Governador cristão condenado a dois anos de prisão por blasfémia

Caso aconteceu na Indonésia. "Ahok" vai recorrer da decisão.

09 de maio de 2017 às 05:47
Basuki Tjahaja Purnama Foto: Getty Images
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Um tribunal da Indonésia condenou esta segunda-feira o governador cessante de Jacarta, da minoria cristã, a uma pena de dois anos de prisão por blasfémia.

O coletivo composto por cinco juízes ordenou a prisão imediata do governador Basuki Tjahaja Purnama, conhecido como "Ahok".

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"Ahok" foi julgado por blasfémia contra o Islão devido a uma declaração que fez no final de setembro, em que classificou como errada a interpretação de alguns ulemás (teólogos muçulmanos) de um versículo do Alcorão segundo o qual um muçulmano só deve eleger um dirigente muçulmano.

O governador de Jacarta pediu desculpa pelo comentário, mas tal não foi suficiente para conter a ira dos mais conservadores, em particular da Frente de Defensores do Islão, um grupo que quer impor a lei islâmica ('sharia') na Indonésia.

"Ahok" anunciou que vai recorrer da decisão judicial para instâncias superiores.

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No exterior do tribunal, a norte de Jacarta, apoiantes de "Ahok" choraram e abraçaram-se após ser conhecida a decisão, enquanto se ouviam gritos de alegria por parte de membros de grupos conservadores islâmicos.

Cerca de 13 mil polícias foram destacados para a capital indonésia para evitar eventuais distúrbios entre partidários e opositores de "Ahok".

"Ahok" saiu derrotado nas eleições de abril, mas o seu mandato de governador termina em outubro.

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O presidente do coletivo de juízes afirmou que o julgamento foi puramente criminal e que o tribunal discorda que tenha havido aspetos políticos no caso.

A pena máxima para blasfémia na Indonésia é de cinco anos de prisão.

A Indonésia tem a maior população muçulmana do mundo, da qual fazem parte cerca de 87% dos seus 260 milhões de habitantes.

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Apesar de a maioria dos indonésios muçulmanos ser partidária da tolerância religiosa, o fundamentalismo tem ganhado força desde finais do século passado.

Decisão divide a Indonésia

A condenação de Basuki "Ahok" Tjahaja Purnama, membro da minoria cristã e acusado de blasfémia do Alcorão, provocou hoje confrontos verbais entre simpatizantes e detratores.

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Centenas de supostos apoiantes de Purnama concentraram-se no exterior da prisão de alta segurança onde está detido, com diversos manifestantes a tentarem derrubar um dos gradeamentos do estabelecimento prisional.

Munido com megafone, um homem dirigia-se aos presentes de forma virulenta: "Irmãos e irmãs, a justiça morreu neste país".

O júri, presidido pelo magistrado Dwiarso Budi Santiarto, acusou Purnama de atentar contra a unidade da Indonésia e reiterou os seus "direitos políticos", após a sua transferência para a prisão de Cipinang, leste da capital.

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A sentença, que vai ser contestada pela defesa, constitui um desafio ao pluralismo religioso no país com a maior população muçulmana do planeta.

Milhares de partidários do governador de etnia chinesa, popularmente conhecido por Ahok, lamentaram a decisão dos membros do júri e promoveram uma concentração no exterior do Ministério da Justiça, onde decorreu o julgamento.

"É uma questão política, os outros não querem que Ahok se apresente às eleições presidenciais de 2019, é um julgamento político", considerou em declaração à agência noticiosa Efe uma jovem cristã de 23 anos, após ser anunciada a sentença.

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Alguns grupos islamitas, que se manifestaram durante meses a favor de uma condenação rigorosa contra Ahok, também se concentraram nos arredores do ministério e celebraram a decisão do Tribunal, envolvendo-se em confrontos não violentos com os apoiantes do governador.

Cerca de 13 mil polícias foram mobilizados na capital indonésia para prevenir possíveis distúrbios entre apoiantes e opositores de Ahok, que em 19 de abril foi derrotado na reeleição para o cargo de governador.

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