E do 'velho' se faz música nova
Manuel Fúria & os Náufragos estão de regresso aos discos com Viva Fúria.
O tempo dos lírios já lá vai. Agora pouco importa. Do outro lado dos montes há mais para ver e ouvir. Há ventos que correm a favor. De lá de cima avistam-se outros tempos, de quando a canção lavrava pelos campos férteis da música portuguesa. Manuel Fúria & os Náufragos voltam a desenterrar memórias de um cancioneiro saudoso e voltam, no novo disco, ‘Viva Fúria’, a cultivar, como poucos, aquele velhinho formato canção que durante muito tempo parece ter estado em desuso.
E quem semeia ventos destes, colhe inevitavelmente simpatia. "Depois dos anos 80 houve de facto uma ressaca clara daquele período criativo e as sensibilidades artísticas mudaram. Teve também a ver com algum provincianismo e com a ideia de que o que se faz por cá não é tão bom como o que vem do estrangeiro", diz Manuel Fúria, um músico que assume a genuína vontade de fazer canções. Com eles há sempre festa não sei onde.
‘Viva Fúria’, o disco, é daqueles que fazem o velho parecer novo, daqueles que levam tudo atrás. Nascido em ambiente rural e campestre, mas sempre com o barulho da corrente criativa de Manuel Fúria, ‘Viva Fúria’ vive entre a cidade e o campo, entre o céu e a terra, entre o rio e o mar, onde as palavras são repescadas naturalmente às melodias. "A música também é o suporte para dizer coisas e a palavra é para mim o elemento fundamental. A música funciona como isco para as palavras. É tudo um processo intuitivo em que vou escrevendo o esboço e depois vou fazendo um trabalho de depuração", explica Manuel Fúria. "Nas Canções Foleiras/Só para encher/Diz-se ‘És o meu Mundo’/Não escrevo para vender" ouve-se no tema ‘Cala-te e Dança’.
Em ‘Viva Fúria’ fala-se de corações com fome, de beijos, de paixão e de amor, não necessariamente do amor em sentido restrito e muito menos do amor personalizado no seu autor. "Tento não dizer muitas coisas sobre mim ou sobre o amor, até porque não falo só dele. E quando falo dele é um amor maior: o amor como compromisso ou atitude perante a vida", explica o músico.
Para ouvir com especial atenção estão temas como ‘Pequeno Peixe’, ‘Cala-te e Dança’, ‘Corações com Fome’, ‘Aquele Grande Rio’, ‘Ela Vai Voltar’ ou ‘Cavalos Brancos’. Porque do outro lado dos montes há mais para ver e ouvir. Quem quiser ou poder que se deixe levar, que cante e que dance
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