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João Monserrate foi vítima de bullying e o trauma é difícil de superar

“Agressões verbais e psicológicas são as que mais magoam”, diz.

25 de março de 2022 às 12:18

João Monserrate foi vítima de bullying no quinto e no sexto anos de escolaridade, e recorda dias muito difíceis, cuja memória ainda perdura, mesmo agora, que tem 23 anos. Foi atacado, mas diz que “as agressões verbais e psicológicas são as que mais magoam”.

“Um murro ou um pontapé doem, mas curam-se”, garante o ex-aluno da Escola João das Regras, na Lourinhã, onde tudo aconteceu. Portador de aparelho por ter problemas de audição, nasceu com lábio leporino e em criança tinha excesso de peso. Diz ao Correio da Manhã que já não se lembra do que “os outros miúdos diziam”, mas recorda que um dia o melhor amigo, com quem partilhava os segredos mais íntimos, contou aquilo que não tinha direito de revelar, transformando o João no alvo da troça alheia.

Um dia, a mãe, que era funcionária da escola, testemunhou uma das agressões e levou o agressor ao Conselho Diretivo. Sem efeito. “Os professores desculparam-no, alegando que vinha de um ambiente socioeconómico desfavorecido e que tinha um ambiente doméstico problemático. Para mim, isso não o desculpa. Os ‘bullies’ têm de ser castigados”, diz ele, que tem noção de que houve casos em que as vítimas de bullying se suicidaram. Para o jovem, a leitura funcionou como uma tábua de salvação: sempre que podia, refugiava-se na biblioteca, para ler. Entre as estantes, ganhou verdadeiros amigos – os livros. Lá fora, o pesadelo só terminou quando João mudou de turma. A escola que foi palco do terror está agora fechada e há um grupo que a quer reabrir, mas o João espera que tal não ocorra. “Que fique fechada, é o que desejo”, revela, ele que tem acompanhamento psicológico permanente e que sonha, um dia, criar uma associação de apoio a vítimas de bullying. “É mais fácil, para quem sofre, falar com alguém que passou pelo mesmo.”

Vítima teve de mudar de escola

O caso do aluno da Escola Delfim Santos, em Benfica, atacado por um grupo de agressores, teve um desfecho "indesejado, mas infelizmente necessário". Mesmo depois da denúncia do CM, a perseguição ao rapaz, de 12 anos, continuou e a escola recusou-se a agir, por considerar que se tratava de "um desentendimento entre alunos" e não um caso de bullying. As ameaças à integridade física do estudante levaram a família a fazer aquilo que mais queria evitar: mudaram-no de escola. "Estamos esgotados", disse a tia.

"A ciência não aponta culpados"

CM- O bullying está a tornar-se mais comum?

- Nos últimos anos, diminuíram o número de casos reportados. Após o início da pandemia, não possuímos novos dados que nos permitam tirar conclusões.

– Quem tem a ‘culpa’?

– A ciência psicológica não ‘aponta’ culpados. Diz-nos que podem ser vários os fatores e contextos de risco (família, escola, grupo comunitário), e ainda que assume uma dimensão relacional que assenta não só no agressor e na vítima, mas também nos aliados e nas testemunhas.

– Que podem os pais fazer?

– Vítimas ou agressores, a supervisão e a monitorização da saúde psicológica são estratégias essenciais de ajuda por parte dos pais. No caso das vítimas, os sinais de alerta poderão ser, entre outros, hematomas sem explicação, roupa rasgada, perda de interesse pela escola ou até o desejo de mudar de escola, isolamento, alterações do sono ou do apetite. No caso dos agressores, podemos atentar a um desrespeito continuado e desafio às regras e às normas, revolta, impaciência, dificuldade em lidar com as contrariedades, irritabilidade fácil.

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