A edição de hoje
João Mota dirigiu peça de Fernando Arrabal na Comuna.
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Numa ilha, dois homens. Um parece ter ascendente sobre o outro. Vem de um mundo dito civilizado e procura ensinar ao ‘selvagem’ as regras do espaço que abandonou – ou que foi forçado a abandonar. Ensina-lhe como é ser pai, mãe, como é ser amante, professor, médico, juiz, soldado, freira, homem, mulher ou animal. “São como duas crianças, a brincar com coisas muito sérias”, elucida o encenador João Mota, que há muito tencionava levar esta peça de Fernando Arrabal à cena e que acaba de estrear, na Comuna, em Lisboa, ‘O Arquiteto e o Imperador da Assíria’.
Escrito em 1967, o texto tinha, originalmente, três horas e meia, mas foi cortado para resultar num espetáculo de hora e meia. “Cortei bastante, mas penso que mantive o essencial: esta sequência de brincadeiras em que se ensaia o mundo e as relações entre os homens, quase como se fosse uma improvisação, mas em que se revela o lado profundamente ridículo, absurdo, das instituições”, explica João Mota. Ou não fosse o autor espanhol – que além de dramaturgo é também poeta, escritor, argumentista e realizador – um reconhecido apaixonado pela anarquia e um mestre da iconoclastia.
Em cena, encontramos os atores Rogério Vale e Francisco P. Almeida, que se entregam a um jogo físico muito exigente e profundamente visceral, arremessando palavras um ao outro. O encenador considera que a peça “é quase como um puzzle”: não tem uma linha narrativa que obedeça a qualquer lógica e “o espetador pode montar, na sua cabeça, a história que quiser”. O fim da ação encerra uma surpresa: os dois homens trocam de lugar, e percebemos que esta ‘brincadeira’ é repetida, constantemente, com o arquiteto a fazer de imperador e viceversa. “A peça mostra-nos um mundo frágil que se desfaz, como aquele em que vivemos. Por isso é tão atual”, conclui João Mota.
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