Blocos operatórios dos hospitais de Coimbra com serviços mínimos devido à greve dos enfermeiros

Greve pode adiar ou cancelar milhares de operações.

22 de novembro de 2018 às 10:06
Greve dos enfermeiros Foto: Lusa
Greve dos enfermeiros em Coimbra Foto: Lusa
Greve dos enfermeiros em Coimbra Foto: Lusa
Greve dos enfermeiros em Coimbra Foto: Lusa
Greve dos enfermeiros em Coimbra Foto: Lusa

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Todas as salas cirúrgicas do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) estão esta quinta-feira a prestar apenas serviços mínimos devido à greve dos enfermeiros dos blocos operatórios, disse a coordenadora do movimento "greve cirúrgica".

À porta do polo principal do CHUC, onde se concentraram, na manhã desta quinta-feira, cerca de meia centena de enfermeiros, Ana Pais disse aos jornalistas que houve nove blocos que aderiram, com taxas de adesão à greve "acima dos 80%".

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"Os blocos [operatórios] em Coimbra estão só a assegurar os serviços mínimos", sublinhou a enfermeira, que coordenou, em Coimbra, o movimento que esteve na origem da greve prolongada às cirurgias programadas em blocos operatórios.

Segundo Ana Pais, o protesto surge após "anos de negociações frustradas, sem resposta por parte do Governo, que nos levou a chegarmos a uma medida um bocadinho mais extrema, que só tomámos mesmo em último recurso".

Os enfermeiros "estão cansados, exaustos, há 15 anos que estão congelados, o que significa que enfermeiros que trabalham há 20 anos recebem o mesmo do que um que acaba agora a sua licenciatura e ingressa no mercado de trabalho".

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"Reivindicamos uma reestruturação da nossa carreira, que nos valorizem, que contratem mais enfermeiros, que diminuam o tempo da reforma, que o processo de descongelamento seja efetivamente feito de acordo com o que é justo, atendendo a todo o tempo de profissão", explicou Ana Pais.

Segundo a enfermeira, o CHUC é o que "deve mais horas aos enfermeiros, com milhares de horas em dívida, o que advém da escassez de enfermeiros".

"Chegamos a fazer 60 horas semanais, o que leva à exaustão dos profissionais e a um aumento de absentismo por situações de 'burnout'", sublinhou.

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Outras das reivindicações prende-se com a necessidade de a tutela proceder à "homogenização" dos contratos de trabalho, uma vez que "há trabalhadores com contrato da função pública e outros com contrato individual de trabalho".

"É necessário uma homogenização, em que todos têm os mesmos direitos, independentemente do vínculo que têm", disse Ana Pais.

Nuno Couceiro, do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), uma das estruturas que emitiu o pré-aviso de greve, salientou que a adesão dos enfermeiros "está a ser maciça".

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Cerca de quatro dezenas de enfermeiros concentrados no Santa Maria

Cerca de quatro dezenas de enfermeiros estão concentrados desde as 8h00 desta quinta-feira em frente ao Hospital e Santa Maria, em Lisboa para reivindicar uma carreira digna e mais contratações.

Os enfermeiros de cinco blocos operatórios de hospitais públicos iniciaram esta quinta-feira uma greve de mais de um mês às cirurgias programadas, que pode adiar ou cancelar milhares de operações.

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Sónia Viegas, do Movimento Nacional de Enfermeiros, disse à agência Lusa que os enfermeiros lutam "por uma carreira digna, porque a que existe neste momento não está adequada" à classe.

Alguns enfermeiros concentrados esta quinta-feira de manhã têm cravos brancos nas mãos e envergam um crachá na lapela onde se pode ler "É tempo de dizer basta -- greve cirúrgica".

"Temos muitos colegas a fazer muito mais horas do que aquelas que estão contratualizadas, o que leva a uma prestação e cuidados mais deficientes", disse a enfermeira do Hospital de Santa Maria, que pertence ao Centro Hospitalar Lisboa-Norte, salientando que a "situação tem que ser resolvida urgentemente".

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Sobre a adesão à greve, Sónia Viegas disse que está perto dos 100% como se estimava e está a afetar essencialmente os blocos operatórios.

Presente no protesto o presidente do Sindicato Democráticos dos Enfermeiros de Portugal, Carlos Ramalho, disse à Lusa que os enfermeiros estão em protesto para manifestar o seu descontentamento devido a um impasse no processo negocial.

"A greve só se iniciou porque se esgotaram todas as possibilidade de diálogo com o governo", disse.

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"Os enfermeiros que estão aqui à porta do Santa Maria são os profissionais que deviam estar a trabalhar nos vários blocos operatórios, mas estão em greve" [uma paralisação onde estão a ser garantidos os serviços mínimos], mas as restantes cirurgias estão a ser adiadas", disse o sindicalista.

A Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, também se juntou esta quinta-feira à concentração por considerar "justo" o que os profissionais estão a pedir.

"A Ordem não está só ao lado dos enfermeiros, mas também das pessoas, porque esta quinta-feira os enfermeiros não têm condições para tratar das pessoas com dignidade", disse à Lusa Ana Rita Cavaco.

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"Não podemos falar em dignidade quando há um enfermeiro para 40 pessoas ou quando há um enfermeiro sozinho a trabalhar num serviço a noite inteira. Isso não dá dignidade a ninguém e pior do que isso oferece um risco de segurança muito grande", disse.

Os enfermeiros de cinco blocos operatórios de hospitais públicos iniciam esta quinta-feira uma greve de mais de um mês às cirurgias programadas, que pode adiar ou cancelar milhares de operações.

A greve cirúrgica, decretada pela Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), irá abranger o Centro Hospitalar Universitário de S. João, o Centro Hospitalar Universitário do Porto, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e o Centro Hospitalar de Setúbal.

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A paralisação visa "parar toda a cirurgia programada, mantendo, naturalmente, assegurados os cuidados mínimos decretados pelo tribunal", referem os sindicatos em comunicado.

Os enfermeiros reivindicam uma carreira transversal a todos os tipos de contratos e uma remuneração adequada às suas funções, tendo em conta "a penosidade inerente ao exercício da profissão", segundo as estruturas sindicais.

A ideia da paralisação partiu inicialmente de um movimento de enfermeiros que recolheu já mais de 360 mil euros num fundo destinado a compensar os profissionais que ficarão sem salário.

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