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Reações à morte de Manoel de Oliveira

Cineasta tinha 106 anos. Mensagens chegam de todo o mundo. (Em atualização permanente)

02 de abril de 2015 às 13:54

Morreu Manoel de Oliveira

O realizador de cinema Manoel de Oliveira morreu esta quinta-feira, aos 106 anos. O cineasta era o mais velho realizador do mundo em atividade.

"São tantas, tantas, as memórias de Oliveira"

Paulo Branco, produtor 

"Temos de ser responsáveis, todos nós, em ajudar a redescobrir o Manoel de Oliveira e o legado que nos deixou. A nós, que tivemos o privilégio de o conhecer pessoalmente e de trabalhar com ele durante estes anos todos, neste momento o que é importante é fazer com que as pessoas redescubram a obra dele", sublinhou.

E acrescentou: "Vão ter surpresas maravilhosas, porque é uma obra ainda muito pouco conhecida cá em Portugal, é a altura certa para isso".

Questionado sobre as memórias que guarda do cineasta falecido, na quinta-feira, aos 106 anos, Paulo Branco disse: "São tantas, tantas, as memórias de Oliveira".

"Guardo, sobretudo, o exemplo. É um exemplo fantástico para alguém que está ligado a esta atividade e, não só, é um grande exemplo", acrescentou

"Levou o cinema com ele para o céu"

João Botelho, realizador de cinema

O realizador de cinema João Botelho disse esta sexta-feira, no Porto, que aprendeu com Manoel de Oliveira que "o cinema é muito mais importante do que os filmes".

"Ensinou-me que o cinema é um ponto de vista, é um modo de filmar, não é o que se passa, nem quando se passa, não é a história", disse João Botelho sobre Manoel de Oliveira, que morreu na quinta-feira, no Porto, aos 106 anos.

O cineasta lembrou "uma frase lapidar" de Manoel de Oliveira que disse ter-lhe servido para a vida: "não há dinheiro para a carruagem, filma a roda, mas filma bem a roda".

"Prostitui-te para arranjar dinheiro para o filme, prostitui-te quando ficar pronto para o mostrar, nunca quando filmas", acrescentou. João Botelho considerou, ainda, que Manoel de Oliveira "levou o cinema com ele para o céu, porque hoje os filmes estão todos no inferno dos centros comerciais".

Privilégio de "privar um pouco com ele"

Paulo Rangel,eurodeputado do PSD

O eurodeputado do PSD Paulo Rangel afirmou esta sexta-feira marcar presença nas cerimónias fúnebres do realizador Manoel de Oliveira, no Porto, a título pessoal, mas também representando o Parlamento Europeu dada a importância do cineasta. À entrada para a igreja de Cristo Rei, Paulo Rangel lembrou o privilégio de ter conhecido Manuel de Oliveira e "até privar um pouco com ele".

"Criava uma família" em cada filme que rodava

Luís Miguel Cintra, ator

O ator Luís Miguel Cintra, que participou em vários filmes do Manoel de Oliveira, falecido na quinta-feira, lembrou esta sexta-feira que a primeira coisa que o realizador fazia quando iniciava a rodagem de um filme era "criar uma família".

"Nunca teve grandes conversas muito elaboradas, nem intelectuais sobre nada do que estava a fazer, isso faz parte do segredo do que se estava a fazer em comum. Esperava que houvesse uma corrente subterrânea de entendimento entre as pessoas, que se estabelecia através de coisas muito simples, como comer à mesma mesa, falar da saúde das pessoas, perguntar como estava o pai, como estava a mãe, (...), com todos os membros da equipa", recordou.

"Ele continuava a filmar e parecia infinito"

Cahiers du Cinéma, revista francesa

A revista francesa Cahiers du Cinéma está atualmente a preparar uma homenagem a Manoel de Oliveira para sair na edição de 09 de maio, disse à Lusa o chefe de redação da revista Stéphane Delorme.

"Estamos a preparar a nossa homenagem a Manoel de Oliveira. Vamos publicar provavelmente uma entrevista inédita com ele, vamos escrever sobre a sua obra e dedicar-lhe 25 a 30 páginas no próximo número. É importante para nós", afirmou Stéphane Delorme, precisando que a edição de maio vai coincidir com o Festival de Cannes.

Em entrevista à Lusa por telefone, o jornalista lembrou que a 'Cahiers du Cinéma' tem uma grande ligação com o cineasta português e que o fundador da revista, André Bazin, "encontrou Manoel de Oliveira em 1956, 57 e publicou um artigo em 57".

"Marcou profundamente a história do cinema"

Anne Hidalgo, presidente da Câmara Municipal de Paris

A presidente da Câmara Municipal de Paris, Anne Hidalgo, lamentou esta sexta-feira o desaparecimento do realizador Manoel de Oliveira, que morreu na quinta-feira, lembrando "a obra que marcou profundamente a história do cinema".

"Soube com emoção do desaparecimento do realizador Manoel de Oliveira. Aos 106 anos, foi o autor de mais de 50 filmes e o decano mundial dos cineastas em atividade", afirmou Anne Higaldo, num texto em que recorda o seu trabalho desde o primeiro documentário "Douro, faina fluvial", de 1931, até ao último, a curta-metragem "O Velho do Restelo", rodada em 2014.

"Um século de cinema"

Libération, jornal francês

Os jornais franceses escrevem esta sexta-feira sobre a morte de Manoel de Oliveira, com destaque para o Libération que publica na primeira página uma fotografia do cineasta português com Chiara Mastroianni no filme "A Carta".

Na capa, o "Libé" escreveu "Manoel de Oliveira, um século de cinema", remetendo para um dossiê de quatro páginas iniciado com um artigo intitulado "Viva Oliveira!", seguido de uma biografia, uma seleção de obras e a recolha de testemunhos sobre o cineasta.

"Vontade de lutar pelo cinema"

Xinhua, agência noticiosa oficial chinesa

A agência noticiosa oficial chinesa Xinhua descreveu Manoel de Oliveira como "um estimado realizador conhecido pela sua vitalidade e vontade de lutar pelo cinema mesmo numa idade avançada".

Ao noticiar a morte do realizador português, Xinhua realçou que Manoel de Oliveira fez mais de 50 filmes, numa carreira iniciada ainda no tempo do cinema mudo, e que depois dos 83 anos, dirigiu uma longa-metragem por ano.

"Ele rejubilava quando tinha uma ideia"

Catherine Deneuve, atriz francesa

A atriz francesa Catherine Deneuve e o produtor português Paulo Branco recordaram Manoel de Oliveira como um homem "muito especial" e "o grande cineasta nacional", em declarações ao jornal francês Libération. "Por vezes de uma dureza incrível, os seus filmes tinham uma personalidade muito particular", afirmou Catherine Deneuve.

A atriz francesa destacou a marca do cineasta português, ao recordar as filmagens de "O Convento" (1995), no qual contracenou com o ator John Malkovich. "Manoel de Oliveira era muito especial, por vezes sedutor e autoritário, muitas vezes encantador. Acima de tudo, ele tinha algo de artista, ele trabalhava sem parar nos seus filmes, impunha a sua visão na criação completa", descreveu.

A atriz recordou também o entusiamo do realizador português: "Ele rejubilava quando tinha uma ideia. Era preciso obedecer-lhe e fazer o que ele queria. Vi-o interromper as filmagens porque faltava um acessório para uma cena. Durante várias horas esperámos que o objeto chegasse, para que a sua visão ficasse completa. Não há muitos cineastas que se possam dar ao luxo de trabalhar assim".

"Um criador com uma energia fascinante"

Fleur Pellerin, ministra da Cultura francesa

A ministra da Cultura francesa prestou na quinta-feira homenagem ao cineasta português Manoel de Oliveira, que morreu, no Porto, aos 106 anos, considerando-o "um criador com uma energia fascinante".

"A velhice foi para ele a época da colheita, na qual continuou a receber os frutos de toda uma vida de meditação e contemplação, uma vida de poeta", sublinhou Fleur Pellerin, num comunicado de condolências, em que manifesta também o seu pesar à familia e amigos do realizador falecido na quinta-feira, poucos meses depois de ter completado 106 anos e que recentemente terminou mais um filme.

"Farol da cultura europeia e mundial"

Festival de Cannes

O Festival de Cinema de Cannes homenageou Manoel de Oliveira, que morreu na quinta-feira, no Porto, aos 106 anos, afirmando tratar-se de um "cineasta excecional", um "artista completo" e um "farol da cultura europeia e mundial".

Em comunicado citado pela agência noticiosa AFP, a organização do Festival de Cannes considera que Manoel de Oliveira ocupa o "mesmo lugar para o cinema português que [Ingmar] Bergman para a Suécia, [Akira] Kurosawa para o Japão ou [Federico] Fellini para a Itália".

"Mais do que um cineasta, Manoel de Oliveira era um exemplo. Perdemos um farol da cultura europeia e mundial", acrescenta o Festival de Cannes, que homenageou o realizador português com uma Palma de Ouro pela sua carreira, em 2008.

"Artista grande de mais para um país pequeno"

Universidade do Porto

A Universidade do Porto (UP) lembrou esta sexta-feira o realizador Manoel Oliveira, que morreu na quinta-feira aos 106 anos, como "um artista grande de mais para um país pequeno".

"Criador obstinado e coerente, tinha o fascínio e a paixão das imagens, mas também os das palavras que o levaram a apoiar-se em escritores como Camões, Padre António Vieira, Eça de Queirós, Agustina, e outros como Flaubert ou Claudel", lê-se numa nota assinada pelo reitor, Sebastião Feyo de Azevedo.

A universidade do Porto recorda que a Manoel de Oliveira foi, em 1989, reconhecendo-lhe "a sua elevada craveira artística e moral", concedido o título de doutor honoris causa pela Faculdade de Arquitetura.

"Tinha sobretudo a paixão pela vida, quer se tratasse da vida de cada ser humano, com os seus enigmas e emoções, quer se tratasse da vida comunitária como a do Porto, do Douro ou de Portugal", termina Sebastião Feyo de Azevedo.

Quinta-feira, dia 2 de abril de 2015

"Símbolo maior do cinema português"

Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República

O Presidente da República recordou Manoel de Oliveira como "símbolo maior do cinema português no mundo" e apontou o realizador como "um exemplo para as novas gerações" pela forma como sempre foi capaz de ultrapassar as dificuldades.

"Foi com profundo pesar que tomei conhecimento da morte de Manoel de Oliveira, símbolo maior do cinema português no mundo e um dos nomes mais significativos na história da 7.ª Arte. Portugal perdeu um dos maiores vultos da sua cultura contemporânea que muito contribuiu para a projeção internacional do País", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, numa mensagem que leu no Palácio de Belém.

O realizador, disse, "é um exemplo para as gerações futuras", na medida em que até ao fim da vida "teve projetos de futuro e foi sempre capaz de ultrapassar as dificuldades".

"Figura decisiva do cinema português"

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro

"O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, em seu nome pessoal e em nome do Governo de Portugal, expressa público pesar pelo falecimento de Manoel de Oliveira. A Cultura portuguesa perdeu hoje uma das suas figuras maiores", lê-se numa nota divulgada pelo gabinete do chefe do executivo PSD/CDS-PP.

O primeiro-ministro refere-se a Manoel de Oliveira como "a figura decisiva do cinema português no século XX" e como "obreiro central da afirmação da cinematografia portuguesa a nível internacional e, através do cinema, da cultura portuguesa e da sua vitalidade".

Para Pedro Passos Coelho, "a sua capacidade de criação de novas linguagens cinematográficas e a sua paixão pela sétima arte projetaram Portugal no Mundo" e "a sua obra continuará, certamente, a influenciar gerações de realizadores, atores, produtores e praticantes do cinema em geral".

"O património cinematográfico de décadas de trabalho laborioso que nos deixa é hoje património de nós todos", acrescenta o chefe do executivo PSD/CDS-PP, apresentando condolências à família de Manoel de Oliveira "e a todos os que, de alguma forma, tiveram o privilégio de conhecer e acompanhar o homem e a sua obra".

"Deixa-nos o sublime da sua arte"

Assunção Estevespresidente da Assembleia da República

A presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, manifestou sua "profunda tristeza pela morte de Manoel de Oliveira" e destacou o caráter "sublime da sua arte" de realizador de cinema, que "libertava na sua infinita perfeição".

"Manoel de Oliveira deixa-nos o sublime da sua arte, uma arte que a todos nos libertava na sua infinita perfeição. Como se o cinema que criou, por todos reconhecido, fosse a memória da nossa própria transcendência e o exemplo para a projetarmos nas coisas que fazemos.", refere Assunção Esteves, numa mensagem de condolências enviada à imprensa.

A presidente do parlamento lembra ainda a homenagem feita pela Assembleia da República a Oliveira, ligando a "sua arte à democracia e ao seu projeto emancipador." A 19 de setembro de 2012, o parlamento homenageou Manoel de Oliveira, então com 103 anos, na abertura da sessão legislativa, numa homenagem que incluiu a projeção daquele que era então o mais recente filme do realizador, "O Gebo e a Sombra". 

Na ocasião, Manoel de Oliveira deixou umas breves palavradas aos deputados: "Pelo tempo de crise que atravessamos, economizarei as minhas palavras para agradecer à Assembleia da República esta grande honra que me concedeu. Muito obrigado e viva o cinema!".

"Portugal perde um dos referenciais do século XX"

Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura

Numa nota de pesar, o secretário de Estado expressa público pesar pelo falecimento do realizador em seu nome pessoal e em nome do Governo.

"Portugal perde um dos referenciais do século XX e um dos homens que, de forma continuada, durante quase nove décadas, dedicou apaixonadamente a sua vida à arte do cinema, criando obras que são hoje património cultural português", assinala o governante.

Jorge Barreto Xavier sublinhou ainda o "estilo e uma linguagem distintiva que são exemplares enquanto representação do poder de criação humana".

"Esteve presente nos grandes momentos da história do cinema português no século XX e contribuiu de forma decisiva para a visibilidade da cinematografia portuguesa na Europa e no Mundo. O seu trabalho e a sua influência em gerações de criadores e produtores fazem dele uma das raízes para a compreensão e para a leitura da cultura contemporânea portuguesa", acrescenta o tutelar da cultura no Governo.

Barreto Xavier conclui, na nota oficial: "O património criado por Manoel de Oliveira é de tal dimensão, que cuidar dele e projetá-lo é tarefa que nos compromete no presente e para o futuro".

"Uma grande perda para Portugal"

Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD

"Trata-se de uma grande perda para Portugal, de uma figura ímpar da cultura portuguesa e da cultura mundial, com um percurso reconhecido quer no plano nacional quer no plano internacional, que deixa a cultura portuguesa mais pobre", afirmou Montenegro, aos jornalistas, no parlamento.

Para o presidente da bancada social-democrata trata-se também de "uma oportunidade para evocar um percurso muito longo de trabalho, de trabalho em função do sentir e viver português".

"Estamos convencidos que ele hoje partiu, mas a sua obra permanecerá imortalizada para todo o sempre e será eterna no coração e no pulsar da vida dos portugueses", declarou.

Questionado sobre eventuais iniciativas que o PSD venha a tomar, nomeadamente para que o Panteão Nacional possa acolher os restos mortais do cineasta, Montenegro respondeu que "não é o momento" para falar dessa matéria, mas sim para evocar o "grande vulto" que foi Manoel de Oliveira.

"O exemplo para que as gerações futuras possam fazer mais e melhor"

José Pedro Aguiar-Branco, ministro da Defesa

"É uma homenagem que faço enquanto portuense, enquanto português e é sobretudo também à pessoa, porque as vezes que me cruzei com o mestre Manoel de Oliveira apreciei sempre a forma simples e positiva com que encarava a vida e acho que isso é um exemplo para nós enquanto pessoa", disse aos jornalistas, à saída.

Na opinião do ministro da Defesa Nacional, Manoel de Oliveira é um "exemplo para gerações futuras", para que estas "possam fazer mais e melhor"

"É óbvio que é uma perda, mas eu acho que o pensamento positivo é aquele que nós devemos ter neste momento, porque é a melhor maneira de rendermos homenagem a uma personalidade que via sempre a vida de uma forma positiva", enfatizou.

Interrogado sobre uma eventual ida do corpo de Manoel de Oliveira para o Panteão Nacional, Aguiar-Branco afirmou que "o mestre Manoel de Oliveira tem, por mérito próprio, direito a estar em qualquer lugar onde os portugueses possam render homenagem", independentemente daquele que seja.

"Acho que o importante é que ele está na memória, na presença, e julgo que também no coração de todos os portugueses e esse é o lugar mais importante para alguém como ele estar", sublinhou.

"Exemplo na arte e na vida"

Paulo Portas, líder do CDS-PP

O presidente centrista, Paulo Portas, recordou Manoel de Oliveira como um "exemplo, na arte e na vida", que, "com paciência perante a incompreensão e a dificuldade", viveu "uma certa ideia de cinema, numa certa ideia de Portugal".

"Manoel de Oliveira é o nosso exemplo, na arte e na vida, de longanimidade: o fruto do espírito de quem tem grandeza de ânimo. Portanto, algo ainda maior do que a longevidade", declarou Paulo Portas.

Numa declaração enviada à Agência Lusa, o líder do CDS-PP e vice-primeiro-ministro afirmou que o cineasta "acreditou e viveu a sua arte, com paciência perante a incompreensão e a dificuldade, com uma certa ideia de cinema, numa certa ideia de Portugal - um cinema de atores, de texto, de composição".

"Orgulho no seu legado"

Teresa Caeiro, dirigente do CDS-PP

"Julgo que de alguma forma todos nos convencemos que Manoel de Oliveira era imortal, e apesar da sua idade, esta notícia não deixa de nos chegar como uma tristíssima surpresa. Mas Manoel de Oliveira é imortal, a sua obra vai perdurar para sempre", declarou Teresa Caeiro aos jornalistas.

Falando no parlamento, a deputada e dirigente centrista frisou que o cineasta teve um percurso "prestigiadíssimo" e "o seu nome ficará inscrito na história da cultura, não só portuguesa mas internacional" e "na história do cinema".

"Poucos autores portugueses tiveram ou alguma vez terão tanto reconhecimento e serão tão prestigiados e tão homenageados como foi Manoel de Oliveira. Teve oportunidade ao longo da sua vida de fazer filmes com os melhores atores do mundo, todos faziam questão e consideravam uma verdadeira honra filmar sob as ordens do mestre Manoel de Oliveira", disse.

"Devemos sentir um grande pesar, uma grande pena, mas um grande orgulho na sua obra, orgulho relativamente à obra e ao legado de um português como nós", reforçou.

Teresa Caeiro quis ainda apontar para a "espantosa a vivacidade e a capacidade que Manoel de Oliveira teve para trabalhar, para se reinventar, até às vésperas da sua morte". "Quase apostaria que até anteontem estaria a preparar mais um filme", declarou.

"Uma perda irreparável para o país"

António Costa, secretário-geral do PS

Dirigente socialista e o partido lamentaram "a perda irreparável" que constituiu a morte de Manoel de Oliveira, mas salientaram que a sua obra perdurará para futuras gerações, que nela reencontrarão "a essencialidade do ser português".

Numa nota enviada à agência Lusa, António Costa e o PS "manifestaram o seu mais profundo pesar pelo falecimento de Manoel de Oliveira, figura maior das artes e da cultura portuguesa".

"Manoel de Oliveira, para além de um absoluto mestre da sétima arte, é um nome que granjeou o carinho dos portugueses ao longo de uma carreira notável que fez dele uma referência de Portugal à escala internacional. Oliveira teve direito a um reconhecimento global, quer pelos seus pares, quer por todos os amantes do cinema", apontou o secretário-geral do PS.

Para António Costa, a morte de Manoel de Oliveira "constitui uma perda irreparável para o país". "Mas Oliveira deixa uma obra que perdurará para todas as futuras gerações que nela poderão reencontrar a essencialidade do ser português. Neste doloroso momento o PS e o seu secretário-geral manifestam o seu mais profundo pesar à família de Manoel de Oliveira", acrescenta a nota.

"Um exemplo em defesa da liberdade criativa"

Inês de Medeiros, vice-presidente da bancada do PS

A vice-presidente da bancada socialista Inês de Medeiros considerou esta quinta-feira que Manoel de Oliveira foi um exemplo de luta em defesa da liberdade criativa e sustentou que Portugal e os artistas portugueses lhe devem muito.

Palavras que foram transmitidas aos jornalistas pela vice-presidente da bancada socialista Inês de Medeiros em reação à morte do cineasta português Manoel de Oliveira, natural do Porto, que era o mais velho realizador do mundo em atividade.

"Manoel de Oliveira foi um dos mais extraordinários artistas, mas importa também recordar a pessoa que era, a sua luta intransigente pela liberdade criativa, a sua resistência a todos os anos em que não pôde filmar, a forma delicada como sempre resistiu, não cedeu e defendeu aquilo que entendeu que devia ser a sua arte", declarou Inês de Medeiros.

Inês de Medeiros lembrou a frase de Manoel de Oliveira de que o cinema o mantinha em vida - "e a sua vida foi muito longa" - e a forma como o realizador portuense sempre defendeu os seus parceiros cineastas.

"Manoel de Oliveira levou o nome de Portugal para todo o mundo, teve um reconhecimento internacional que muitas vezes tardou a ser concretizado em Portugal. Portugal deve-lhe muito. Os artistas portugueses devem-lhe muito", disse, antes de aludir ao facto de ter deixado como obra 36 longas metragens.

De acordo com Inês de Medeiros, este é um momento para recordar a pessoa de Manoel de Oliveira, o seu "talento, a generosidade, a intransigência, a defesa da arte, a defesa dos princípios e a defesa da liberdade". "Deixo um agradecimento por tudo o que fez e uma mensagem de pesar à sua família e aos seus muitos amigos", acrescentou.

"Figura ímpar da cultura portuguesa"

Paula Santos, deputada do PCP

O PCP lembrou esta quinta-feira o realizador Manoel de Oliveira como "uma figura ímpar da cultura portuguesa", lamentando profundamente a sua morte, aos 106 anos.

"Falamos de uma figura ímpar da cultura portuguesa e é por isso que o PCP lamenta profundamente o seu falecimento", afirmou a deputada comunista Paula Santos, em declarações aos jornalistas no parlamento.

Destacando o contributo que Manoel de Oliveira deu a Portugal, através do reconhecimento e valorização que o seu trabalho mereceu, Paula Santos considerou que o realizador marcou um espaço próprio na cultura portuguesa.

Questionada sobre a possibilidade de Manoel de Oliveira ter honras de Panteão Nacional, a deputada do PCP disse ser ainda cedo para emitir qualquer tipo de opinião, admitindo, contudo, que o partido poderá considerar essa matéria.

"Acreditava que este dia nunca chegava"

Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda

"Bem sei que Manoel de Oliveira já tinha 106 anos, mas confesso que acreditava que este dia nunca chegava e acho que há mais pessoas que pensam isso, habituámo-nos a ver Manoel de Oliveira como estando sempre aqui, sempre a filmar, é com certeza alguém que mais do que moldar o cinema nacional é um grande cineasta europeu, que faz toda a diferença sobre o que é hoje o cinema e a cultura na Europa", afirmou.

Numa declaração aos jornalistas no parlamento, Catarina Martins afirmou que Manoel de Oliveira mudou a forma como se olha para o Porto e para o Douro.

"Agora tenhamos nós metade da energia e determinação de Manoel de Oliveira, do seu humor, da sua grande vontade de viver, para que possamos ver todos os seus filmes, do Aniki Bóbó, ao Gebo e a Sombra, ao Velho do Restelo, porque é isso que precisamos de fazer", disse a líder bloquista.

"Realizador foi estimulante e criativo"

Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa

O cardeal-patriarca de Lisboa exaltou a figura de Manoel de Oliveira, que morreu esta quinta-feira aos 106 anos, que considerou estimulante e criativo.

Manuel Clemente falava aos jornalistas, no final da missa da "Ceia do Senhor", que celebrou na Sé de Lisboa.

O prelado afirmou: "A todos nós, portugueses, a gratidão de termos tido uma figura assim, tão estimulante e criativa".

Ex-bispo do Porto, Manuel Clemente recordou alguns momentos que partilhou com o realizador, do qual recordou as "palavras com lucidez, ditas de jato, vindas do coração e da inteligência", que proferiu quando recebeu o prémio de cultura da Conferência Episcopal Portuguesa, "Árvore da Vida".

Manuel Clemente afirmou a sua admiração pela vida e obra de Manoel de Oliveira, que considera "uma lição para todos nós".

O cardeal-patriarca de Lisboa declarou-se "na companhia da família" do cineasta, através da oração, e frisou o facto de o realizador de "Aniki Bobó" ser "um crente".

"Deus deve estar agora a dar-lhe uma surpresa que nem ele, com toda a sua criatividade, conseguiu imaginar", rematou Manuel Clemente.

"Órfão como todo o cinema mundial"

Gilles Jacob, p

O presidente honorário do Festival de Cannes, Gilles Jacob, amigo e admirador da arte de Manoel de Oliveira, afirmou o seu pesar e disse sentir-se "um órfão".

"Tristeza. O meu querido Manoel morreu. Manoel de Oliveira tinha 106 anos e eu fiquei órfão como todo o cinema mundial. Ele era um cavalheiro", afirma Jacob, o presidente honorário do festival, na sua conta na rede social Twitter, noticia a Efe.

"Passados os cem anos, tínhamo-nos acostumado à ideia de que Manoel nunca desapareceria", disse Jacob, de 84 anos, que, em 2008, entregou ao realizador português a Palma de Ouro pela carreira do cineasta português.

"Um resistente incansável pelo cinema como arte"

José Manuel Costa, diretor da Cinemateca

O realizador Manoel de Oliveira, que morreu esta quinta-feira aos 106 anos, foi de uma "resistência incansável em defesa da ideia do cinema como arte", disse à agência Lusa o diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa.

"Não é só um grande nome do cinema português, foi um dos grandes nomes de todo o cinema moderno. Nas décadas recentes representa uma resistência incansável em defesa da ideia do cinema como arte, contra a ideia de cinema como produto comercial e mesmo como produtor cultural", sublinhou.

"Um grande amigo da Cinemateca Francesa"

Serge Toubiana, diretor-geral da Cinemateca Francesa

A Cinemateca Francesa recebeu várias vezes o realizador, nomeadamente em 2008, quando organizou um debate entre Manoel de Oliveira e o escritor Antonio Tabucchi e, em 2011, aquando da antestreia do "Estranho Caso de Angélica", tendo organizado também uma retrospetiva da sua obra em 2012.

O diretor da instituição descreveu "um grande cineasta" que não deve ser apenas lembrado como "o realizador em atividade mais velho de toda a história do cinema mundial", porque isso seria "um destino triste para a sua memória".

"Manoel de Oliveira era um paradoxo vivo, cineasta das origens, das primeiras emoções, cineasta culto, refinado, inspirado pela grande literatura (Claudel, Flaubert, Dostoievski, Madame de La Fayette, Agustina Bessa-Luís...), autor de grandes filmes romanescos", escreveu Serge Toubiana.

O presidente da Cinemateca Francesa cita obras do realizador como "O Passado e o Presente", "Amor de Perdição", "Francisca", "Não ou a Vã Glória de Mandar", "A Divina Comédia", "Vale Abrãao", "A Carta", sem esquecer "o genial 'Vou Para Casa', com Michel Piccoli, ou 'Belle toujours', com Bulle Ogier e Michel Piccoli".

O diretor da Cinemateca Francesa acrescentou ainda que Manoel de Oliveira era como um "homem sábio e malicioso", porque quando falava dos seus filmes ou dos filmes dos cineastas de quem gostava, tinha "uma candura" e "uma crença nos sentimentos profundos e exacerbados, qualquer coisa oriunda da infância".

"Manoel de Oliveira era um incansável contador de histórias que acreditava no cinema dos tempos primitivos, nos tempos em que a credulidade do espetador se fundava no olhar cândido, o único capaz de entrar no ecrã, de compreender as personagens, de viver os seus sentimentos e de penetrar na profundidade da sua alma".

"Os grandes criadores não desaparecem"

Maria João Seixas, ex-diretora da Cinemateca Portuguesa

"Esta perda magoa-nos e entristece-nos a todos, mas os grandes criadores não desaparecem. Ficam para sempre", comentou, em declarações à agência Lusa, Maria João Seixas, que foi diretora da Cinemateca entre 2010 e 2013.

Coargumentista de alguns filmes do marido, Fernando Lopes (1935-2012), considera que Manoel de Oliveira "era de uma singularidade única, de uma grande energia, a que só os antigos tinham acesso".

"Era um grande senhor do cinema e da cultura, e fica um grande vazio que nos compromete a todos", disse Maria João Seixas, acrescentando que "apesar da pobreza que deixa, iluminou muitos com o seu génio".

"Marco no cinema mundial"

Mário Dorminsky, fundador do Fantasporto

"É um marco no cinema em termos históricos", declarou à Lusa Mário Dorminsky, referindo que o cineasta Manoel de Oliveira foi um "visionário" e um "precursor" do "neorrealismo italiano", com o filme Aniki Bóbó (1942), por ter trabalhado com atores não profissionais.

Foi também um "precursor a nível mundial" com o documentário "Douro Faina Fluvial" (1931), acrescentou o fundado do festival Fantasporto, considerando que nem Portugal, nem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (EUA) homenagearam "à altura" o realizador.

"Creio que o Manoel de Oliveira nos deu muito (...) Ao longo de 60 anos deu a imagem de Portugal de um país de cultura, mas que na verdade é um país inculto", declarou à Lusa, emocionado, referindo que Manoel de Oliveira é um marco pela "sua idade" e "pela sua vontade de viver e de trabalhar".

"Desafiar os portugueses a redescobrir"

Vítor Ferreira, diretor do festival de cinema português Caminhos

A propósito da morte de Manoel de Oliveira, o diretor dos Caminhos do Cinema Português disse à agência Lusa que o realizador português não é apenas um testemunho do cinema nacional, mas parte da "identidade do país".

"Se há alguém que é a encarnação do cinema português, é o Manoel de Oliveira", frisou o diretor de um festival que contou com a presença do realizador em 1999 e em 2002, ano em que ganhou o prémio de melhor documentário com "Porto da minha infância".

Vítor Ferreira sublinhou "a simplicidade" do cineasta, quando do contacto com Manoel de Oliveira em 2002, no festival, vinda de "uma pessoa com um vastíssimo currículo". "Um vulto da cultura portuguesa".

Nessa mesma edição do festival de Coimbra, Manoel de Oliveira deu o seu entusiasmo "a este tipo de eventos", disse, recordando também o testemunho que o realizador deixou em 1999, no livro de honra, onde se pode ler que "o futuro do cinema pode muito bem vir a sair de vós, basta amar o cinema, isto é a vida".

Segundo Vítor Ferreira, desde que está na organização do festival (2000), que todos os filmes de Manoel de Oliveira foram exibidos no evento. Agora, diz, "é preciso fazer com que o testemunho [do cineasta] permaneça vivo".

"Para sempre o nome maior da cultura"

Luís Valente de Oliveira, presidente do conselho de fundadores da Casa da Música

A Fundação Casa da Música expressou esta quinta-feira o "maior pesar" pela morte do cineasta Manoel de Oliveira que, considera, "será, para sempre, o nome maior da cultura e uma referência da identidade" portuguesas.

Numa carta dirigida à família de Manoel de Oliveira e assinada pelo presidente do conselho de fundadores da Casa da Música, Luís Valente de Oliveira, o realizador é recordado como "o grande cineasta português", sendo sublinhada a "importância da obra que produziu ao longo da sua vida" e o "valioso património coletivo" que deixa.

"A fundação recorda, com saudade e emoção, o momento muito especial que foi, em dezembro de 2013, a comemoração do 105.º aniversário de Manoel de Oliveira na Casa da Música, lê-se na carta, a que a agência Lusa teve acesso.

"Melhor forma de o celebrar será criar condições para quem faz cinema"

João Fernandes, ex-diretor do Museu de Serralves

"Sempre lutou por isso e sempre foi um exemplo de grande dignidade, porque nunca se submeteu a qualquer tipo de resignação, nem de demissão, nem nunca desistiu, por mais difícil que fosse e por mais impossível que parecesse fazer o próximo filme. Ia sempre lutar para o fazer", disse João Fernandes, que atualmente é subdiretor do Museu Reina Sofia, em Madrid.

Emocionado, João Fernandes disse esperar que os realizadores portugueses tenham "a mesma capacidade de lutar" e que consigam reunir as condições para trabalhar. E, sobretudo, acrescentou, "que tenham um país que consiga ser mais generoso com eles, do que foi durante muito tempo com o Manoel".

"Apesar de ser conhecido nestas últimas décadas, passou muitas décadas em que não teve condições para desenvolver o seu trabalho. Quantos filmes, o Manoel de Oliveira, poderia ter feito, que nós não vimos, porque ele não teve condições para o fazer nas primeiras décadas do seu trabalho?... Mesmo assim, fica-nos um tesouro imenso. Para ver, rever, pensar, repensar", acrescentou.

João Fernandes lembrou que "ele foi um dos cineastas que criou um manifesto ético para o cinema em Portugal e que soube vincular o cinema com este país e com a realidade que ele soube sempre documentar, mas também ficcionar como ninguém". "É um dos artistas mais exemplares com os quais trabalhei, a sua integridade, a sua verticalidade e, sobretudo, a sua capacidade de lutar e de nunca desistir dos seus princípios, por mais difíceis que fossem as circunstâncias", afirmou.

"Uma das grandes figuras do pensamento português"

Margarida Gil, presidente da Associação Portuguesa de Realizadores

"Destaco a sua importância no século XX e XXI. Uma pessoa que carregou toda a memória do seculo XIX e XX e que refletiu sempre, através do seu cinema, sobre a humanidade e Portugal dentro da história da humanidade. É para mim talvez a grande figura do pensamento português. Pouca a gente refletiu tanto sobre a condição humano como Manoel de Oliveira", afirmou à agência Lusa a realizadora.

Margarida Gil considerou que a morte de Manoel de Oliveira traz um sentimento de desproteção, "como se a Terra perdesse a camada de ozono". "[A sua morte] É previsível, mas ninguém acredita. Como se fosse uma hipótese de eternidade que desaparecesse. Era eterno. O seu cinema fá-lo-á eterno", acrescentou a presidente da Associação de Realizadores.

"Maior cineasta português de todos os tempos"

Miguel Gomes, realizador

O realizador Miguel Gomes declarou que Manoel de Oliveira era "o maior cineasta português de todos os tempos, a par de João César Monteiro".

Numa mensagem enviada por correio eletrónico a partir de Paris, Miguel Gomes tece vários elogios ao cineasta, e chama-lhe mestre: "Se eu e os meus colegas hoje em dia temos oportunidade de filmar, devemo-lo em grande medida ao génio e à tenacidade do Mestre Manoel de Oliveira".

"A sua longevidade fascinava-nos a todos, mas não nos deve impedir de reconhecer, neste momento, a verdadeira singularidade, aquela que poderemos reencontrar nos seus filmes. Aí foi sempre fiel a pulsões e obsessões", descreve o realizador de "Tabu" (2012), distinguido com o prémio inovação (Prémio Alfred Bauer) e o prémio da crítica, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, no mesmo ano.

"Marcas indeléveis"

Júlio Silvão Tavares, realizador e produtor cabo-verdiano

Em declarações à Lusa, o também presidente da Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde, disse que a notícia da morte de Manoel de Oliveira deixou triste a classe dos produtores, mas também todos os que estão ligados ao cinema.

"A sua obra é imortal", frisou, notando que Manoel de Oliveira "não foi só um homem da área do cinema, mas também um homem que tinha uma grande vivência em várias áreas".

Para Júlio Silvão Tavares, o cinema de Manoel Oliveira é "a imagem de Portugal", dizendo que retratou fases distintas, mas sempre com a preocupação de defender as classes desfavorecidas.

"Manoel de Oliveira contribuiu muito para a educação e valorização do homem português. Foi um defensor intransigente da causa dos mais fracos e fez com que a beleza de Portugal ultrapassasse oceanos e chegasse a vários continentes", recordou Júlio Silvão Tavares, referindo que levou a língua portuguesa a todos os cantos do mundo, "o que é muito importante".

Júlio Silvão considera que Manoel de Oliveira é "imortal" e essa imortalidade está representada na "vastíssima" obra que deixou, considerando que será valorizada não só pelos profissionais do cinema, mas por todo o mundo.

"Capacidade de resistência"

Pedro Borges, produtor de cinema

Num comentário à agência Lusa, Pedro Borges lembrou que a obra do cineasta "foi sendo regularmente objeto de escárnio e mal dizer, com diversas tentativas para acabar com a sua carreira".

"Outra caraterística extraordinária era a sua generosidade. Nunca pensava só nele, pensava no cinema português e sempre nas pessoas mais novas", declarou.

Além disso, Pedro Borges vincou o apoio que Manoel de Oliveira foi dando, na última "década complicada para o cinema português", sempre que era necessário tomar posições públicas.

"Manoel despareceu o mais tarde que lhe foi possível. Para os que cá ficam e para os que virão depois, o que é importante é a obra que ele deixa, as dezenas de filmes que fez. São todos grandes filmes e vão durar décadas, séculos, e vão fazer parte de um património cultural português e mundial que não tem comparação com muitas outras coisas feitas no século XX", afirmou.

"A obra do Manoel está feita e essa será para sempre"

Mário Barroso, diretor de fotografia de vários filmes de Manoel de Oliveira e ator em "O Velho do Restelo"

"Quem perde imenso são as pessoas que o conheceram muito. Neste momento, a morte de Manoel de Oliveira é sobretudo chocante para as pessoas que com ele conviveram, que tinham com ele uma relação de amizade, ternura, simpatia, respeito. Essa é que é a grande perda. Agora, não sei se o cinema perde alguma coisa. O cinema já ganhou muito com ele. O cinema e nós todos", afirmou.

Quando questionado sobre como vai falar de Manoel de Oliveira aos que o não conheceram, Mário Barroso respondeu: "Vou pedir às pessoas que queiram saber quem é o Manoel de Oliveira, para ver os filmes dele. É o que fica. O que fica do Picasso é a obra dele. O que fica do Manoel de Oliveira são os filmes dele".

"Criatividade e alegria" ímpares

João Lopes, crítico de cinema

O crítico de cinema João Lopes disse que houve sempre em Manoel de Oliveira "uma criatividade e uma alegria", no sentido de testar a linguagem cinematográfica e esse é o seu principal legado.

"Ao longo dos anos, houve sempre nele uma criatividade e uma alegria, no sentido de experimentar, de perguntar até que ponto a linguagem do cinema podia constantemente desafiar as suas próprias convenções, e essa é a herança mais forte e perene que recebemos dele", afirmou à Lusa.

"Manoel de Oliveira é alguém que, através de uma obra de oito décadas, nos permite compreender a dinâmica, as transformações e as invenções da própria história do cinema", começou por afirmar João Lopes, que recordou que Manoel de Oliveira "começou ainda nos tempos do mudo com 'Douro, faina fluvial', em 1931".

"Morreu um homem mas também desapareceu um mundo"

Simon Bergeaut, tradutor das legendas em francês dos filmes de Manoel de Oliveira

Um dos criadores das legendas em francês dos filmes Manoel de Oliveira, Simon Bergeaut, disse esta quinta-feira à Lusa que "morreu um homem mas também desapareceu um mundo", em reação à morte do cineasta português.

"Os africanos dizem que, quando morre um velho sábio, é uma biblioteca que arde. Com a morte do Manoel de Oliveira é uma cinemateca que arde de filmes feitos, de filmes vistos, de filmes pensados e de filmes que eram para se fazer ainda", lamentou o tradutor de 38 anos, colaborador do realizador português, nas duas últimas décadas.

Simon Bergeaut começou a trabalhar para o cinema de Manoel de Oliveira quando foi incumbido de fazer as legendas para algumas curtas-metragens, para a retrospetiva da obra do cineasta organizada pelo Centro Pompidou, em 2001, tendo estreitado a colaboração com o realizador desde 2007, a partir do filme "Cristóvão Colombo - O Enigma".

"Um mestre como Buñuel e Bergman"

Magasa, crítico chinês

O crítico de cinema chinês Magasa qualificou Manoel de Oliveira como "um realizador único" e "um mestre da dimensão de [Luís] Bunuel e de [Ingmar] Bergman".

"Oliveira é uma lenda que abarca um período de 80 anos. Começou a filmar ainda no tempo do cinema mudo", realçou Magasan à agência Lusa, em Pequim. "Ele está para Portugal como [Carl] Dreyer está para a Dinamarca", acrescentou. O crítico chinês equiparou também Manoel de Oliveira ao japonês Yasujiro Ozu, afirmando que "ambos procuravam o cinema puro".

Magasa, de 34 anos, fez parte do júri da Semana da Crítica do Festival Internacional de Cannes em 2013. Entre os filmes de Oliveira, destacou "Vale Abrãao" (1993) e "Francisca" (1981): "São especiais", disse. Questionado sobre se considerava os filmes de Oliveira difíceis, Magasa respondeu: "Com certeza que são. Como os de quase todos os mestres".

António Preto, Investigador

O investigador António Preto considerou que a obra do "génio" Manoel de Oliveira é "profundamente crítica e radicalmente atual", defendendo reflexão sobre o lugar do cinema no sistema português de ensino.

Em declarações à agência

, em reação à morte do realizador português Manoel de Oliveira, o investigador que escreveu um livro sobre o cineasta defendeu que a sua obra, "naquilo que tem de atual e de profundamente crítico, é uma obra política, não no sentido ideológico do termo".

"Aquilo que Manoel de Oliveira nos deixa é grandioso e será uma enorme responsabilidade assegurar que tenha a longevidade que tem de ter. É importante que as escolas e o sistema de ensino português aprenderem a valorizar os maiores entre nós", considerou.

Na opinião de António Preto, "talvez seja o momento para refletir sobre o lugar que o cinema tradicionalmente tem vindo a ocupar no sistema de ensino português, quer no ensino secundário, quer no ensino universitário", defendendo que seja incluído nos programas curriculares.

"A morte de Manoel de Oliveira representa uma perda para o país e uma perda para o cinema de uma maneira geral. Foi seguramente o maior criador de formas. Um génio, enquanto criador cinematográfico e artístico", disse.

Para o investigador, "ter a capacidade de apreciar a obra de Manoel de Oliveira é percebermos melhor e mais profundamente aquilo que somos enquanto portugueses e enquanto cidadãos do mundo".

"O Manoel de Oliveira atingiu uma dimensão que ultrapassa amplamente as fronteiras do país. Portugal produziu um cineasta que é um dos maiores nomes do cinema a nível mundial", enfatizou.

Um "grande humanista" que foi "feliz como um Deus em França"

Jacques Lemière, sociólogo especialista em cinema português

"Manoel de Oliveira falava sempre no reconhecimento que tinha pela França, não só pelo público que conquistou mas também pelas ajudas financeiras. Por exemplo, o filme 'Le soulier de Satin - O Sapato de Cetim' [1985] foi uma obra diretamente ajudada pelo ministério francês da Cultura", explicou o professor na Universidade de Lille 1 à agência Lusa.

O investigador lembrou ainda o quanto ficou "fascinado" pelo número de entradas nos cinemas do filme "Je Rentre À La Maison - Vou Para Casa" (2001), "uma obra rodada em Paris com o ator Michel Picolli".

Para o francês, "Amor de Perdição" (1978) foi "o momento-chave" em que Manoel de Oliveira deixou de ter apenas "um pequeno círculo de seguidores, que eram os críticos de cinema", para passar a ter um público mais largo, porque coincidiu com a altura em que "França virou os olhos para Portugal", devido à "Revolução dos Cravos, que apaixonou os franceses".

"É um homem que fez muito por Portugal"

Ricardo Trêpa, ator e neto de Manoel de Oliveira

O cineasta Manoel de Oliveira "é um homem que fez muito por Portugal" e que os portugueses reconhecem pelo que "foi e continuará a ser através do seu trabalho", lembrou esta quinta-feira o neto Ricardo Trêpa.

"Os portugueses sabem a pessoa que o meu avô é, foi e continuará a ser através do seu trabalho. É um homem que fez muito por Portugal", disse o também ator, que trabalhou diversas vezes com Manoel de Oliveira.

Ricardo Trêpa assinalou como esta "é uma altura muito difícil para a família" e como Manoel de Oliveira "deixa uma grande saudade como um grande homem, um grande cineasta, um grande avô, um grande pai e um grande bisavô".

"Uma criança sábia"

Rogério Samora, ator

O ator definiu o realizador Manoel de Oliveira como "uma criança sábia; muito divertido, com sentido de humor, libidinoso, pecador e muito católico".

Samora, que trabalhou com Oliveira em filmes como, entre outros, 'Le soulier de satin' e 'Party', vê a morte do realizador como "um grande museu ou um monumento, como o Convento de Cristo, que ardam". 

O ator, que fez parte do elenco de 'A caixa', disse que, com o realizador, "os atores tinham a liberdade de interpretar o texto como melhor achassem". "Ele dava liberdade ao ator para criar dentro daquele contexto, era sim muito exigente com a encenação, com os objetos em cena, com o espaço e com o movimento dos atores", recordou Samora emocionado.

"Manoel de Oliveira era sim muito rigoroso com o texto, que, para ele, tinha uma importância fundamental - como com a luz", disse o ator, que fez também parte do elenco do filme 'Os canibais'.

Realizador "Gostava de se surpreender"

Glória de Matos, atriz

A atriz Glória de Matos afirmou que o realizador Manoel de Oliveira "gostava de se surpreender, e que os atores o surpreendessem; era um criador na verdadeira aceção do termo".

A atriz, que trabalhou com o cineasta em filmes como "Benilde ou a Virgem Mãe" e "Francisca", disse à Lusa que havia, em Manoel de Oliveira, "qualquer coisa de criança, que nunca morreu nela, uma certa ingenuidade, e isso está nos filmes dele".

Glória de Matos referiu a importância que o realizador dava ao texto, e a forma rigorosa como preparava a cena "e, apesar de gostar de se surpreender, as coisas tinham de correr como ele imaginara".

"Com ele aprendi a reconhecer o belo"

Leonor Silveira, atriz

A atriz Leonor Silveira afirmou que o trabalho com o realizador Manoel de Oliveira, falecido aos 106 anos, lhe moldou a identidade e foi determinante no "rumo pessoal e profissional".

A atriz, que se estreou no cinema aos 17 anos, em "Os canibais" (1988), afirmou em comunicado que foi com Manoel de Oliveira que aprendeu "a gostar de cinema, a reconhecer o belo e a pensar no poder do tempo".

"O meu amor pelo Manoel transcende a partilha artística. Esta é uma perda insuperável, mas a memória que me deixa será sempre feliz. Eu era uma atriz improvável. Hoje ele é o meu Mestre e eu a sua musa", afirmou.

"Foi um homem muito feliz"

"Foi um homem muito feliz"

Maria do Céu Guerra, atriz

A atriz Maria do Céu Guerra considerou que o realizador Manoel de Oliveira, falecido esta quinta-feira, aos 106 anos, "foi um homem muito feliz", tendo deixado "uma obra extraordinária", que os portugueses podem continuar a ver.

"Manoel de Oliveira foi um homem muito feliz, teve uma grande sorte, viveu mais tempo do que os seus contemporâneos e conseguiu fazer uma obra extraordinária, que todos nós podemos visitar e ver", disse a atriz, à entrada da cerimónia dos Prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, que está a decorrer hoje à noite no Centro Cultural de Belém.

Maria do Céu Guerra, que está nomeada para o prémio de melhor atriz, pelo desempenho no filme "Os gatos não têm vertigens", adiantou à Lusa que "hoje é uma noite de festa", aludindo à festa do cinema e à "extraordinária obra" de Manuel de Oliveira, e que, por isso, é "com festa que quer olhar para este acontecimento", mesmo não deixando se ser "triste, a partida de uma pessoa".

Maria do Céu Guerra lembrou que Manoel de Oliveira foi o cineasta "que realizou mais obra, teve mais apoio do cienma, das instituições e foi reconhecido na Europa".

"Acho que ele vai muito bem encaminhado", concluiu Maria do Céu Guerra.

"Mensageiro da cultura portuguesa" 

Mário Cláudio, escritor

O escritor português Mário Cláudio disse que a morte de Manoel de Oliveira é um "ponto final a uma carreira brilhante", considerando o cineasta um "mensageiro da cultura portuguesa no mundo".

"Ele é um mensageiro da cultura portuguesa no mundo, inclusivamente dada a natureza temática dos filmes que produziu e isso é uma dívida imensa, para todos nós", declarou em entrevista telefónica à Lusa Mário Cláudio, o escritor do Porto cujo nome verdadeiro é Rui Manuel Pinto Barbot Costa.

Segundo o escritor, Manuel Oliveira é "indiscutivelmente uma personalidade que vai ficar na cultura portuguesa, na cultura europeia e até na cultura do mundo e, portanto, esta morte é, simplesmente, o ponto final a uma carreira brilhante, que agora adquire os seus contornos definitivos".

"Arrojo cinematográfico"

Pedro Abrunhosa, músico

O músico Pedro Abrunhosa lembrou o cineasta Manoel de Oliveira como um "homem de profunda ironia" e "arrojo cinematográfico" que afirmou Portugal no cinema europeu e cuja morte "fica diluída na obra imensa" que fica.

"Aos 106 anos, o homem com uma obra com esta envergadura conseguiu ter uma voz no cinema europeu e afirmou Portugal de uma forma inequívoca. Com uma visão única que o coloca ao nível do maior arrojo cinematográfico, o Manoel cumpriu-se aos olhos dos homens e dos deuses que nunca deixou de provocar", assim o descreveu o músico que em 1999 fez parte do elenco do seu filme "A Carta".

Para Abrunhosa, que contou com a arte de Manoel Oliveira numa curta-metragem que acompanhou o seu single de 2002 "Momento", o cineasta "não era um contemplador, era um homem que projetava através da sua visão do tempo e permitia-se uma ironia, o sarcasmo, o gozo".

"Grande homem que deixa atrás de si um rasto notável"

Pio Gonçalo Alves de Sousa, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais

"Damos graças a Deus por esta longa vida de serviço à cultura, que sempre teve em conta valores fundamentais, valores humanos e valores cristãos", afirmou Pio Gonçalo Alves de Sousa em declarações à agência Lusa.

Recordando que o realizador foi "o porta-voz do mundo da cultura" por ocasião da visita do Papa Bento XVI a Portugal, o auxiliar do bispo do Porto destaca que a sua "intervenção deixou marcas" que evidenciaram "não só o grande homem que era", como ajudaram a perceber tratar-se de alguém que "honra a todos".

"Nestes momentos costuma dizer-se que o país e a cultura perdem um grande homem, mas [neste caso] um grande homem que deixa atrás de si um rasto notável de serviço à humanidade", rematou.

"Figura ímpar na sociedade contemporânea"

Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol

"Ninguém soube interpretar tão bem a ideia de 'Portugalidade' e de um certo sentir e ser português. O cinema e as culturas portuguesa e mundial estão hoje muito mais pobres", refere Fernando Gomes numa mensagem deixada na página oficial da FPF na internet.

O dirigente federativo realça que o exemplo de Manoel de Oliveira deve ser seguido e recordado por todos, para que possa ser prosseguida "a sua luta pela liberdade criativa", lembrando ainda "a sua energia, incessante curiosidade, paixão pelo trabalho, abertura às novas gerações e enorme vontade de viver".

"Grande dragão"

Pinto da Costa, presidente do FC Porto

"Lamento a perda de um amigo, de um grande cidadão, de um pioneiro do cinema, de um grande dragão, de um português de referência", afirma Pinto da Costa, em declarações ao sítio do FC Porto.

Pinto da Costa recordou que na gala dos Dragões de Ouro relativos à época 2007/08, em fevereiro de 2009, entregou a Manoel de Oliveira o galardão de Dragão de Honra, a mais alta distinção dos prémios anualmente atribuídos no universo do FC Porto.

"Não é especial, é especialíssimo. É um prémio do FC Porto, entregue na minha cidade. Nasci e vivo no Porto", disse, na altura, Manoel de Oliveira.

"Piloto de renome internacional"

Direção do Automóvel Club de Portugal

A direção do Automóvel Club de Portugal (ACP) manifestou "profundo pesar e perda" pela morte de Manoel de Oliveira, identificado mundialmente como cineasta, mas que foi também um "piloto automóvel de renome internacional" nos anos 30.

"Juntamente com o seu irmão Casimiro, Manoel de Oliveira prestigiou o automobilismo nacional e o ACP, de que era o sócio número nove", refere em comunicado a instituição, que hoje conta com cerca de 252 mil associados.

Endereçando as condolências à família, a direção do ACP presta "a maior homenagem" ao cineasta, considerando que a sua morte "deixa também o automobilismo nacional mais pobre".

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