A filha comunista do PIDE

A história surpreendente de Annie Silva Pais, filha do último director da PIDE (polícia política do Estado Novo), Fernando Silva Pais, que virou costas ao Estado Novo e abraçou a revolução cubana, será representada a partir de quinta-feira no Teatro D. Maria II, em Lisboa, na peça ‘A Filha Rebelde’.

13 de março de 2007 às 00:00
A filha comunista do PIDE Foto: Manuel de Almeida / Lusa
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“É quase inimaginável esta situação da filha do director da polícia política da mais velha ditadura europeia ter tido o percurso radical e de rupturas permanentes que teve, ao ponto de chegar a morrer em Cuba”, afirmou José Pedro Castanheira, co-autor, com Valdemar Cruz, do livro que esteve na origem da peça e que começou numa investigação jornalística.

Em palco, Ana Brandão (Annie Silva Pais) lidera um elenco com 18 actores, incluindo Vítor Norte (Silva Pais) e Lídia Franco (mãe da protagonista). “É a primeira vez que faço o papel de alguém que existiu e é uma enorme responsabilidade”, disse à Lusa a actriz, explicando que não tentou fazer “uma cópia ou um retrato real” do que era Annie.

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A história contada vai dos anos 1960 até ao início dos 1990 e passa-se em Portugal e em Cuba. Annie é casada com um diplomata suíço e com ele vai viver para Cuba, nos primeiros anos da revolução que derrubou Fulgêncio Batista. A vivência no país e um encontro com Che Guevara levam-na a deixar uma vida de aparências, a pôr fim ao casamento e a empenhar-se na revolução e nos seus ideais. Regressa a Portugal após o 25 de Abril para visitar o pai na prisão e morre em Julho de 1990, aos 54 anos.

Para a encenadora da peça, a espanhola Helena Pimenta, o que se conta não é apenas a vida de Annie, mas também a crónica de dois países que, em momentos diferentes, vivem as suas revoluções.

Para assinalar a alegria desse período há música ao vivo a acompanhar as cenas. Todavia, “ao mundo de Salazar não corresponde qualquer música, optou-se pelo silêncio (que simboliza a repressão), pelo som do vento”, acrescentou a encenadora, que foi convidada pelo D. Maria II para ler o livro e a levá-lo à cena após a adaptação de texto de Margarida Fonseca Santos.

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Com cenografia de José Manuel Castanheira e figurinos de Ana Garay, a peça vai estar em cena a partir de quinta-feira e até 20 de Maio.

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