Joana Gonçalves de Sá referiu que "a desinformação alimenta-se muito de instintos mais primários, de emoções mais primárias".
A investigadora Joana Gonçalves de Sá considerou esta quinta-feira que a criação de um ecossistema mediático e social de medo pode levar a uma maior suscetibilidade à desinformação, alimentando-se dos instintos e emoções mais primários.
Em entrevista à agência Lusa, a investigadora do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP) referiu que "a desinformação alimenta-se muito de instintos mais primários, de emoções mais primárias".
"E se se criar um ambiente mediático em que estas emoções mais primárias são as mais presentes, estamos a tornar esta população mais suscetível" à desinformação, afirmou.
A investigadora explicou que "um ecossistema mediático e social de medo, em que se tem medo do outro, do imigrante, de um colapso mundial, de uma série de conspirações, da corrupção, tem-se permanentemente medo, isso torna [as pessoas] mais suscetíveis à desinformação".
Se uma informação está sistematicamente a ser mostrada e em permanência, constrói-se uma determinada "narrativa que propicia um certo tipo de desinformação (...) muitas vezes criada de forma a fazer despertar alguns tipos de emoções primárias", disse.
Joana Gonçalves de Sá destacou ainda que a inteligência artificial (IA) pode ser usada para a produção de desinformação, através da facilidade em criar conteúdo dos grandes modelos de linguagem (LLM), embora também possa ser usada para identificar mais rapidamente uma informação falsa.
A investigadora está a desenvolver dois projetos sobre desinformação e enviesamentos algorítmicos, ambos com financiamento europeu.
Joana Gonçalves de Sá participou esta quinta-feira na conferência "Os Cidadãos Podem Derrotar a Desinformação", em Lisboa, onde também marcou presença o jornalista bolseiro do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, em Oxford, Niko Efstathiou, dizendo que "a IA tem criado muito conteúdo rapidamente e muitas vezes tão convincente que se torna difícil de desmontar", ao mesmo tempo que esta tecnologia permite "analisar milhões de documentos e desmistificar desinformação em tempo real".
A diretora de informação da agência Lusa, Luísa Meireles, participou no mesmo painel e introduziu na conversa "um novo conceito, meta-jornalismo, em que o jornalista vai publicando as notícias à medida que vai sabendo delas e deixa a verificação para um segundo tempo", capaz de gerar graves danos.
Por sua vez, o diretor de informação da SIC, Bernardo Ferrão, salientou o papel do 'fact-checking', nomeadamente do Polígrafo, dizendo que "o jornalismo alterou-se muito, por causa da rapidez, dos canais de notícias, etc... e portanto o Polígrafo veio no fundo fazer algo que o jornalismo, em verdade, deve fazer, mas muitas vezes não consegue fazer".
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