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60 mil em delírio no arranque do festival

Chapéus e mochilas às costas, as crianças foram as primeiras a chegar à Cidade do Rock, em Lisboa. Pela mão de pais e professores, eram 15h00 quando começaram a entrar aos milhares e, já dentro do recinto, dispersaram entre os parques de diversões e pequenos ‘acampamentos’ que, aqui e ali, se começaram a formar nas dezenas de hectares de relva.

27 de maio de 2006 às 00:00

Nas entradas, a segurança era reforçada e, à semelhança dos estádios de futebol, foi proibida a entrada de garrafas com tampa. A regra alastrou aos protectores solares, deu origem a vários protestos, e, com 33 graus à sombra, foi necessária a intervenção de Roberta Medina, responsável máxima do Rock in Rio, para pôr fim ao excesso de zelo de polícias e seguranças.

Na Cidade do Rock nem tudo mudou desde 2004, mas as poucas mudanças foram radicais. O branco deu lugar ao vermelho – perucas e guarda-sóis ajudaram a dar outra cor ao evento e a formar um enorme coração –, e o silêncio de há dois anos deu lugar ao rufar dos tambores. Mais de cem elementos dos Tocárrufar ‘bateram’ em desgarrada durante mais de 20 minutos pelo meio da multidão. Foram eles que abriram oficialmente o festival, cerca das 18h00. “Isto é lindo. Até arrepia”, comentava para os amigos Alexandra Sousa, de 18 anos, enquanto dois aviões Alpha Jets da Força Aérea Portuguesa cruzavam os céus do Parque da Bela Vista. E como não há abertura oficial sem hino, às 18h30 já Ivete Sangalo, acompanhada pelos Wok (projecto também ligado aos Tocárrufar), entoava os versos da canção Rock in Rio e deixava o aviso: “Preparem os vossos corações que a festa vai começar.”

Todavia, os mais velhos só chegaram ao final da tarde e com outros requisitos. Elas vão-se distribuindo pelas lojas ou em grupos pela relva, enquanto guardam lugares junto ao grande palco, eles querem muita cerveja à chapa do sol. Enquanto elas só pedem sombra e retemperam forças para os grandes concertos do primeiro dia. E o caso não era para menos, pois a noite prometia ser longa... 60 mil já lá estavam.

A Área Kids é reservada aos mais novos, que, em poucos minutos, a invadiram. “Lotação esgotada”, adiantou pouco depois a responsável. Entre rapazes e raparigas, os monitores “não têm mãos a medir”, adiantou Inês Ramos. Eles “adoram dar saltos nos insufláveis”, elas “dedicam-se às pinturas”, e todos se perdem com o pequeno palco improvisado e instrumentos verdadeiros.

OS NAMORADINHOS DE PORTUGAL

Há uma música dos D’ZRT que se chama ‘Caminho a Seguir’. E nos dias de hoje milhares de jovens entre os 9 e os 16 anos sabem qual é: aquele por onde forem Angélico, Víctor, Edmundo e Paulo.

E assim aconteceu ontem no Rock in Rio. O fenómeno existe, mostrou, uma vez mais, que tem visibilidade e que como qualquer fenómeno que se preze é capaz de provocar gritos, histeria e muitas lágrimas. Refrões simples, melodias orelhudas e quatro rapazes bem parecidos – pelo menos é o que elas dizem – estão na base do sucesso.

Os D’ZRT são hoje os namoradinhos de Portugal. Cantam e encantam. Raquel Peneda é uma das muitas que não tem vergonha de chorar por eles em público. Encontrámo-la agarrada religiosamente a um poster da banda, já amarrotado. Aos 14 anos descobriu o seu primeiro amor. Chama-se Angélico.

A tocar para 60 mil pessoas, a banda destroçou corações, cantou em português e em inglês, dançou até reggae, desceu perto do público e saíu como entrou, em apoteose. O fenómeno impressiona até quem vem de fora: “Cara, que loucura é essa!!!”, perguntava Osmar Martins, jornalista brasileiro do ‘Correio da Bahia’ na Europa a acompanhar Ivete Sangalo. Mais do que uma sobremesa, os D’Zrt são um prato cheio.

Há dois anos deixou a cidade do rock de língua de fora. Com o diabo no corpo, Ivete Sangalo voltou ontem a Portugal para fazer do público gato e sapato. Às 20h30 já o enorme anfiteatro do recinto estava completamente lotado, mais de 80 mil pessoas.

Revelando uma energia quase sobrenatural (já nem Daniela Mercury a apanha), Ivete Sangalo lançou o repto logo no início do concerto: “quero ver toda a gente pulando”, um grito de guerra em tempo de paz. E assim foi. Até ao final.

Sem dó nem piedade, a cantora interpretou todos os seus sucessos, de ‘Vem Meu Amor’ a ‘Levada Louca’. Baiana de gema, ainda trocou de roupa durante o espectáculo e vestiu-se com as cores da bandeira portuguesa. “Parece que tem o diabo no corpo”, comentava um dos muitos homens na assistência. E o resto não se pode contar…

HERÓIS NACIONAIS

São verdadeiros heróis nacionais aqueles que se apresentam no Hot Stage, o palco secundário. Quando se sabe à partida que as atenções estão viradas precisamente para o lado oposto, a tarefa é quase ingrata.

Ainda assim, Room 74, Fingertips e Expensive Soul souberam honrar a música portuguesa e até mostraram algum ‘fair-play’. Os Room 74 brincaram quando algumas dezenas de jovens se colaram na frente do palco: “Ena! Até parecemos os D’ZRT!”.

Nota cinco para Fingertips (estes sim já com seguidores) e um suficiente mais para Expensive Soul.

FAMOSOS APARECERAM À HORA DO JANTAR PARA SABOREAR AS IGUARIAS À DISPOSIÇÃO

Os famosos não afluiram à chamada do rock e, na tenda VIP – a 180 euros por cabeça...– , só começaram a aparecer para o jantar. Aliás, estiveram mais preocupados em saborear as variadíssimas iguarias à disposição do que em assomar à varanda para ver os concertos.

Mas houve quem deixasse o prato de lado para, de copo na mão, ‘bombar’ ao som da música. Foi o caso do actor brasileiro Marcos Frota interpelado pelo CM na enorme varanda virada para o palco: “O Roberto é muito meu amigo e vim do Brasil só para estar aqui. Sou fã deste evento e hoje, em particular, estão aqui muitas crianças que provam uma coisa muito simples”, disse ao CM Marcos Frota, que se encontra na capital portuguesa acompanhado de um amigo “só para ver o rock”.

PRIMEIRAS HORAS

15h00 – Milhares aguardavam pacientemente a abertura dos portões.

15h20 – Acabaram os últimos ensaios das bandas do Hot Stage.

17h20 – No espaço radical, 150 já tinham descido a pista de neve em bóias de borracha.

17h30 – Hora a que foram disponibilizadas as pranchas de snowboard.

17h30 – O slide transportara 160 pessoas e, na meia hora seguinte, ‘viajaram’ mais 40.

18h00 – Dezoito mil já estavam na Cidade do Rock.

COMES E BEBES

– Na loja de alimentação mais concorrida, a ‘Psicólogo’, de comida israelita, a ‘pita shoarma’ teve grande procura.

– Nos bares, as garrafas de água lideravam, ao final da tarde, o ‘ranking’ das vendas, seguidas da cerveja, dos refrigerantes e dos cafés. São 180 os postos de venda e 1200 os funcionários.

– Os hambúrgueres e as sandes também estiveram ‘em alta’ ao início da noite, quando a fome começou a apertar.

PROGRAMA DO SEGUNDO DIA (27 MAIO)

PITTY (19h00) – É a mais recente sensação do rock que se faz no Brasil.

XUTOS & PONTAPÉS (20h30) – A maior banda de rock portuguesa dispensa apresentações.

THE DARKNESS (22h00) – A revelação do ‘glam rock’.

GUNS N’ROSES (23h45) – Axl Rose de regresso a Lisboa.

WRAYGUNN (16h30) – A banda de Paulo Furtado destila rock, blues, soul e gospel.

THE LIVING THINGS (17h50) – Os três irmãos Berlin alimentam-se de punk e hard rock.

KILL THE YOUNG (19h40) – Também irmãos, Tom, Dylan e Olly Gorman são considerados os novos Nirvana.

JIM MASTERS (20h30/21h30) – Tem sido elogiado publicamente pelos melhores DJ de todo o mundo.

TREVOR ROCKLIFFE (21h30/23h15) – Fiel escudeiro de Carl Cox, foi o primeiro a assinar a sua própria editora.

MARCO BAILEY (23h15/01h00) – Considerado o melhor DJ belga da actualidade.

CARL COX (01h00) – Foi o primeiro a misturar com três pratos e foi com ele que a techno ‘rebentou’.

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