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O GENIAL SAMBA-RAP DE MARCELO D2

Depois de Gabriel O Pensador e de Rappa, do Brasil chega-nos esta semana mais um disco que atesta (se necessário fosse) a excelência da nova música que por lá se vai fazendo. O álbum dá pelo título “À Procura da Batida Perfeita” e o seu autor é Marcelo D2.

18 de agosto de 2003 às 00:00

Marcelo Maldonado Gomes Peixoto, de seu nome, será, porventura, mais conhecido enquanto membro dos Planet Hemp, mas agora que se mostra a solo (este é o seu segundo registo) é um incrível talento escondido que brota. Brilhante!

Título inspirado num dos maiores êxitos de Afrika Bambaataa (”Looking For The Perfect Beat”), “À Procura da Batida Perfeita” é um disco genial que nos pega, seduz e embala mesmo que o não queiramos. Impossível resistir a esta batida.

TRADIÇÃO E MODERNIDADE

A genialidade de Marcelo – traduzida nas dez canções que aqui alinha – assenta em grande medida na “mistura do samba com o rap”. Como se tradição e modernidade se tivessem de repente tornado amantes, cúmplices movidos pelo desejo e sem qualquer pejo em partilhar os seus mais íntimos segredos (leia-se batidas).

O que acaba conduzindo-nos a um dos mistérios mais bem dissimulados do álbum: onde começam e acabam um e outro, quem inspira quem. “Não sei se sirvo o rap ou o rap é quem me serve”, responde Marcelo D2 em “Vai Vendo”.

Mas este é também um registo que está longe de se esgotar no samba (“dos bão”) ou no rap. Infectado, pois claro, pelos novos ritmos urbanos, “À Procura da Batida Perfeita” é ainda condimentado, sábia e discretamente, por toda a música brasileira.

De Chico Science a Cartola, de Jovelina a Tom Jobim, de Candeia a João Nogueira, de Dona Neuma a Tim Maia, todos eles citados, e deste modo homenageados, em “Re:Batucada”.

O resultado desta monumental “caldeirada” pode não ser a batida perfeita (se é que existe), mas a verdade é que poucos discos conseguem ser tão excitantes quanto este.

Como se não bastasse, o trabalho de Marcelo D2 surge ainda investido de uma função pedagógica, revelando que é possível, afinal, conciliar passado e presente, herança e actualidade, sem ofender qualquer um. Uma verdadeira lição para a turma hip-hop-rap cá do burgo, que, raras excepções, insiste em decalcar o protótipo norte-americano esquecendo (ou desdenhando) as suas próprias raízes.

Pontuação: Cinco em cinco

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