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Morreu o baterista de jazz Jack DeJohnette

Tinha 83 anos.

27 de outubro de 2025 às 20:12

O baterista de jazz norte-americano Jack DeJohnette, que trabalhou com Miles Davis e Keith Jarrett, morreu no domingo, aos 83 anos, em Kingston, Nova Iorque, noticiou esta segunda-feira a agência Associated Press.

Nascido em Chicago em 1942, Jack DeJohnette fez parte das principais formações de jazz a partir da década de 1960, tocando com músicos como Herbie Hancock e Miles Davis, nomeadamente no álbum "Bitches Brew" do trompetista, que marcou a música de fusão na viragem para os anos 1970.

DeJohnette fez parte do trio do pianista Keith Jarrett, com o contrabaixista Gary Peacock, lançando em conjunto alguns dos álbuns mais celebrados pela crítica nos últimos 40 anos, como "Bye, bye, Blackbird", de homenagem a Miles Davis, "Still Live", "Somewhere", "After The Fall", "Always Let Me Go" e os dois volumes de "Standards".

O pianista Bill Evans, o saxofonista Jackie McLean e as cantoras Abbey Lincoln e Betty Carter contam-se entre outros músicos de jazz com quem trabalhou, sem esquecer os saxofonistas John Coltrane, Stan Getz e Sonny Rollins, o pianista Thelonious Monk e o trompetista Chet Baker, "praticamente todas as grandes figuras do jazz a partir da década de 1960", como escreveu o National Endowment for the Arts, que homenageou o baterista em 2012.

"O melhor dom que tenho é a capacidade de ouvir, não apenas fisicamente, mas com o coração", disse DeJohnette em 2012, quando foi homenageado, numa entrevista hoje citada pela Associated Press (AP). "Tive a sorte de tocar com muitos músicos que me permitiram ter essa liberdade".

O baterista cresceu numa família que dava importância à música, como indica o seu 'site': "Ouvia ópera, country e western, rhythm and blues, swing, jazz, o que quer que fosse. Para mim, tudo era música. E mantive esse sentimento comigo".

DeJohnette começou a carreira como pianista, depois de uma formação clássica iniciada na infância, que passou pelo Conservatório de Música de Chicago. A bateria impôs-se mais tarde, na adolescência, quando fez parte da banda do liceu.

No início, atuava como músico de apoio, tanto em piano como em bateria. Pouco a pouco, tornou-se parte da cena jazzística de Chicago e, em 1966, estava no Quinteto de John Coltrane.

Dois anos mais tarde, juntou-se a Miles Davis, a tempo de gravar "Bitches Brew" com o trompetista, com quem permaneceu durante três anos, tocando lado a lado com músicos como o saxofonista Wayne Shorter, o pianista Chick Corea, o guitarrista John McLaughlin e o contrabaixista Dave Holland.

Numa entrevista ao Sessions Panel, hoje citada pela AP, DeJohnette recordou como, na época, a experimentação se tinha tornado "a nova fronteira": "Miles estava numa onda criativa, num processo de usar o estúdio para experimentar. Muitas das músicas [do álbum] não são tão estruturadas... Era uma questão de 'groove' e, por vezes, de algumas notas ou melodias. Ligava-se a fita e simplesmente deixava-se correr".

"Nunca pensámos na importância deste disco. Apenas sabíamos que era importante, porque o Miles estava lá, a avançar com algo diferente".

Em 1969, o baterista gravou o seu primeiro álbum em nome próprio, "The DeJohnette Complex", que contou com os contrabaixistas Miroslav Vitous e Eddie Gómez, assim como com o baterista Roy Haynes - enquanto DeJohnette optava pelos teclados.

No início dos anos 1970, entra no quarteto do saxofonista Charles Lloyd, onde conheceu Keith Jarrett. O resto é a história do própio jazz, com os diversos projetos e bandas de que fez parte, e com esse Standards Trio, que manteve com Jarrett e Peacock, durante quase 30 anos.

Ao longo da carreira, DeJohnette conquistou dois Grammy, pelos álbuns "Peace Time", em 2009, e pelo recente "Skyline", em 2022.

A revista Rolling Stone incluiu-o entre os 100 melhores bateristas de todos os tempos, destacando o seu "talento inato" para criar uma melodia.

DeJohnette atuou por diversas vezes em Portugal, sobretudo no festival Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian, como aconteceu em 2010, num duo com o saxofonista John Surman.

Em 2018, encerrou o festival Mimo, em Amarante, com o quarteto Hudson, formado para comemorar os 75 anos do baterista, acompanhado pelo baixista Scott Colley, o teclista John Medeski e o guitarrista John Scofield.

Em 2016, na Casa da Música, no Porto, regressou às origens e atuou a solo, num grande piano de concerto.

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