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Viagem à história da faiança nacional

A primeira a fazer a ‘viagem’ foi Maria Cavaco Silva. Apreciadora confessa de cerâmica, a primeira-dama não quis partir para Espanha sem antes presidir à inauguração da exposição retrospectiva de faiança portuguesa, patente na Ala Sul do Mosteiro de Alcobaça. Uma mostra que inclui peças muito raras e coloca o visitante no centro de um interessante diálogo entre o antigo e o contemporâneo.

01 de outubro de 2006 às 00:00

O ponto de partida para o encontro com a história da cerâmica nacional em geral, e de Alcobaça em particular, são as 245 peças do acervo da Casa-Museu Vieira Natividade, uma família que ficou ligada aos anais da região, pelas fortes contribuições que deixou a nível arqueológico, artístico, social e cultural.

De acordo com Jorge Pereira de Sampaio, técnico do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e comissário da exposição, as peças mostram “quase todos os estilos” da faiança em Portugal. De um lado estão exemplares de cerâmica ratinha de Coimbra, ou da decoração em monte Sinai; do outro trabalhos da Olaria de Alcobaça, a fábrica que serviu de motor ao desenvolvimento do sector no concelho.

Há peças do século XVIII – que se presume terem sido usadas pelos Monges de Cister – e outras com data de 1875, atribuídas ao período em que José Reis Santos, mercador de louça em Coimbra que decidiu abrir a primeira fábrica de cerâmica em Alcobaça.

Seguem-se artefactos de inspiração na olaria barroca do século XVII, exemplares da primeira fornada da Olaria de Alcobaça, pratos com poesia popular e crítica social, entre outras peças ilustrativas “do melhor que se fez ao longo de três séculos” no nosso país.

Deste lote, destaca-se o núcleo da Real Fábrica do Juncal, a mais antiga e importante da região, fundada no âmbito das Reformas Pombalinas para produzir louça de copa e de altar.

A ‘viagem’ à história da faiança termina na actualidade, com a exibição do trabalho das 24 empresas que ainda produzem artigos em cerâmica no concelho de Alcobaça. “Tivemos a preocupação de convidar das mais antigas às mais recentes, das maiores às mais pequenas”, realçou Jorge Pereira de Sampaio.

UMA PEÇA MUITO RARA

A simplicidade dos motivos e o branco-pérola em fundo são características essenciais das peças fabricadas pela Real Fábrica do Juncal, considerada a mais importante da região. Na mostra em exibição no Mosteiro de Alcobaça, encontra-se uma travessa com decoração monocromática a azul, que se distingue das restantes por ter a marca da fábrica e a assinatura do proprietário. Estas particularidades fazem dela uma peça muito rara. Calcula-se que tenha sido produzida em 1770.

REINVENTAR O MOTIVO

Uma das duas áreas da exposição está ocupada com os trabalhos das fábricas de cerâmica em laboração no concelho. Em finais do século XX havia mais de uma centena de unidades a moldar o barro no município. Agora, o levantamento efectuado para esta mostra, revelou que restam 24. A filosofia também mudou. Antes, apostava-se mais na parte decorativa das peças, agora é a forma e o ‘design’ que falam mais alto. E a procura de novas fontes de inspiração, como fez Paula Teresa, que pinta as peças com os padrões dos tecidos de chita.

PARCERIA

A exposição resulta da parceria entre o Mosteiro de Alcobaça (IPPAR) e a Câmara Municipal e contou com o apoio da Associação Comercial, de Serviços e Industrial de Alcobaça (ACSIA).

GRÁTIS

A galeria da Ala Sul está aberta todos os dias, entre as 10h00 e as 19h00, até ao próximo dia 30. A entrada é gratuita, mas o catálogo custa 20 euros.

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A iniciativa foi acolhida com entusiasmo pelos responsáveis do IPPAR, por mostrar parte do acervo doado pela família Vieira Natividade ao Estado.

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