Loja de música Piranha resiste há 30 anos no Porto graças a um "nicho muito fiel"

Loja localizada na rua Júlio Dinis abriu em 1995 pela mão de Miguel Teixeira.

25 de dezembro de 2025 às 07:45
Miguel Teixeira mantém a Piranha, loja de música no Porto, há 30 anos Foto: Lusa
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A loja de música Piranha, que assinala 30 anos este mês, resiste no Porto graças a um "nicho muito pequeno" de clientes que "é muito fiel", disse à Lusa Miguel Teixeira, dono do espaço localizado no Centro Comercial Itália.

Ao fundo da galeria comercial localizada em plena rua de Júlio Dinis, ouvem-se os Sisters of Mercy pela mão de Armando Marques, trabalhador na Piranha, e Miguel Teixeira chega para contar a história do seu local de trabalho, que é também a sua paixão.

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"Eu sou o dono da loja, fundei a loja originalmente em 1995, na altura não estava sozinho, estava com outras pessoas que entretanto saíram", conta à Lusa, recordando que no início se chamava Carbono, fruto de uma parceria com uma loja de Lisboa.

À data, Miguel Teixeira era "um consumidor da Carbono e ia algumas vezes a Lisboa comprar música, não só lá como a outros" espaços, tendo "surgido a ideia de criar a loja" quase "como se fosse uma filial da Carbono" no Porto.

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Porém, as origens da Piranha são ainda mais profundas, remontando ao tempo das 'fanzines', nomeadamente da Peresgótika de Miguel Teixeira, e da colaboração com a rádio Nova Era, então rádio pirata, a partir do final dos anos 80.

"Convidaram-me para ter um programa, se eu queria, e eu nunca fui locutor, nunca tive voz para isso, tive que aprender alguma coisa, e pronto, comecei a fazer um programa, fiz vários. O que durou mais tempo e o mais conhecido foi um programa chamado 'O Arco do Cego'. Só esse programa durou mais de 10 anos na Nova Era, portanto é algo significativo", relata.

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FOTO: Lusa
Discos de Siouxsie and the Banshees e Fields of the Nephilim na Piranha, loja de música no Porto.
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Fruto da sua atividade no meio musical, Miguel Teixeira "recebia muito material promocional", num tempo em que as coisas funcionavam de maneira diferente, e numa altura em que a Internet, em Portugal, era pouco mais que uma utopia.

"Lembro-me que tinha um contacto de uma editora na Suíça em que eles tinham um catálogo com centenas e centenas de concertos gravados de bandas e depois nós trocávamos isso, mas isso era só 'trading' [troca], 'trading' mesmo", sem dinheiro à mistura. "Era a música mesmo pela música que nós vivíamos. Não havia qualquer tipo de negócio", conta.

Com a exposição a realidades diferentes no estrangeiro que chegavam mais tarde a Portugal, Miguel "já tinha bastante dificuldade em encontrar música que queria", surgindo uma questão óbvia.

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"Porque é que eu, em vez de estar a divulgar isto noutro sítio, porque é que não faço eu isto, realmente, se é isto que eu quero e é isto que eu gosto?", interrogou-se então.

Assim surge a Carbono no Porto, cujo nome se mantém durante alguns anos até se transformar em Piranha, pois a portuense e a lisboeta acabaram, segundo Miguel Teixeira, por não ter "a mesma visão de negócio".

"Eles tinham uma visão de negócio e nós não tínhamos uma visão - se calhar, éramos mais 'naïf' - propriamente de negócio da música. Nós queríamos ser um bocado... não elitistas, porque isso acho que nunca fomos, mas um pouco mais alternativos e explorar um nicho, porque senão iríamos ser como as outras todas", conta.

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A loja cresce na época do ocaso do vinil e da vulgarização do CD, sendo isso ainda visível na loja hoje em dia: se com o ressurgimento do vinil na última década e meia muitas lojas se viram ocupadas por ele, a Piranha mantém orgulhosamente a sua 'traça original', muito marcada pelo CD, ainda que aberta a todos os formatos.

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FOTO: Lusa
A loja Piranha, no Porto, celebra 30 anos com um nicho musical fiel

O 'boom' do CD na Piranha "foi uma loucura" durante "uns 10 anos". "Nessa altura, só para ter uma ideia, nós chegávamos a ter períodos em que tínhamos que ter uma pessoa aqui à porta, porque a loja é pequena", em que "saíam duas e entravam duas pessoas" de cada vez.

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O aparecimento da Internet - e, com ela, da pirataria - foi um 'rombo' para a Piranha, que hoje vive tanto da clientela fiel como das encomendas 'online'.

"Sustentável ainda é, senão não estaríamos aqui há 30 anos. Nós exploramos um nicho e temos a perfeita noção que é um nicho muito pequeno. Mas esse nicho muito pequeno, felizmente, ainda é muito fiel", conta, falando numa legião não "fanática no mau sentido", mas "fiel" e "que continua a gostar do que é físico, do que tem qualidade".

Em termos de géneros, a Piranha foca-se sobretudo no espectro do 'post-punk', 'punk', e gótico até às "500 mil vertentes" do metal, e "mais recentemente aqueles subgéneros - 'darkwave', 'synthpop', essas coisas todas".

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Para assinalar os 30 anos, durante o ano realizaram "a apresentação e o lançamento de um livro relacionado com o metal, chamado 'A Fúria do Céu'" e ainda fizeram o lançamento do álbum da banda Portuguesa Radiant Though.

Em 2026, está prevista a realização de uma exposição com o tema "30 anos, 30 álbuns", um projeto "muito pessoal" alicerçado no gosto de Miguel e Armando, sendo "uma exposição com as capas desses álbuns", em frente à loja.

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A Piranha vai tentar também realizar um encontro com uns dos maiores representantes do 'darkwave' e 'post-punk' atual, os turcos She Past Away, que têm concerto marcado para o Porto no dia 23 de janeiro, e em Lisboa no dia seguinte.

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