Faleceu escritora Ilse Losa

A escritora portuguesa de origem alemã Ilse Losa faleceu ontem, no Porto, aos 92 anos, de doença prolongada. O funeral realiza-se hoje, partindo o corpo, pelas 09h45, da casa de família para o Prado do Repouso.

07 de janeiro de 2006 às 00:00
Faleceu escritora Ilse Losa Foto: d.r.
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Ilse Losa, que se refugiou em Portugal em 1934 fugindo à perseguição nazi, é conhecida principalmente pelos seus livros para crianças.

“Ilse Losa é consagrada como escritora de livros infanto-juvenis. A sua escrita é altamente inventiva mas não infantiliza demasiado as crianças”, declarou ao CM José Ribeiro, da Afrontamento, editora que publica, desde a década de 70, a obra da escritora.

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“Os seus romances e livros de contos têm a ver com a sua experiência de vida, pois a autora, oriunda de uma família judia, foi forçada a sair da Alemanha e a adaptar-se a um país diferente”, explicou o editor.

Grande admiradora de Losa, a deputada Odete Santos tinha seis anos quando leu o livro ‘Faísca conta a sua história’ (1949), cujo narrador é um cão que se separa do menino pobre.

“Este livro impressionou-me muito. Lembro-me que chorei copiosamente”, confessou ao CM, acrescentando: “Ver os pobres serem privados de alegria criou sentimentos de solidariedade. É violento, pois leva a reflectir sobre a pobreza, mas não a gratuita, que hoje é muito comum.”

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Por sua vez, a escritora Agustina Bessa-Luís recorda Ilse Losa como “uma amiga e mulher de grande vivacidade e com uma ironia finíssima” de quem, afirmou, ter sido muita amiga e companheira.

Considerando-a “uma das personalidades mais relevantes” da literatura infanto-juvenil portuguesa, o presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), José Manuel Mendes, referiu que a escritora luso-alemã “sempre nos propôs uma faceta muito peculiar, cingida aos ideais de uma literatura livre, sensível e exigente”.

Nascida na Alemanha a 20 de Março de 1913, Ilse Losa refugiou-se em Portugal, onde se casou com o arquitecto Arménio Losa e adquiriu a nacionalidade portuguesa.

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A sua vastíssima obra inclui romances, contos, crónicas e trabalhos pedagógicos. Além de ter colaborado com diversos jornais e revistas alemães e portugueses, traduziu do alemão alguns dos mais consagrados autores e ainda antologias de obras portuguesas publicadas na Alemanha.

Em 1984, recebeu o Grande Prémio Gulbenkian pelo conjunto da sua obra para crianças e, com o livro ‘À Flor do Tempo’, ganhou o Grande Prémio de Crónica da APE (1998).

‘O Mundo em que Vivi’ (1949) é uma das obras de leitura integral aconselhada pelo Ministério da Educação, mas entre os seus livros mais conhecidos destacam-se ‘Sob Céus Estranhos’ (1962), ‘Rio sem Ponte’ (1988), ‘Caminhos sem destino’ (1991) e ‘O Príncipe Nabo’ (2000).

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