Morreu Brigitte Bardot, ícone do cinema francês

Atriz francesa tinha 91 anos.

Atualizado a 28 de dezembro de 2025 às 12:28
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Brigitte Bardot, icónica atriz do cinema francês, morreu este domingo aos 91 anos.

O anúncio da morte foi feito pela fundação com o nome da atriz, dedicada à defesa dos animais. A 16 de outubro Bardot já tinha sido internada para tratamentos relacionados com "doença grave", regressando a casa após três semanas.

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"A Fundação Brigitte Bardot anuncia com imensa tristeza o falecimento da sua fundadora e presidente, Madame Brigitte Bardot, atriz e cantora de renome mundial, que escolheu abandonar a sua prestigiada carreira para dedicar a sua vida e energia ao bem-estar animal e à sua fundação", lê-se no comunicado citado pela France 24.

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS
Brigitte Bardot em 'O Desprezo', de Jean-Luc Godard
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Brigitte Bardot em 'O Desprezo', de Jean-Luc Godard

Considerada um dos maiores símbolos da beleza dos anos 60, Bardot foi figura maior de uma época dourada no cinema europeu. Nascida em 1934 no seio de uma família católica da alta burguesia (o pai era engenheiro, a mãe filha de um diretor de uma empresa de seguros), começou por querer ser bailarina, mas foi no grande ecrã que o mundo se apaixonou por ela. A sua carreira começou em 1952, com um pequeno papel em Le trou normand; poucos anos depois, em E Deus Criou a Mulher (1956) eternizou a imagem erótica e provocadora que com a qual viria a ficar associada. Seguiram-se papéis em alguns dos filmes mais importantes da nouvelle vague francesa, dos quais se destaca a colaboração com Jean-Luc Godard em O Desprezo (1963).

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O estatuto de sex symbol, que por vezes se sobrepôs ao talento dramático — nunca ganhou nenhum prémio de relevo, a não ser um David Di Donatello, de melhor atriz estrangeira atribuído pela Academia de Cinema de Itália por A Verdade (1960), de Henri Georges Clouzot — e sobretudo o seu profundo papel transformador na cultura dos anos 60 e na revolução sexual. A propósito de Bardot, escrevia o crítico Jean Douchet que ela "subverte e revoluciona os costumes sociais em França e no mundo todo"; a filósofa Simone de Beauvoir, no seu ensaio Brigitte Bardot e o Síndrome Lolita, descrevia-a como a mulher mais emancipada de França e a "locomotiva da história das mulheres".

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS
Bardot personificou o ideal da mulher francesa da década de 60
FOTO: AP
Bardot personificou o ideal da mulher francesa da década de 60
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Bardot personificou o ideal da mulher francesa da década de 60

Paralela à carreira no cinema, teve ainda um pé na indústria musical francesa. Gravou vários discos e fez duetos de sucesso com cantores com Sacha Distel e em particular com Serge Gainsbourg, dos quais se destacam 'Bonnie & Clyde', 'Comic Strip' e a versão original de 'Je t'aime... moi non plus', que Gainsbourg mais tarde imortalizaria ao lado de Jane Birkin.

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Foi também um dos principais ícones da moda do período, representando marcas como a Dior e a Pierre Cardain. Idolatrada pelos Beatles e retratada por Andy Warhol, acima de tudo, personificou o estilo da mulher francesa ideal: cabelos loiros, curvas esculturais e a elegância clássica da velha Europa.

Retirou-se da indústria do cinema em 1973, apenas aos 39 anos — nas suas próprias palavras, para poder "sair de forma elegante". Pouco depois, fechava o ciclo da juventude com uma capa histórica para a revista Playboy, para assinalar o 40º aniversário.

Defensora acérrima dos direitos dos animais, a segunda metade da sua vida foi dedicada sobretudo ao ativismo e à conservação das espécies. Tornou-se vegetariana e estabeleceu a Fundação Brigitte Bardot, usando a fama para angariar milhões de dólares a favor da sua grande causa.

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FOTO: AP
Foi defensora acérrima dos direitos dos animais
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Foi defensora acérrima dos direitos dos animais

De ideias conservadoras, manifestou ao longo da vida as suas opiniões políticas e foi apoiando publicamente candidatos — de Charles de Gaulle ainda no auge da fama da década de 60 (dela, o general e presidente francês disse que era "uma exportação francesa tão importante como os carros Renault"), a Marine LePen em anos mais recentes.

Algumas das suas posições e declarações mais incendiárias, como o discurso anti-imigração, o anti-islamismo e mesmo a oposição a relações interraciais, valeram-lhe problemas com a Justiça francesa, que a condenou por diversas vezes a pagar multas por incitamento ao ódio racial.

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A vida pessoal foi conturbada. Sobreviveu a tentativas de suicídio, casou quatro vezes e por admissão própria foi frequentemente infiel ("sempre procurei paixão nas minhas relações, por isso é que traí"). Do relacionamento com o ator Jacques Charrier (que também morreu este ano) nasceu o seu único filho, Nicholas, em 1960. Bardot, que não queria ser mãe (fez inclusive dois abortos, um dos quais quase fatal), teve sempre uma relação fria e distante com o filho, que não a convidou para o seu casamento e chegou a processá-la por declarações da própria na sua autobiografia.

Já perto do fim da vida, em 2018, revelou que após décadas de afastamento, ela e Nicholas tinham uma relação amigável e viam-se uma vez por ano. O último casamento, com Bernard d'Ormale, durou quase 30 anos e acompanhou-a pelo resto da vida, passada longe dos holofotes, nas suas mansões em Saint-Tropez.

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