Carminho lança novo disco: "Este processo começou na barriga da minha mãe e até hoje continua a fazer sentido"
Fadista lança o novo disco, 'Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir', em que volta a levar o fado para o lado experimental.
Há muito que Carminho deixou de olhar para o fado apenas como um espaço de interpretação, tendo-o transformado num lugar quase secreto de necessidades, procuras e experiências. O novo disco, 'Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir', que é editado esta sexta-feira, é mais uma etapa de um percurso de busca natural que a própria diz que começou "na barriga da mãe" [a cantora é filha da fadista Teresa Siqueira] e que "até hoje continua a fazer sentido". O processo tem sido de tal forma íntimo e pessoal que sempre que chega a hora de mostrar um novo disco há sempre um sentimento estranho à mistura. "Parece que me estão a mexer nas gavetas", ironiza.
Com o fado tradicional sempre presente, o novo registo de Carminho, em que esta se assume como compositora, é mais um atelier artístico no qual Carminho foge ao óbvio e abraça o inesperado com a introdução de instrumentos como o cristal baschet, ondes martenot ou vocoder, isto para além da guitarra portuguesa, da viola de fado, do baixo acústico, da guitarra elétrica ou do mellotron (teclado eletromecânico polifónico). "São instrumentos que procuram regiões sónicas que me interessam, umas mais graves outras muito agudas num diálogo com a própria guitarra portuguesa", justifica. "O fado é um lugar onde me consigo expressar e onde sinto liberdade para isso. Ele é como um pedaço de barro em estado puro, cada um de nós vai moldando à sua maneira".
O próprio título do disco só aparentemente é fatalista. "Acho que é um título que contraria e ironiza o fatalismo típico do fado. Morre-se muito de amor no fado e aqui há a possibilidade de resistir. E interessa-me cantar essa ambiguidade. Por isso este é um disco muito centrado na voz e nas múltiplas vozes que uma intérprete pode ter". Ainda assim garante: "Não estou à procura de mudar o fado, mas estou a usar uma linguagem que recebi por herança desde pequena que permite explorar as minhas ideias".
O novo disco inclui poemas de Ana Hatherly, Amália Rodrigues e Pedro Homem de Mello e conta com a participação de nomes como Laurie Anderson e Mário Laginha. No novo trabalho, Carminho interpreta ainda a marcha 'Lá Vai Lisboa' de Norberto Araújo e Raul Ferrão.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt