O primeiro registo acústico ao vivo da carreira de Rui Veloso chega amanhã ao mercado. A pretexto do álbum, intitulado ‘Concerto Acústico’, o artista e o homem, falaram num tom descontraído sobre o País, a música portuguesa e a pedofilia. E ainda veio à baila o pai, o filho e o espírito rock.
- Correio da Manhã – Como surgiu a ideia de passar este espectáculo para disco?
Rui Veloso – Os discos ao vivo são a verdade da questão, sem truques, e transmitem uma emoção que não existe num disco de estúdio. Era lógico registá-lo, mesmo que não fosse para editar. Quando a editora resolveu lançá-lo, até tive dúvidas porque inclui músicas que figuram no ‘best-of’ lançado há três anos e parecia-me que era ‘chover no molhado’. Mas essa preocupação dissipou-se por ser um disco ao vivo.
– De que forma o artista sente essa emoção especial do formato acústico no palco?
– Há uma interacção especial quando estão amigos ou os meus filhos na plateia. Mas esteja quem estiver, um concerto acústico é tocado ‘baixinho’ e tenho sempre a sensação de que estou entre amigos, quer seja uma plateia de 200 ou de 20 mil. Toquei numa concentração, em Góis, para 20 mil ‘motards’ e foi incrível como as pessoas aderiram... Confesso que até estava com medo que este formato ‘caseiro’ não agradasse, mas, quando dei conta, tinha aquela multidão a ouvir atentamente... parecia um concerto clássico (risos).
– Como decorreu o processo de ‘despir’ as canções?
– Componho sozinho com a guitarra acústica ou o piano, logo tenho toda a respiração do Mundo à volta da canção. O intuito dos arranjos acústicos foi precisamente dar respiração às canções e arranjar espaço para os silêncios, as pausas, para os momentos de 'tensão' harmónica, que nos permitem ouvir tudo à nossa volta.
– O que mudou desde os tempos do rock português?
– Passaram 23 anos e mudou muita coisa. Mudaram os afectos, o feitio e a maneira como olho para o Mundo. Os filhos cresceram e todos nós envelhecemos.
– Como se revê no rótulo de ‘pai do rock português’?
– Não me aquece nem arrefece. Não sou pai do rock. Ainda sou filho do rock, da música que ouço.
– E o que mudou no panorama musical português?
– Está muito diferente mas não mudou para melhor. O movimento de música moderna dos anos 80 prometia muito, mas os anos 90 cumpriram pouco. Houve um desinteresse generalizado, não por parte do público mas das televisões que esqueceram a música. Excepção feita ao pimba, ao qual todos os canais aderiram. Nas rádios, por sua vez, a regra passou a ser ‘formatar é viver’. Os estúdios pioraram, as vendas de instrumentos baixaram. Tudo indicava que nos anos 90 ia haver mais gravações, mais grupos, mais músicos de estúdio, mas nada disso aconteceu em Portugal. Até a música portuguesa começou a ser cantada em inglês, vá lá perceber-se porquê.
– Ser músico em Portugal actualmente não é, portanto, uma tarefa fácil...
– É muito difícil.Estamos na era da televisão e estamos ‘entregues aos bichos’. Hoje em dia temos é músicos de ‘karaoke’, criados em programas de ‘faz-de-conta’. Andaram os nossos avós a lutar para que tivéssemos mais educação, conhecimento e civismo, para chegarmos ao século XXI com esta ‘cultura apimbalhada’, que não nos vai levar a lado nenhum, a não ser à solidão e à tristeza.
– É um dos mentores da Associação Venham Mais Cinco, criada para defender a música portuguesa. Em que pé está a vossa luta?
– O objectivo era que as pessoas percebessem que a música nacional deve ser defendida e isso foi conseguido. Neste momento há projectos de lei de três partidos (CDS, PS, PSD) para serem discutidos no Parlamento em relação às quotas de rádio. E conseguimos sensibilizar as rádios e fazê-las sentir alguma vergonha. Queixamos-nos da falta de auto-estima nacional por causa da pedofilia, mas não basta queixarmo-nos, temos de fazer alguma coisa. Até nisso a música nacional tem um papel. Quando uma multidão canta a uma só voz ‘Não Há Estrelas no Céu" como um hino, o ego anima-se um bocadinho.
– Projectos para o futuro?
– Estou a ultimar pormenores para criar a minha própria editora e apostar em bandas. E fazer um concerto só com canções antigas portuguesas, talvez com orquestra.
A PEDOFILIA E OS MEDIA
Rui Veloso sempre teve qualquer coisa para dizer, fosse qual fosse o assunto. E o cinzentismo em que o País vive actualmente não é excepção.
“Depois do 25 de Abril, não me lembro de Portugal ter atravessado uma época tão deprimida como esta. Mas os media têm muita culpa, pela maneira como têm tratado o caso da pedofilia. Foi tudo tão apregoado que se transformou o caso num circo. Os culpados devem ser julgados e as vítimas tratadas. E pronto. Portugal não é um País de pedófilos e, de repente, aos olhos do Mundo, transformou-se nisso mesmo: um País em que a pedofilia é algo transversal à sociedade, que vai desde deputados até apresentadores de televisão e motoristas. É imperdoável o que isso tem feito ao ânimo dos portugueses. E para quê? Pelas audiências? Acho que ninguém quer ter audiências deprimidas”, afirmou o cantor.
O primeiro disco de Rui Veloso chama-se ‘Ar de Rock’. Editado em 1980, foi feito com os instrumentos básicos do rock’n’roll (guitarra, baixo, bateria e harmónica) e estava recheado de referências blues. Por isso mesmo, fez história e levou ao nascimento do rótulo ‘rock português’. Veloso era, inevitavelmente, o pai. Sempre com a colaboração do inseparável Carlos Tê, Rui Veloso compôs algumas das melhores canções portuguesas de sempre, como ‘Porto Sentido’, ‘Chico Fininho’, ‘A Rapariguinha do Shopping’, ‘Porto Covo’, ‘Não Há Estrelas no Céu’, entre tantas outras. Integra ainda os projectos Rio Grande e Cabeças no Ar.
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