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Na Feira uns bebem cervejas enquanto outros correm a pedir gasóleo para os geradores

Fernando Farinha conta que o patrão o dispensou porque não havia tarefas que pudessem ser executadas sem eletricidade.

28 de abril de 2025 às 16:53

Em Santa Maria da Feira há quem tenha sido dispensado do trabalho devido ao apagão e passe a tarde com uma cerveja já pouco fresca, enquanto outros pedem gasóleo para alimentar geradores e dar resposta às filas nos supermercados.

Fernando Farinha, que é corticeiro numa fábrica de Santa Maria de Lamas, também no referido concelho do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto, diz que o patrão o dispensou logo ao fim da manhã porque não havia tarefas que pudessem ser executadas sem eletricidade e, em vez de se dirigir para casa, aproveitou para beber uma cerveja com um colega.

"Claro que já não está nada fresca, porque não há luz para o frigorífico, mas ao menos viemos ver como é que os outros estão a lidar com isto", explica à Lusa, de pé ao balcão, cotovelos apoiados no topo. "A ir pra casa, vou mais logo, porque, como já tenho pouco gasóleo na carrinha, arrisco-me a não poder abastecer tão cedo e a ter que ficar lá fechado muito tempo", justifica.

Essa preocupação com o carro a combustão deve-se ao facto de vários postos de abastecimento da zona apresentaram extensas filas desde a hora de almoço. "Temos que abastecer antes que deixe de haver combustível", diz um cliente do posto do supermercado E. Leclerc, enquanto uma senhora noutro veículo acrescenta que já esteve algumas vezes "parada com o carro ligado só para poder ouvir a rádio" e manter-se atualizada quanto ao que se está a passar com o corte de energia em Portugal e Espanha.

Na pastelaria Real, onde Fernando estava a beber o seu fino, já não se servem cafés nem bebidas quentes desde as 11:30 e, de pão, também já só há alguns exemplares à base de abóbora. As bebidas capsuladas ainda vão saindo, quase à temperatura ambiente, mas na vitrina dos balcões estão intocados mais de 50 pastéis, de várias formas e feitios, tal como no frigorifico vertical, reservado para bolos maiores e mais vistosos, daqueles que se comem em casa à fatia, onde há tartes de maracujá que não resistirão até ao dia seguinte.

"O que está nas arcas de bebidas não se estraga, mas o que eu quero é vender estes bolos todos agora à tarde", adianta Sara Pinto, a funcionária desse estabelecimento de São João de Ver, prometendo uma 'happy hour' a partir das 17:00, com a oferta de um pastel na compra de cada dois.

Quanto à gelataria, já a deu como perdida. "Vai-se derreter tudo. Para os gelados não há remédio", garante.

Onde não se adivinha prejuízo é no supermercado Continente Bom Dia do pequeno centro comercial Suil Park, na mesma freguesia, porque, ao contrário do habitual, esta tarde todas as caixas registadoras estão operacionais e têm fila, em resposta ao imprevisto aumento de procura suscitado pelo apagão elétrico.

Alguns funcionários estão nervosos dada a inesperada azáfama, mas a gerente de loja, Vera Matias, está num calmo controlo da situação e explica porque é que esse supermercado está a funcionar quando outros da mesma marca ficaram inoperacionais: "Nós temos um gerador. Nem todos os 'Continentes' têm um, mas, no nosso caso, na fase da construção decidiram instalar gerador e por isso é que estou a pedir a todos os meus funcionários que me arranjem gasóleo para o manter a funcionar".

Vera diz que o facto de os trabalhadores da casa "viverem perto" do supermercado facilitou a resposta à emergência: bastou contactar o pessoal que estava a usufruir da sua folga semanal e uns voltaram ao serviço mais cedo do que lhes seria exigido, enquanto outros foram para as gasolineiras à procura do tal combustível.

Quando lhe perguntam porque está tão serena comparativamente a outros colegas e parece lidar tão bem com o stress súbito, até consegue sorrir: "Depende da personalidade de cada pessoa e da sua postura na sociedade, mas eu gosto de ajudar. Está aqui tanta gente à procura de bens essenciais -- como água, enlatados, bolachas e tudo o que não precise de eletricidade -- que eu só quero que não me falte o gasóleo para poder dar resposta a esta procura toda".

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