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César Henriques, diretor-geral da EcoX, lembra-se bem do momento em que teve a ideia que viria a dar origem a esta empresa: “Estava a fazer o meu trabalho de doutoramento e era normal, quando estávamos a trabalhar, ter o rádio ligado. Nesse dia, ouvi uma notícia sobre alguém que fazia sabão a partir de azeite.” O que lhe chamou a atenção, explica, “foi alguém estar a fazer sabão com um bem de primeira necessidade, um produto caro”. Para César Henriques fez-se ali um clique: “Não fazia sentido estar a usar um óleo como o azeite para fazer sabão, mas sim um óleo que fosse um resíduo, um óleo alimentar usado, que as pessoas normalmente deitam fora.”

Uma ideia original que mostra bem como o fator sustentabilidade faz parte do ADN desta jovem empresa, nascida no âmbito de projetos de investigação e de uma incubadora de empresas da Universidade de Coimbra: “Na EcoX, a sustentabilidade não é apenas um chavão de marketing. Está em tudo o que fazemos, desde a escolha dos materiais das embalagens até à matéria-prima que utilizamos”, diz César Henriques. Hoje em dia, “tudo é ‘eco’, mas nós queremos ir além disso”, afirma.

Sustentabilidade no ADN

Uma missão e ambição que valeu à EcoX ser a empresa vencedora da terceira edição do SME EnterPRIZE – Prémio de Sustentabilidade para PME. Esta iniciativa da seguradora Generali Tranquilidade, em parceria com a Sábado e o Correio da Manhã, e que este ano atraiu mais de 600 candidaturas, premeia as PME portuguesas que se destacam por projetos que fazem avançar a sustentabilidade. PME como a EcoX, cuja ambição é, como afirma o seu diretor-geral, “vir a ser a marca de referência em produtos de higiene sustentáveis de confiança, em Portugal e na Europa”.

Mas voltemos a 2016, o ano em que este jovem doutorando em Química da Universidade de Coimbra decidiu começar a pesquisar e a perceber como poderia – em conjunto com um professor da universidade – inovar, melhorando e desenvolvendo uma tecnologia para converter óleos usados em sabão líquido. Como nos explica César Henriques, “a colaboração com esse investigador e o apoio da universidade foram fundamentais. Primeiro, trabalhámos no desenvolvimento tecnológico, depois avançámos para o registo da patente, e de seguida para os primeiros protótipos do produto.” Foi nesta fase de prototipagem e testes “que se juntaram mais pessoas ao projeto, dando origem à empresa, então no âmbito do Instituto Pedro Nunes, incubadora de empresas da Universidade de Coimbra”.

Óleos que não vão para o esgoto

Neste processo de investigação, conta César Henriques, apercebemo-nos de que, “infelizmente, a reciclagem de óleo alimentar usado em Portugal é muito reduzida”. Efetivamente, muito óleo ainda é descartado “diretamente na rede de esgotos, e as pessoas estão pouco sensibilizadas para este problema”, refere. O que levou a EcoX, logo no início da sua atividade, a “apostar num kit educativo para crianças, em que elas, de forma segura, pudessem converter o óleo em sabão e ser um motor de mudança das atitudes em cada família, sensibilizando para a reciclagem dos óleos”, afirma o diretor-geral. Aliás, este é um produto que a empresa ainda vende, com sucesso.

No processo de desenvolvimento da empresa, encontraram os desafios típicos das start-ups, “como obter financiamento e encontrar parceiros estratégicos”. Felizmente, conseguiram estabelecer parcerias não só financeiras, mas também de negócio, que os ajudaram a crescer de forma mais rápida e a evitar erros comuns no empreendedorismo. “O grupo MSTN e, mais tarde, o grupo Sovena foram fundamentais neste percurso”, explica.

Produtos para todas as necessidades

Neste momento, a EcoX “oferece produtos para a casa, para a roupa, para a loiça, e para higiene pessoal”. Com soluções “tanto para uso doméstico – desde pequenas a grandes famílias – como para o setor profissional, incluindo hotéis, restaurantes, lavandarias, IPSS, e a economia social”. Nos últimos anos, têm ampliado a sua gama de produtos ouvindo o mercado e inovando constantemente. “E se nos últimos cinco anos temos estado no mercado nacional, agora estamos a olhar para mercados internacionais”, salienta.

Benefícios ambientais claros

A matéria-prima para fabricar os detergentes líquidos, ou seja, os óleos alimentares usados, são obtidos, explica o responsável, “através de parcerias com empresas especializadas na recolha de óleo alimentar usado, que trabalham diretamente com hotéis, restaurantes, municípios e outras entidades que geram grandes quantidades de óleo usado”. A colaboração com estes parceiros é essencial para garantir o abastecimento contínuo de matéria-prima para a produção. “Eles encarregam-se da recolha e do tratamento do óleo, para que deixe de ser um resíduo e possa ser reaproveitado para fazer detergente líquido”, afirma.

O reaproveitamento destes resíduos tem diversas vantagens para o ambiente, conforme explica César Henriques: “Em primeiro lugar, estamos a evitar que o óleo alimentar usado seja descartado de forma inadequada e vá contaminar as águas e os solos.” Depois, “ao reciclar óleo alimentar usado, evita-se a extração de matérias-primas virgens, como petróleo ou produtos de origem vegetal utilizados na produção convencional de detergentes”. Acresce que a EcoX “utiliza embalagens recicláveis e incentiva a venda a granel, promovendo a reutilização e minimizando o desperdício de plástico”. Assim, os produtos da empresa “têm baixo impacto ambiental, são biodegradáveis e seguros para pessoas, animais e ecossistemas”.

Investir na inovação

Para o futuro, o plano da EcoX é “continuar a investir na inovação, alargando a gama de resíduos e subprodutos que se podem integrar nos detergentes”. “A inovação está no ADN da empresa, que quer continuar a evoluir, não só na oferta de produtos, mas também na forma como comunica com os clientes”, conta o responsável da PME. “Em 2025, iremos ter várias novidades nesse sentido”, promete. O segundo objetivo da empresa é a expansão internacional: “Embora o mercado português seja interessante e tenha sido o nosso ponto de partida, acreditamos que o nosso conceito tem potencial global”, diz César Henriques, prosseguindo: “Não existe, a nível mundial, ninguém a fazer exatamente o que nós fazemos. Queremos levar a marca e o nosso conceito a novos mercados, especialmente aqueles mais avançados na área da sustentabilidade.”

Desse ponto de vista, um prémio como o SME EnterPRIZE é “ótimo em termos de visibilidade e credibilidade, mas é sobretudo uma oportunidade”, reconhece o responsável. Isto porque a EcoX vai representar Portugal a nível europeu (ver caixa), e quer, “obviamente, ganhar”, porque acredita que este projeto “tem um grande potencial de sucesso a nível internacional”, conclui

EcoX a caminho de Bruxelas

O SME EnterPRIZE é um dos projetos de referência do Grupo Generali na área da sustentabilidade. O seu objetivo é inspirar as pequenas e médias empresas a desenvolver modelos de negócio sustentáveis.

O ponto alto desta iniciativa anual terá lugar este ano a 26 de março, em Bruxelas, onde o Grupo Generali apresentará os Heróis da Sustentabilidade de 2024 – PME de dez países europeus que implementaram iniciativas sustentáveis de destaque. Portugal será representado pela EcoX, vencedor da edição portuguesa.

Através do SME EnterPRIZE, o Grupo Generali pretende criar uma plataforma pan-europeia para dar visibilidade às PME sustentáveis. Com este objetivo, este grupo segurador procura premiar histórias de sucesso. Ou seja, dar voz aos Heróis da Sustentabilidade – empreendedores que implementaram iniciativas sustentáveis notáveis nas suas atividades empresariais e que podem servir de modelo inspirador para outros empresários, tornando-se verdadeiros embaixadores da sustentabilidade.