O triunfo da resistência passiva

Um homem vive com a irmã numa espécie de armazém abandonado há anos. Chama-se Paul e é um recluso: não sai de casa, praticamente não sai do sofá, é um adepto fanático do imobilismo. Um dia, a casa que habita é herdada por um jovem que destina o edifício a um negócio lucrativo. Como despejar o inquilino indesejado? Pode parecer tarefa fácil, mas não é. ‘O Senhor Paul’, peça que o alemão Tankred Dorst (1925-2017) escreveu em 1993, é a mais recente produção do Teatro Aberto, que a está a apresentar na Sala Azul, em Lisboa, numa encenação de Álvaro Correia. “O texto estava nos planos da companhia há muito tempo e fui desafiado a levá-lo à cena”, conta o encenador ao CM. “É uma espécie de fábula realista absurda, com muitas camadas. Por um lado alude à gentrificação e à especulação imobiliária que se tornou uma realidade para nós, mas tem uma leitura filosófica importante: às vezes, parece que a imobilidade é a única resposta viável para a sobrevivência num mundo que claramente deixou de fazer sentido”, observa.

O espetáculo é protagonizado por Miguel Loureiro, no papel titular, acompanhado por Maria José Paschoal (que faz a irmã), mas o elenco integra ainda Carlos Malvarez, Íris Cañamero, José Pimentão e Lia Carvalho. “Escolhas fáceis”, garante o encenador. “O Miguel [Loureiro, diretor artístico do Teatro São Luiz] queria voltar a trabalhar como ator e somos cúmplices. A Maria José [Paschoal] pareceu-me a pessoa certa e o elenco mais jovem já o conhecia: ou por terem sido meus alunos ou por ter já trabalhado com eles noutros projetos. Só o José Pimentão não conhecia”, nota.

Agradado com a forma como o espetáculo está a ser recebido – “o público entende o humor da peça e fica agarrado à ação do princípio ao fim” – Álvaro Correia continuará a apresentar ‘O Senhor Paul’ no Aberto às quartas e quintas às 19h00, sextas e sábados às 21h30 e aos domingos às 16h00.