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Fogo junto a casas deixa moradores de Silves em aflição

Populações retiradas de várias aldeias, mas muitos ficam a lutar contra o incêndio que começou em Monchique e alastrou a Portimão e Silves. Várias estradas cortadas.

08 de agosto de 2018 às 08:05

O grande incêndio que começou em Monchique e alastrou a Portimão e Silves, deixou na madrugadas desta quinta-feira os moradores da localidade de Enxerim, no concelho de Silves a viver momentos de "grande aflição", quando o fogo se aproximou das casas. Por pouco não se perderam habitações.

Graça Albano é uma das proprietárias de um conjunto de habitações alinhadas naquela localidade algarvia e cujas traseiras dão para um vale. Foi aí que os bombeiros, com a ajuda de populares, combateram as chamas já muito próximas do muro da sua casa.

"O fogo começou naquele monte, desceu a encosta e rapidamente chegou. Em cerca de meia hora. Nunca pensei", contou à Lusa a proprietária, enquanto um GNR avisava: "Quem não está a ajudar só atrapalha".

Mais à frente, na mesma rua, mas num ponto mais alto, alguns populares juntam-se para observar a zona queimada.

Na rua, um vizinho aproveita para mandar recados "para Lisboa": "Os senhores dos computadores têm de saber como é estar no terreno. Não é à secretária que se manda". "Há meios que não estão a ser aproveitados", aponta.

Felicidade Cravo está com duas amigas a ver a área ardida no vale nas traseiras da localidade e contou à Lusa a forma "muito rápida" como as chamas se aproximaram de Enxerim.

"Nós víamos as chamas a descer, a descer. Olhe, foi aflição que não tem tamanho. As chamas eram tão altas, tão altas, que tivemos de fugir todos daqui. Foi por um triz", afirmou, com receio que um foco de incêndio, que, entretanto, tinha começado atrás de um monte próximo, voltasse a aproximar-se das habitações.

Mais de uma dezena de localidades de Silves evacuadas

Mais de 100 pessoas foram retiradas durante a noite de quarta-feira de mais de uma dezena de localidades em Silves e estão a pernoitar num pavilhão da Escola EB 2,3 João de Deus, segundo fonte da autarquia.

De acordo com a presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, desde as 20h00 de quarta-feira até ao momento "houve uma grande alteração" da situação que se vivia no concelho.

"As coisas estiveram muito descontroladas e com projeções muito fortes e rápidas, devido ao vento e à morfologia do próprio terreno, mas agora, atendendo ao que se viveu há horas (...), as coisas estão bem mais tranquilas", afirmou Rosa Palma.

Relativamente às pessoas deslocadas para o pavilhão da escola em Silves, a autarca esclareceu que são moradores, ou turistas de alojamentos locais, de localidades situadas ao longo da Estrada Nacional 124 (EN124), no concelho de Silves.

"Temos vários tipos de pessoas a pernoitar no pavilhão, desde pessoas que estavam em alojamentos locais a pessoas mais idosas. Temos aqui um acompanhamento específico para as pessoas com mais idade, algumas dessas pessoas têm toma de medicamentos, são pessoas com problemas de saúde e tentamos dar resposta a todas essas necessidades", disse a responsável.

Segundo a presidente da autarquia, até ao momento não existe "conhecimento oficial" de que alguma habitação no concelho tivesse ardido.

Fogo volta a locais onde já tinha passado

O fogo no concelho de Silves reacendeu esta quarta-feira ao início da tarde em algumas das zonas por onde já tinha passado, devido à intensidade do vento. Com várias frentes ativas, uma das quais a avançar na direção da cidade, várias localidades foram evacuadas, como Enxerim, Pedreira e Cumeada. Até ao momento há registo de 32 feridos, um deles em estado grave.

Em Cumeada, uma localidade a cerca de 11 quilómetros da cidade de Silves, está pintado um quadro negro nos terrenos e encostas desta orografia instável. Há uma habitação que se encontra ameaçada pelas chamas, que se aproximam com a força do vento.

Estradas cortadas

Pelas 22h45 o trânsito foi cortado na Estrada Nacional (EN) 266 entre Portimão e Monchique. Também as estradas 267 entre Nave e Marmelete e São Marcos e Monchique e na EN124 entre Silves e S. Bartolomeu de Messines, segundo as autoridades.

Fonte do comando-geral da GNR, adiantou à Lusa, que o trânsito foi cortado, igualmente, em algumas outras estradas municipais que rodeiam a vila de Monchique, mas que às mesmas só se tem acesso pelas Estradas Nacionais cortadas.

Proteção Civil faz apelo às populações

A Proteção Civil fez um apelo à população para se manter em locais seguros, admitindo que a situação no terreno "é muito complexa". "Não nos espera um período fácil", avançou a 2ª comandante, Patrícia Gaspar.

De acordo com o briefing feito por volta das 20h00 pela responsável das operações é "praticamente impossível antecipar o comportamento do incêndio e os efeitos da metereologia no teatro das operações".

A 2ª comandante avançou também que houve momentos em que o fogo atingiu uma velocidade superior a dois quilómetros/hora. "O incêndio assumiu um comportamento extremo", avançou, deixando um especial agradecimento a todos os meios de comunicação pela rápida divulgação das informações e apelos feitos pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.

Ainda não é possível conhecer o número de pessoas que foram retiradas das suas habitações no decorrer da tarde desta quarta-feira.

GNR evacua aldeias de Silves

Pelas 18h45 desta quarta-feira, a GNR inciou a operação da evacuação da aldeia de Enxerim em Silves. A localidade fica a cerca de 700 metros da rotunda principal de Silves.

As autoridades tentam que a população abandone a aldeia antes das chamas atingirem as habitações. Várias famílias em pânico ainda tentaram molhar os telhados.

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Vídeo mostra evacuação da aldeia de Enxerim perto de Silves

"[O incêndio] está com uma força muito grande e as coisas infelizmente ainda não estão controladas", disse a autarca, pouco depois das 15h00, acrescentando que um dos pontos mais críticos é a Herdade da Parra.

De acordo com Rosa Palma, o fogo já passou "muito perto" da cidade de Silves, mas neste momento não é possível fazer previsões devido ao vento, que é muito "inconstante", o que provoca rápidas propagações.

Também os habitantes da aldeia de Pedreira, que já na terça-feira viram as chamas a rondar as casas, estão a ser retirados na tarde desta quarta-feira.

Mais de 1400 bombeiros a combater incêndio

Sete meios aéreos e mais de 1400 operacionais estavam pelas 10h00 desta quarta-feira a combater as chamas do incêndio na zona de Monchique, distrito de Faro, que entra no seu sexto dia de atividade, segundo informação da Proteção Civil. As zonas de maior preocupação são Fóia e Silves.

De acordo com a página da internet da Proteção Civil, mais de 1.400 operacionais estão no terreno, apoiados por quase 450 viaturas e por sete meios aéreos.

O ponto da situação disponível na página da Proteção Civil indica que se regista "em todo o perímetro" do fogo fortes reativações que, associadas à intensidade do vento, "tomam de imediato grandes proporções".

De acordo com comunicado da 2.ª Comandante Operacional Nacional da ANPCPatrícia Gaspar, o vento continua desfavorável o que poderá provocar reativações. As reativações estão no foco de preocupação das autoridades, bem como Silves e Fóia, os pontos mais críticos do incêndio. 

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Fogo de Monchique ameaça Silves e vento dificulta combate

Durante a noite, foram feitos "bons progressos" e esta manhã a situação está mais estável. A comandante operacional afirma ainda que esta quarta-feira chegará um reforço de Lisboa que irá concentrar-se nos maiores aglomerados populacionais. 

Sobre se este será o dia do "tudo ou nada", a comandante afirma "que todos os dias são decisivos" e o dia de hoje não será exceção.

Fogo de Monchique já destruiu mais de 21.300 hectares

O incêndio que deflagrou na sexta-feira em Monchique já destruiu mais de 21.300 hectares, metade da área ardida na região em 2003, segundo o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais (EFFIS).

De acordo com os dados europeus, no incêndio que começou em Perna da Negra (Monchique) arderam cerca de 21.305 hectares, metade dos 41 mil que o fogo tinha destruído na mesma região em 2003 nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

O fogo de Monchique já destruiu quatro vezes mais do que a área ardida este ano até 15 de julho (5.327 hectares).

No ano passado, as chamas destruíram mais de 440 mil hectares, o pior ano de sempre em Portugal, segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

181 pessoas mantêm-se deslocadas devido ao fogo em Monchique

O número de pessoas deslocadas devido ao incêndio que deflagrou na sexta-feira em Monchique é, esta quarta-feira de manhã, de 181, informou a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC).

Segundo a 2.ª comandante operacional nacional da ANPC, Patrícia Gaspar, que falava num 'briefing' em Monchique, o anterior balanço era de 230 pessoas deslocadas e a redução deve-se ao facto de alguns moradores terem ido para casas de familiares e de "estrangeiros que regressaram às suas origens".

O número de feridos deste fogo rural, que deflagrou na sexta-feira no concelho de Monchique e lavra também em Silves e Portimão (distrito de Faro), subiu para 32, um dos quais em estado grave, que se encontra em Lisboa.

Costa faz balanço positivo da situação atual 

António Costa esteve esta quarta-feira na sede da ANPC, em Carnaxide, a fazer um balanço da situação atual dos incêndios. Depois de ser duramente criticado nas redes sociais pela sua ausência, o primeiro-ministro vem agora fazer um balanço positivos dos incêndios alegando que, tendo em conta as condições atmosféricas de que o país foi alvo, todos os incêndios - à exceção de Monchique - foram devidamente controlados e não houve perda de vidas humanas.

"O sistema respondeu à altura do desafio", apontou Costa.

O primeiro-ministro afirma que esta foi apenas a primeira prova de um verão que começou tarde e de uma forma intensa. 

Quanto ao desalento das populações que assumiram ao longo dos dias que a prevenção de nada lhes valeu, Costa contraria. "Estes dias demonstratram que vale a pena fazer a prevenção", disse assumindo que se esta não tivesse sido feita, teria sido muito pior a nível de descontrolo do fogo. 

"Felizmente, até ao momento, não há registo de perda de vidas humanas", sublinhou o primeiro-ministro. 

Confrontado com a dimensão do fogo em Monchique, Costa explica que a demora em extinguir o incêndio deve-se à área que se encontra a arder. 

"A vela de um bolo de aniversário, todos nós apagamos com um sopro", afirma enquanto explica que é natural que o caso da serra de Monchique leve vários dias a ser resolvido. 

"Seguramente que piorará", admitiu Costa sobre a possibilidade de o incêndio piorar nas próximas horas. Em jeito de conclusão, Costa explica que é importante que a prevenção continue a ser feita em todo o território. 

Fogo controlado em Portimão mas teme-se reacendimentos 

O fogo que deflagrou na sexta-feira em Monchique está controlado no concelho de Portimão desde terça-feira, mas ainda se teme a ocorrência de reacendimentos devido ao vento, disse a presidente da Câmara.

"Desde ontem [terça-feira] que a situação ficou controlada, o grande problema tem a ver com os reacendimentos. De momento não temos fogo ativo e estamos numa fase já de rescaldo e consolidação. Agora, nada nos diz que, de um momento para o outro, não possa haver um reacendimento", afirmou a autarca à agência Lusa, ao final da manhã.

Isilda Gomes disse que ainda há vento e essa "é, sem dúvida, a principal preocupação", mas sublinhou que, "de momento, está tudo calmo" no concelho algarvio, um dos três do distrito de Faro afetados pelo incêndio, juntamente com Silves e Monchique, onde se deu a ignição na sexta-feira, pelas 13h30.

Abastecimento de água normalizado no centro de Monchique

O abastecimento de água no centro da vila de Monchique está a funcionar normalmente, depois de ter estado cortado devido ao incêndio que lavra no concelho, disse à Lusa o presidente do município, Rui André.

"Já resolvemos a situação, toda a população está a ser abastecida, não há qualquer problema de abastecimento", declarou o autarca, esta manhã, lembrando que ocorreu uma "situação de exceção" - o abastecimento de viaturas dos bombeiros na vila, tendo em conta a aproximação das chamas.

Além disso, os helicópteros estiveram a abastecer com água das piscinas municipais. Existe um sistema de reposição automático, mas os níveis dos depósitos baixaram significativamente.

O centro urbano da vila, sede deste concelho do distrito de Faro, esteve sem abastecimento de água entre a noite de segunda-feira e terça-feira, na sequência do fogo que deflagrou na serra na sexta-feira, ao início da tarde.

Câmara de Portimão aciona linha telefónica para gerir donativos e evitar excessos

A Câmara de Portimão está a utilizar o número municipal de Proteção Civil para a gestão de donativos, que desde o início do incêndio em Monchique chegam de forma massiva aos bombeiros e locais onde pernoitam as pessoas afetadas.

A Linha "Proteção 24", disponível através do número 808 282 112, concentra toda a informação sobre voluntariado e donativos, funcionando como o canal que cidadãos e empresas deverão contactar para poderem prestar o seu contributo de forma útil e direcionado às reais necessidades de bens.

Segundo disse à Lusa fonte da Câmara de Portimão, concelho também atingido pelas chamas e onde se localiza o pavihão onde têm pernoitado o maior número de pessoas deslocadas, "as necessidades são muito voláteis" e a tipologia dos donativos necessários "altera-se de uma forma constante", tendo sido necessário adotar uma forma coordenada de gestão.

Ao pavilhão Portimão Arena têm chegado, desde o início da semana, paletes de água engarrafada, bens alimentares e também muitos produtos para bebés: fraldas, papas, pomadas, soro fisiológico e todo o tipo de bens que nem sempre são necessários, ou prioritários, para as pessoas afetadas e que ali permanecem apenas temporariamente.

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