Obra vendeu 300 mil exemplares em França
Correio da Manhã – É verdade que antes de lançar ‘A Incrível Viagem do Faquir que Ficou Fechado num Armário Ikea’ escreveu sete romances que foram rejeitados?
Romain Puértolas – Sim. Um dia recebo a carta de uma editora que, pela primeira vez, não era de rejeição mas de aceitação. E de repente os livreiros tomam-se de amores pelo livro, e, antes de ser publicado em França, já estava vendido para 30 países. Agora vai em 36. Nunca tinha acontecido em França, muito menos com um desconhecido.
– Largou o emprego como polícia por causa deste sucesso?
– O romance foi publicado em agosto e saí em dezembro. Era impossível ir trabalhar enquanto promovia o livro. Hoje estou em Lisboa, ontem estava no Canadá, amanhã estarei em Berlim...
– O que fazia exatamente na polícia?
– Era analista num serviço de tratava da imigração ilegal. No fundo, descrevia os fluxos de imigração ilegal mundial que têm impacto na França. Trabalhava muito junto da Comissão Europeia, em Bruxelas, e no serviço Frontex, de Barcelona. No Frontex há representação de todas as políciais que controlam as fronteiras da Europa.
– Conhece muito bem, então, a realidade de que fala no livro? O seu faquir vai passando de país para país e travando conhecimento com imigrantes ilegais pelo caminho…
– Sim, é um problema que me é familiar. Mas não é sobre isso que escrevi. Escrevi sobre seres humanos que, como tal, são todos iguais independentemente da sua cor de pele. A etnia, a cultura, a educação podem mudar, mas tudo o resto é igual. E a mim interessa-me aquilo que aproxima as pessoas. Não o que as separa.
– Escreveu este livro de pé, quando viajava de metro em Paris?
– Escrevi-o num mês, no telemóvel, em duas horas por dia. Era o tempo que demorava a ir de metro de casa para o trabalho. Uma hora para ir outra para regressar. Em vez de enviar mensagens aos amigos, ia mandando a história para mim próprio por email.
– Tinha um plano prévio? O que lhe apareceu primeiro? A personagem, um roteiro de viagem?
– O título. O título apareceu-me e surpreendeu-me. Deixei acontecer, deixei que a história fosse aparecendo. Aliás, é sempre assim que escrevo. Nunca tenho planos. Escrevo em post-its, guardanapos, lenços de papel, embalagens de pastilhas elásticas. Não sou o tipo de escritor que se senta ao computador para trabalhar. Gosto de escrever enquanto estou a viver, em movimento. Escrevo sempre quando estou a fazer outras coisas. E vivo da mesma forma. Sem planos. Deixo que a vida me aconteça e ela surpreende-me sempre.
– O que gosta de ler?
– Fiz formação em línguas e literatura, inglês e espanhol, portanto leio muito. Claro que tive o meu período clássico. Gostava muito de Zola. Mas agora leio preferencialmente livros contemporâneos. Tudo o que é fresco e se lê facilmente. Deixei de apreciar – e procurar – a dificuldade, como fazia antes. Eu próprio escrevo de forma simples, histórias que se leem bem. Gosto que as pessoas partam de viagem comigo, através das palavras. Não quero que se questionem sobre o significado de cada palavra ou cada frase. No que escrevo, a sintaxe é sempre fácil. O que importa é a ação. E o prazer.
– A Ikea oferece-lhe móveis como retribuição pela publicidade que lhe faz no título?
– A Ikea em França não gostou do livro e tentou impedir que saísse com este título. Primeiro queriam impedir que eu usasse a palavra, depois o logotipo. Falharam. Acho que não têm sentido de humor. Mas depende muito do país... Em Espanha, por exemplo, não tive qualquer problema.
– Esta obra tem sido comparada ao ‘Cândido’ do Voltaire, por descrever tantas viagens. No entanto, o Cândido passa por Lisboa, ao contrário deste faquir…
– Portugal não está no meu livro pela simples razão de que nunca tinha cá estado antes. Vivi em todos os países porque passa a personagem: França, Inglaterra, Espanha… Dormi no hotel de Roma onde ele encontra Sophie Morceau [uma brincadeira com o nome da atriz Sophie Marceau]. E a Líbia conheço bem de fotos e dos números das estatísticas da emigração. Mas espero que os portugueses entrem também neste armário Ikea, e embarquem connosco nesta aventura de amor e descoberta.
– O livro conta uma viagem feita por acaso por faquir. Está recheado de peripécias cómicas e até de romance. Está mesmo a pedir adaptação ao cinema...
– Tive 13 propostas dos estúdios e aceitei uma. Até de Hollywood me chegaram propostas. Já escrevi o argumento, em colaboração, e deve sair em dois anos, resultado de uma coprodução europeia. É falado em inglês e terá estrelas internacionais… Mas vai ser preciso esperar porque o cinema é muito lento. Escrevo uma história em três semanas mas um filme leva três anos a fazer. É assim.
– Quando sai o seu próximo livro?
– Está pronto e sairá em janeiro em França. Não posso revelar o nome, porque é segredo, mas também tem um título grande e está escrito na mesma veia. Tem muito humor. É mais realista e menos absurdo do que este, mas ainda assim retrata uma realidade que é diferente da nossa.
PERFIL
ROMAIN PUÉRTOLAS nasceu em Montpellier, na França, em 1975. Neto de um espanhol e filho de franceses, foi DJ, professor de línguas, tradutor, comissário de bordo, mágico e polícia. ‘A Incrível Viagem do Faquir que Ficou Fechado num Armário Ikea’ é o seu primeiro romance publicado. Casado com uma espanhola, tem dois filhos.
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