a granel, tanto nas secções de fruta e legumes como na padaria ou frutos secos, com impactos muito positivos para a escolha do consumidor.
Na sua opinião, os consumidores portugueses estão cada vez mais exigentes no que diz respeito à redução do uso de plásticos no produto, não se importando mesmo de pagar um pouco mais por isso?
Os portugueses estão cada vez mais conscientes da necessidade de preservar o planeta e de reduzir o uso de plástico. Isso acaba por se refletir na forma como consomem e tudo indica que estão dispostos a pagar mais por marcas relevantes, com uma boa relação qualidade-preço e mais sustentáveis. Aliás, há vários estudos realizados que validam isso mesmo.
As vossas empresas associadas dialogam com os produtores/fornecedores sobre este tema, sensibilizando-os, por exemplo, para a importância de questões como otimizar as embalagens de plástico dos produtos ou reutilizar as mesmas?
Consideramos fundamental uma abordagem à cadeia de valor de forma holística e colaborativa. E, de facto, as empresas da distribuição procuram continuamente, junto dos fornecedores, soluções alternativas no mercado que proporcionem condições idênticas em termos de desempenho ambiental e económico. É por isso essencial um trabalho conjunto com a indústria e o apoio da ciência e tecnologia neste desígnio.
Como qualifica o trabalho do Governo neste tema?
O trabalho que tem sido desenvolvido é meritório e necessário para fazer a mudança de um paradigma de utilização de recursos como se fossem inesgotáveis. Acreditamos que a cooperação entre todos – produtores, indústria, distribuição, consumidores, stakeholders – é a única via para se construir um futuro sustentável e o Governo tem tido essa preocupação, o que se saúda. É certo que ainda há um longo percurso a fazer, mas no nosso entender estamos no bom caminho.
Quais são os desafios para o futuro da APED neste tema?
Temos de ter consciência de que não há soluções imediatas. Os desafios abarcam todo o espectro da atividade do setor da distribuição, que tem um forte papel na promoção do consumo sustentável, mas também na relação com os produtores e outras entidades. Importa lembrar que, além da redução do plástico, é importante uma abordagem mais abrangente em torno do combate às alterações climáticas e descarbonização da economia. É um desafio constante e inesgotável!