Crise atrai azar, Tiero faz o resto
Exactamente um ano depois, a Académica de Domingos, hiperdefensiva e forçada a jogar com dez nos últimos vinte minutos, voltou a ganhar no estádio da Luz, agravando a crise de resultados e de confiança no trabalho do treinador espanhol do Benfica. Perante um adversário que ainda não vencera fora, tratou-se da segunda derrota consecutiva dos encarnados em casa sem marcar qualquer golo, numa exibição desgarrada e com os azares que caracterizam os momentos de crise.<br/><br/>
Depois de controlar o início prometedor, mas pouco dinâmico do Benfica, de que ficou uma ocasião desperdiçada por David Luiz, em rara progressão em passe curto (19’), a Académica marcou na primeira vez que se aproximou da área encarnada.
Repetindo o que fizera Berger no ano passado, Tiero apareceu a cabecear livre de oposição – oitavo golo sofrido de pontapé de canto pelo Benfica nesta Liga. E dois minutos depois, em contra-ataque, Lito viu Quim negar o segundo, já debaixo de um coro de assobios e em ambiente de grande tensão.
Apesar de um bom remate de Cardozo, o Benfica acusou o golpe e só à beira do intervalo, por acção de Aimar e David Luiz, conseguiu pressionar os estudantes, para desperdiçar nova ocasião soberana, com o argentino a rematar com estrondo à barra.
Na segunda parte, remetendo a Académica a um papel apenas defensivo, viu-se um Benfica melhor, embora sobre brasas, mas a dominar intensamente e a criar oportunidades sucessivas, incluindo mais um remate ao poste de Cardozo (52’), nova perdida de David Luiz (55’) e uma recarga de Aimar salva sobre a linha por Miguel Pedro (57).
Na sequência deste lance, ocorreu o momento crítico com o árbitro a deixar-se enganar ingenuamente pelo guarda-redes Peskovic, aniquilando mais uma boa dose do discernimento dos benfiquistas. Com a substituição de Nuno Gomes por Di María, o treinador fez o resto, ao fazer desaparecer Aimar e alguns laivos de inteligência do jogo encarnado. Nem Mantorras lhe valeu.
ANÁLISE
POSITIVO: PESKOVIC A ZERO
Peskovic não foi tão influente como em Alvalade, mas personifica a segurança defensiva da Académica.
NEGATIVO: QUIQUE INCAPAZ
Passes longos e cegos – eis o pobre futebol imaginado por Quique, incapaz de montar a equipa em torno de Aimar.
ARBITRAGEM: DOIS PENÁLTIS
Interpretou mal os empurrões de Peskovic a Nuno Gomes (58’) e de Miguel Pedro a David Luiz (81’) e foi muito permissivo para a Académica.
QUIQUE PENSA NO 2.º LUGAR
Quique Flores mostrou-se ontem confiante em alcançar o 2º lugar apesar da derrota com a Académica. 'Jogámos bem e perdemos. No futebol o importante é o resultado. O título fica muito complicado mas a Champions é possível', disse o técnico, frisando que sente condições para continuar na Luz.
Já João Gabriel, director de comunicação do Benfica, queixou-se da arbitragem de Marco Ferreira. 'Foi habilidosa e descarada', atirou.
'ERA MELHOR JOGAR MAL'
'Depois do jogo menos feliz com o Estrela da Amadora, em que conquistámos três pontos, desta vez foi o inverso. Se calhar era melhor ter jogado mal e vencer', disse Nuno Gomes, sem esconder o desalento pela derrota com a Académica, na Luz, pela segunda época consecutiva. 'Não estamos num bom momento'.
Todavia, o capitão encarnado garante que o Benfica vai continuar a lutar: 'O primeiro lugar é difícil, mas o segundo é possível.'
FICHA DO JOGO
Liga – 24.ª jornada – 11/04/2009
Estádio da Luz, em Lisboa - Assistência 27.747
Golos: 0-1, Tiero (23’)
BENFICA: Quim, Maxi Pereira, Sidnei (Balboa, 86’), Miguel Vítor, David Luiz, Reyes, Ruben Amorim, Carlos Martins (Mantorras, 76’), Aimar, Nuno Gomes (Di Maria, 67’) e Cardozo. Treinador: Quique Flores.
ACADÉMICA DE COIMBRA: Peskovic, Pedrinho, Luiz Nunes, Orlando, Hélder Cabral, Nuno Piloto, Tiero, Cris (Berger, 62’), Miguel Pedro, Saleiro (Éder, 59’) e Lito (Amoreirinha, 75’). Treinador: Domingos Paciência
Árbitro: Marco Ferreira (Madeira)
Disciplina: Cartões amarelos - Hélder Cabral (57’ e 73’), Nuno Piloto (66’), Reyes (69’), Luiz Nunes (77’), Amoreirinha (90 3’); Cartão vermelho - Hélder Cabral (73’).
Classificação do jogo: 3
LENÇOS PARA QUIQUE FLORES
A contestação dos adeptos do Benfica ao treinador Quique Flores subiu de tom, ontem, após a derrota caseira frente à Académica (0-1). No final do jogo foram visíveis muitos lenços brancos nas bancadas, sinal do descontentamento da presença do treinador espanhol no banco técnico do clube da Luz.
O cenário da saída do treinador, no fim da temporada, é cada vez mais real. Fora do estádio, após o apito final, e até antes disso, os adeptos deram largas à frustração sob a forma de intensas críticas ao espanhol. 'Como é possível que ao fim de nove meses ele ainda ande a dizer que a equipa não joga como ele quer?', ouvia-se.
'Havia tanto tempo para recuperar, após o golo da Académica, é incompreensível que não se tenha sequer empatado', protestou outro adepto. A falta de um ponta-de-lança goleador e os erros do árbitro foram outras razões apontadas para a noite de fracasso.
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