José Saramago acaba de completar o seu mais recente romance: ‘As Pequenas Memórias’ (Caminho). Mas se o título já era conhecido, a data e o local de lançamento acabam de ser revelados, a saber, 16 de Novembro, na Azinhaga do Ribatejo, respectivamente, dia e local de aniversário do escritor.
Isto mesmo adiantou ontem o jornal espanhol ‘El País’, ao qual o Nobel da Literatura de 1998 revelou, referindo-se à infância, a impossibilidade de “dar uma visão idílica de tempos que de idílicos não tinham nada”.
Com efeito, o autor reúne, em parcas 150 páginas, memórias de infância que o acompanham entre os quatro e os 15 anos, aqueles em que mais e melhor se revê. “Não é literatura sobre o que vivi mas apenas o que vivi. Se tivesse querido fazer disso literatura tinham saído 500 páginas”, disse.
Pensou primeiro chamar-lhe ‘O Livro das Tentações’ mas achou-o pretensioso demais para ‘As Pequenas Memórias’ que era afinal tudo o que queria contar.
“Algumas coisas são dolorosas e não pensei que fossem tantas. São histórias de família que me marcaram e, às vezes, bloquearam, coisa que só me aconteceu quando escrevi ‘Manual de Pintura e Caligrafia’”, recordou.
“Não sou um pessimista, sou um optimista bem informado”, afirma com frequência a propósito de si próprio e do Mundo. Podia ter calado umas coisas, saltado outras mas falou mais alto a vontade de dar a conhecer o homem antes do escritor e antes dele a criança, o adolescente...
O PRIMEIRO SARAMAGO
Primeiro Saramago da família Meirinho Sousa, graças a um erro do notário que confundiu a alcunha com o apelido, José nasceu a 16 de Novembro de 1922 em Azinhaga do Ribatejo, de onde saiu antes de completar três anos para só voltar para breves períodos de férias de que quase não guarda memória. Em contrapartida, não esqueceu o primeiro livro que leu: ‘O Mistério do Moinho’. O primeiro livro que escreveu (‘Terra do Pecado’, 1947) tem a idade da filha, Violante, fruto do casamento com a pintora Ilda Reis (1944-1970).
A viver em Lanzarote desde 1993 com Pilar del Río, jornalista espanhola com quem se casou em 1988, teve na origem do exílio um ‘desaguisado’ com o Governo na pessoa de Sousa Lara, à data secretário de Estado da Cultura, que lhe vetou a candidatura a um prémio europeu (‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, 1991). Em 1998 o Nobel premiou uma vida de livros mas, como confessa ao ‘El País’, “cada livro é sempre uma despedida, um vazio... E agora?”.
O Nobel de Literatura de 1998 nasceu há 83 anos em Azinhaga do Ribatejo mas antes dos três anos já estava em Lisboa, cidade que só trocou por uma ilha, Lanzarote, num exílio voluntário. Aprendeu quanto sabe em quanto leu, foi serralheiro e jornalista e muitas outras coisas.
A partir de 1975 passou a viver da escrita e o primeiro prémio não tardou: ‘A Noite’, de 1979, foi o primeiro passo na direcção de Estocolmo.
MOVIMENTAÇÃO CONTRA GRASS É "HIPOCRISIA"
Na mesma entrevista, José Saramago resume a movimentação contra Günter Grass e a recém-publicada autobiografia a uma palavra: “hipocrisia”. “Primeiro fiquei perplexo. Nunca me passou pela cabeça que tivesse estado nas SS e muito menos como voluntário mas, tinha 17 anos, o resto da vida não conta? E que juiz pode dizer que uma confissão vem demasiado tarde? A verdade é que admitiu e fez a sua confissão!”, adianta.
Com efeito, enquanto Saramago se prepara para publicar as suas memórias, Grass acaba de comprar uma guerra com as dele. Em ‘Descascando Cebolas’ (tradução livre), o Nobel de Literatura de 1990 lançou a confusão ao revelar ter sido voluntário nas forças de elite nazis (as Waffen SS).
A autobiografia, que em três dias esgotou a edição inicial de 150 mil exemplares na Alemanha, tem perto de 500 páginas, ao longo das quais Günter Grass conta tudo, nomeadamente o poder de sedução de uma farda e a ignorância do que ela representa... “Mas a afirmação da minha ignorância não pode ocultar a consciência de ter estado integrado num sistema que planificou, organizou e praticou o extermínio de milhões de seres humanos”, explica o escritor alemão.
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