Jornalistas condenam boicote de Bruno de Carvalho

Diretores de Informação e organizações representativas dos profissionais de comunicação social dizem que discurso põe em causa valores fundamentais da democracia.

19 de fevereiro de 2018 às 08:51
Bruno de Carvalho Foto: Carlos Barroso
Bruno de Carvalho saiu da assembleia geral com a sua posição reforçada e promete mudanças, inclusivamente acabar com “os grupos e grupinhos” no clube Foto: Pedro Catarino
Bruno de Carvalho à chegada da Assembleia Geral do Sporting Foto: Carlos Barroso

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O apelo feito por Bruno de Carvalho no sábado à noite para que os adeptos do Sporting boicotem a comunicação social está a merecer a condenação dos jornalistas e organismos que representam os profissionais dos media.

Os diretores dos canais de televisão são unânimes em considerar as palavras do presidente do Sporting como uma ameaça à liberdade de imprensa e ao direito à informação, e ontem voltaram a tomar uma posição coletiva em resposta ao discurso incendiário de Bruno de Carvalho na assembleia geral do Sporting: não transmitir a conferência de imprensa de Jorge Jesus.

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O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considerou que as declarações do líder leonino "têm um teor claramente antidemocrático e instam a comunicação social a adotar uma resposta coletiva". "Num país onde o futebol tem uma presença relevante e constante, os dirigentes desportivos têm uma grande responsabilidade em garantir que o desporto contribui para o bem-estar social e não alimentar climas de ódio e perseguição", disse o SJ.

O CNID - Associação dos Jornalistas de Desporto também condenou a postura de Bruno de Carvalho lamentando que este tenha criado "um desnecessário problema aos profissionais da comunicação social". "Fazer dos jornalistas o bode expiatório é uma velha estratégia já gasta e ultrapassada", concluiu.

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Recorde-se que as palavras de Bruno de Carvalho tiveram consequências logo na noite de sábado. À saída do Pavilhão João Rocha alguns sócios do Sporting tentaram agredir jornalistas e dirigiram insultos para as câmaras de televisão, levando à intervenção da PSP.

Comparado a Trump por Roquette e ingleses

Na semana passada, o ex-presidente leonino José Roquette admitiu que não é apreciador do estilo de Bruno de Carvalho e comparou-o a Trump. "Gostaria que ele tivesse mais controlo sobre as coisas que diz. Os líderes do populismo convivem muito mal com a crítica. Aliás, se vir o que acontece com o sr. Trump todos os dias, são os sujeitos que dizem ámen é que estão lá ao pé", disse Roquette.

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Já antes, em março de 2017, o jornal inglês ‘The Independent’ tinha afirmado que "Bruno de Carvalho é o Donald Trump do futebol português", caracterizando-o como "franco, conflituoso, imprevisível e abrasivo".

DEPOIMENTOS 

Paulo Dentinho - Diretor de Informação da RTP

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"É inaceitável para a liberdade de imprensa"

"O que se está a passar é pouco saudável para a democracia. É inaceitável do ponto de vista da liberdade de imprensa e direito à informação. Mas, mesmo com estas condições, os jornalistas não vão deixar de ir à procura das notícias."

Ricardo Costa - Diretor de Informação da Impresa (SIC)

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"Espero que não seja um discurso consequente"

"Dou sempre desconto a declarações de presidentes de clubes em assembleias gerais. Mas o de Bruno de Carvalho é perigoso. Espero que não seja consequente. Não podemos deixar que afete o nosso trabalho de jornalistas."

Carlos Rodrigues - Diretor-executivo do CM e da CMTV

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"É um atentado contra o direito à informação"

"Trata-se de um ataque ao direito à informação, constitucionalmente consagrado. O CM e a CMTV vão continuar a fazer o seu trabalho de dar notícias, ao serviço dos leitores e dos espectadores, sem olhar a cores nem a pressões."

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"Não há qualquer crime" 

Rui Pereira - Professor universitário 

Poderá ser imputado algum crime a Bruno de Carvalho, face às últimas declarações?

Rui Pereira – De acordo com a lei, Bruno de Carvalho não cometeu nenhum crime, porque não está previsto nem na lei da imprensa nem na lei da televisão.

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- Como assim?

– Para ser crime, Bruno de Carvalho tinha que ter apreendido publicações ou danificado materiais essenciais à atividade jornalística. É o que diz a lei, ainda que as declarações signifiquem um ‘boicote’ à liberdade de imprensa e tenham gerado reações de violência por parte dos adeptos aos jornalistas. Não há qualquer crime.

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