A abstracção dos sentidos é algo que todos nós já vivenciámos muitas vezes. Ocorre, por exemplo, estamos a assistir a algo que nos interessa de tal forma que deixamos de ouvir os ruídos circundantes, sejam buzinas, campainhas, pessoas a falar. Mas como alcançar este estado de forma consciente?
Abordando conceitos do Yôga clássico, sem esquecer a codificação do Yôga antigo, esta abordagem passa pelo Sámkhya, pelo Tantra e vai desaguar inevitavelmente no Yôga.
E como de Yôga falamos, temos mais um termo em sânscrito, porque esta á a linguagem técnica do Yôga. Assim pratyáhára pode aparecer traduzido como: abstracção dos sentidos externos, como retracção sensorial, controle, domínio ou supressão dos sentidos, mas também, numa perspectiva sámkhya e naturalista, como expansão ou consciência sensorial.
“A abstracção dos sentidos é um fenómeno que todo o mundo já experimentou muitas vezes. Ocorre, por exemplo, quando você está assistindo a uma aula que lhe interessa e não escuta os ruídos circundantes, como uma buzina, campainha, pessoas falando. O mesmo ocorre quando você deixa de escutar a música ambiente, o ruído do ar condicionado, etc. Denominamos pratyáhára consciente quando o fenómeno se torna voluntário. (...) Quando se trata de som, é mais fácil dominar. Depois, os exercícios passam a ser feitos com os outros sentidos: visão, olfacto, paladar e tacto. Não precisa ficar preocupado. Não se trata de desenvolver nenhuma anomalia, mas tão simplesmente de dominar os seus sentidos para desligá-los, tornar a ligá-los ou mesmo aguçá-los, conforme melhor lhe aprouver. Já é um início de desenvolvimento de siddhis, as paranormalidades.”, ‘Faça Yôga antes que você precise’ do Mestre DeRose
Na verdade este processo, que vários tipos de Yôga adoptaram como técnica, é extremamente simples, tão simples que os praticantes mais eficazes desta técnica são as crianças. Quantas vezes falamos com uma criança que ao estar absorta nas suas brincadeiras, ou nos desenhos animados, não ouve nada, nem os gritos da mãe a chamar. Ela simplesmente recolheu toda a sua atenção, alimentada pelos estímulos sensoriais, numa única acção.
“Não deve perceber o som com os seus ouvidos, nem sentir com a sua pele. Não deve perceber a forma com os seus olhos, nem os sabores com a sua língua. Além disso, mediante a absorção da atenção, o conhecedor do Yôga deve abster-se de todos os aromas.”, ‘Mahabharata’, épico da Índia antiga atribuído a Vyása.
Uma das imagens que traduzem esta abstracção são os três macacos sábios, que não ouvem, não vêm e não escutam. Existem algumas técnicas específicas que provocam este estado de expansão sensorial: umas são processos demasiadamente radicais que levam a percepção de cada sentido ao seu limite a fim de conseguir desligá-lo por exaustão; outras recolhem cada sentido, um por um, descobrindo o que há para sentir dentro do indivíduo. Desligar a visão externa e descobrir um mundo de imagens na nossa mente, deixar de ouvir os sons envolventes e passar a ouvir os sons internos, e um por um essa recolha das percepções transforma-se numa expansão sensorial, uma expansão para o infinitamente pequeno que é o nosso mundo interior, tão extenso quanto o mundo que nos rodeia. Numa linguagem mais filosófica, descobrir o microcosmos, anulando o contacto com o macrocosmos.
Na Índia o símbolo máximo de pratyáhára é a tartaruga, símbolo também de ancestralidade e longevidade.
“Os textos em sânscrito comparam esses processos ao movimento de uma tartaruga, que contrai os membros. (...) quando os sentidos são desactivados um por um, a mente geralmente fica muito activa. (...) Os yôgins passam a viver cada vez mais no ambiente interior da mente.”, ‘A Tradição do Yôga – História Literatura, Filosofia e Prática’ de George Feuerstein.
Pratyáhára é o quinto passo do Yôga de Pátañjali, codificador do Yôga Clássico, viveu no séc. III a.C. e autor do livro Yôga Sûtra.
“Proscrições e prescrições éticas, posições físicas, respiratórios, abstracção dos sentidos, concentração mental, meditação e hiperconsciência, são as oitos partes do Yôga (clássico)” ‘Yôga Sútra’, II-29. “Quando os sentidos já não estão em contacto com os seus objectos e assumem a sua própria natureza, isso é pratyáhára.” ‘Yôga Sútra’, II-54.
No percurso do Yôga Clássico, que é desenvolvido essencialmente em sistema de mosteiro, ou ashram, o praticante só acede ao passo seguinte após ter dominado o anterior e a média de frequência em cada passo é de 10 anos, o que leva um mínimo de 80 anos para aceder ao passo final a hiperconsciência, o samádhi.
A técnica que proporciona tudo isto e muito mais no âmbito do SwáSthya Yôga é o yôganidrá (consulte o artigo sobre este tema, neste mesmo espaço). No Yôga Pré-clássico, a vivência do pratyáhára é feita desde a primeira aula de SwáSthya Yôga, no seu sétimo anga, o yôganidrá. O praticante incorpora o ashtánga sádhana no seu quotidiano e acede a esse estado de expansão de cada vez que pratica as técnicas de descontracção. A saída do exercício é ilustrativa desta viagem nos sentidos internos... “ Comece agora a retornar ao corpo físico, trazendo a consciência pelos cinco sentidos, do mais subtil para o mais denso; ouvindo melhor os sons em torno, ouvindo melhor a minha voz; inspirando profundamente e sentindo o perfume do ar; movendo a língua, procurando sentir gosto; movendo os lábios, abrindo os olhos e vendo, movendo o corpo todo sentindo o tacto de todo o corpo, espreguiçando bastante e devolvendo força e vitalidade aos músculos; bocejando, sorrindo e sentando-se para meditar.”, texto da prática básica de Yôga, série protótipo do Mestre DeRose
Nota: No próximo dia 11 de Abril, a Unidade Antas, o Porto, dá-lhe a oportunidade de aprender sobre pratyáhára.
Para mais informações sobre o Curso de Pratyáhára, contacte a Unidade Antas: 225 022 888 / antas.pt@uni-yoga.org.br
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