Entrevista de Nicolau Breyner ao CM em 2014
Nicolau Breyner, ator com mais de 50 anos de carreira, fala do que mais o marcou, da doença, do envelhecimento, do que ainda tem para fazer e da relação com o público.
Qual é a personagem que mais o marcou?
Isto é como com os filhos – é impossível dizer de qual se gosta mais. Há algumas de que não me lembro, já fiz 50 filmes, 120 peças e mais as novelas, portanto já são muitas. Há sempre uma maneira de gostar dos papéis.
Como se prepara para um papel?
Não tenho forma especial de me preparar. Penso no papel quando chego ao estúdio e visto o fato, um dia destes Deus está distraído e eu estou desgraçado e espalho-me ao comprido. Quando o papel flui em nós, quando não há esforço, é quando está bem.
No fim, como se desliga da personagem?
Nunca sou a personagem, isso é esquizofrenia. Finjo e tenho de convencer as pessoas de que estou triste ou alegre. No momento em que dizem ‘corta’, nem penso mais naquilo. É pouco saudável levar as personagens para casa. Aos meus alunos tento transmitir isso.
É mais fácil interpretar papéis cómicos ou dramáticos?
Totalmente indiferente. Gosto de papéis bons, de sentir que o meu espírito está cheio quando interpreto alguma personagem. Gosto de alternar entre os dois registos.
O público é mais fácil de fazer rir ou chorar?
Rir é muito mais difícil. No teatro, então, é horrível, porque há uma avaliação constante. Se dizemos uma graça e a gargalhada não vem, ficamos desesperados. Ainda que haja sempre um prurido contra a comédia. O riso é uma arma tremenda. Ninguém resiste ao ridículo. No subconsciente, há o medo de que se estejam a rir de nós.
Prefere teatro, cinema ou TV?
Prefiro tudo, desde que me divirta. Gosto de teatro, mas tem uma coisa terrível que é o tempo, quer dizer, agora fazem-se peças de cinco ou seis dias, o que é impensável. O teatro tem a rotina. Todas as noites, à mesma hora, sobe-se ao palco para dizer a mesma coisa. É mais rotineiro do que ser funcionário público. Mas anda a apetecer-me fazer uma peça.
E no ecrã?
Gosto igualmente de cinema e novela. O cinema é mais cuidado, a televisão é um meio de consumo rápido. Tem de se fazer x episódios por semana ou não é rentável. É muito desgastante e é uma grande escola. Um ator que faça novela pode fazer quase tudo.
Que balanço faz de Henrique em ‘O Beijo do Escorpião’?
Eu gosto de fazer mal, confesso. Adorei fazer o mau do ‘Equador’, que é muito pior do que este – esclavagista, racista, má pessoa – deu-me um prazer imenso. Há uma altura em que já fizemos quase tudo, venha lá um papel que desafie.
Que mudou em todos estes anos como ator?
Quando comecei conhecíamo-nos todos uns aos outros. Jantávamos e almoçávamos todos os dias. Hoje há muitos atores, alguns que apenas vi nas revistas. Mas há uma nova geração de atores fantásticos.
Foi mentor da primeira novela em Portugal, a ‘Vila Faia’. Como é que isso surgiu?
Estava cansado de ouvir brasileiro na televisão. Um dia encontrei o Daniel Proença de Carvalho, nessa altura presidente da RTP, e disse-lhe que ia fazer uma novela, ele respondeu ‘boa’. Depois, esqueci-me até que ele disse que tinha tudo preparado para emitir dentro de seis meses. Juntou-se um grupo e fomos procurar um estúdio, andámos a medir um armazém com passos e a perguntar uns aos outros se daria para fazer uma novela. Fizemos tudo do princípio e foi um sucesso.
Comparando com o que se faz hoje, era muito amadora?
Era como outra qualquer. Fizemos muitos erros, mas fomos fazendo cada vez menos. Valeu a pena. O aparecimento da novela foi um dos grandes momentos da minha vida.
Como nasce a NB Academia?
É mais uma loucura. De vez em quando tenho estas ideias de fazer uma coisa que me dá muito trabalho, mas muito prazer também. Depois de ter ensinado na Act decidi fazer a minha escola, porque quero deixar às gerações vindouras uma série de ensinamentos que aprendi na vida.
Qual o ensinamento que gostaria de deixar?
Ator é ser criança e é brincar. Isto não passa da história do faz de conta. Quando perderes a capacidade de brincar, reforma-te.
Este não é o seu primeiro negócio. O que correu menos bem na NBP?
Correu mal em termos de sociedade e não vale a pena falar mais sobre isso. A vida continua. Tenho a Cinecool. Estamos a produzir um filme do Edgar Pêra. É muito difícil acabarem comigo.
Quando soube que tinha um cancro, como reagiu?
Pensei ‘olha, queres ver que eu também morro?!’ Pensei que há tão poucas coisas importantes. Estou muito bem comigo. Não tenho grandes pesos na consciência e por isso sou feliz.
Incomoda-o pensar na morte?
Não. Temos um bocado a sensação de que quando morremos o mundo para, mas continua como se nada se passasse. Adoro viver, atenção. Adorava ser novo. O maior mito urbano que existe é que ser velho é bom. É mentira. Mas aproveitem tudo, porque viver é ótimo! Acordar, respirar, apanhar sol, são as coisas importantes da vida – as pessoas de quem gostamos, a família, os filhos, isso é que é muito importante.
Projetos futuros?
Tenho um ambicioso e complicado, mas só posso falar disso lá para o final do ano. Tenho um contrato exclusivo até ao fim do ano e a TVI dirá o que vou fazer.
À política gostava de voltar?
Não estive bem na política. Surgiu a possibilidade de me candidatar a uma câmara [Serpa] e isso para mim é diferente. A política de modo geral não me interessa. Quando digo que sou ator, toda a gente sabe que estou a mentir, quando se é político já é outra coisa – são atores, mas não dizem.
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