Zeca di Nha Reinalda levou o ritmo de Santiago às ilhas de Cabo Verde

Rei do funaná deu concerto no B.Leza.

20 de outubro de 2022 às 21:49
Partilhar

Zeca di Nha Reinalda, um 'Homem Grande' na música cabo-verdiana, dono de uma voz ímpar e forte impulsionador do funaná, do qual é rei e senhor. Foi com a entrada no grupo Bulimundo que a sua música ganhou uma grande projeção. Depois da independência de Cabo Verde, o funaná e o batuque, estilos musicais reprimidos durante o regime colonial português, ganharam liberdade para serem tocados e ouvidos para lá da Ilha de Santiago. "Em algumas ilhas, o público reagia de uma maneira estranha, porque não conhecia o ritmo funaná. Muitos até achavam que estávamos a tocar coladeira de uma forma que não era real", lembra Zeca di Nha Reinalda a propósito da primeira atuação dos Bulimundo na ilha de São Vicente, em 1978. "Passados dois anos voltámos e era todo o mundo atrás de Bulimundo. E assim continuámos a nossa caminhada", recorda o cantor.

A entrada de Zeca di Nha Reinalda nos Bulimundo deu-se numa altura em que havia rumores de que Katchas, músico que viria a influenciar o 'funaná moderno' com a sua guitarra elétrica, iria regressar a França. "Nessa altura tinha uma pequena quantia, devido ao falecimento do meu pai, em França. E disse à minha mãe que ia comprar o equipamento dos Bulimundo ao Katchas. Convidei-o para um almoço em minha casa. Nessa altura eu fazia parte do grupo Opus 7, onde já tocava funaná. Sou a primeira pessoa a cantar o 'Djonsinho Cabral', porque eu é que pus o nome à música, e coloquei algumas quadras. Quando o Katchas almoçou comigo, eu tinha marcado um ensaio dos Opus 7 perto de minha casa, para ele ver o nosso grupo, e o poder influenciar na venda do equipamento. Só que o Katchas não estava para regressar a França. Viu o grupo e convidou-me para entrar nos Bulimundo. Eu disse que não, só podia entrar levando os meus companheiros. Então, em 78, entrei eu, o Santos, o Tony, o Zé Carabedja e o Zé Gusto. Fomos cinco pessoas que saímos dos Opus 7, não tínhamos equipamento, nessa altura, e fomos para os Bulimundo", revela o cantor cabo-verdiano.

Pub

Mais tarde, Zeca, juntamente com o seu irmão, Zezé di Nha Reinalda, formou os Finaçon. Um grupo que teve muito êxito em território francês. "O grupo Finaçon era um grande grupo. Tínhamos bons elementos. Um grande baixista, que era o Paló, o Quim Alves nas teclas, o Dick, o Nelson, e o meu irmão Zezé... éramos cantores. Mas nem tudo na vida corre como planeamos. Não é porque não correu bem, houve muitas coisas que levaram ao afastamento do grupo Finaçon de França", recorda Zeca di Nha Reinalda. Foram seis, os discos gravados pelos Finaçon entre 1985 e 1995.  O primeiro foi 'Horizonte', seguiu-se 'Rabecindade', que inclui o tema 'Fomi 47'. 'Dotorado', o disco gravado no final da década de 80, terá, segundo o cantor, influenciado a abertura política em Cabo Verde. Gravaram também 'Farol', 'Simplicidade' e por fim o 'Kel Ki Ta Da Ta Da'.

Com muitos discos gravados, Zeca di Nha Reinalda continua o seu percurso na música e nos palcos. Neste mês de outubro, dia 7, esteve no BLeza para mais um concerto, e foi durante o check sound que falou ao CM. Temas como 'Bem di Fora', 'É Duedu', 'Tó Martins', 'Sema Lopi', 'Fomi 47', fazem parte do seu repertório, que contém muitos temas da sua autoria.

Pub

Nos últimos anos, Zeca, gravou alguns singles com cantores mais jovens, num registo que vai para além da música tradicional. Loony Johnson, Elji Beatzkilla e Charbel são alguns desses artistas. "Cresci numa zona que tinha muita influência da imigração. No bairro Craveiro Lopes, na cidade da Praia. Na altura não havia música de Cabo Verde gravada. Tínhamos poucos discos. Eu e os meus amigos da zona, toda a gente, só ouvíamos música estrangeira. Eu conheço todas as melodias do James Brown, Otis Redding, do Stevie Wonder. Conheço a primeira música que teve sucesso dos Jackson Five, cantada pelo nosso falecido Michael Jackson. Eu ouço sempre bons cantores, para poder aprender. É seguindo boa gente que a gente se torna boa gente. Então, essa malta jovem que vem ter comigo, para mim é sinal de respeito e consideração, por alguma coisa que fiz na vida. E sempre estou de braços abertos para eles, porque não tenho nada para dar, a não ser aquilo que Deus me deu para partilhar", conclui Zeca di Nha Reinalda.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar